‘Sementes podres’: sobre como educar, cuidar, dar atenção e oportunidade aos jovens
Vale a pena ver na Netflix: SEMENTES PODRES (Mauvaises herbes)
Nota 9
Em tempos de pandemia gravíssima de coronavírus sendo tratada com chacota pelo presidente da República e de gente saindo às ruas pedindo intervenção militar e fechamento do STF e do Congresso Nacional, fica difícil colocar as ideias no lugar e pensar que existe alguma luz no fim do túnel. O mundo parece definitivamente um lugar perdido, com todas essas pessoas andando para trás, dizendo que a Terra é plana e que vacina faz mal pra saúde, com todas essas pessoas querendo acabar com as liberdades de comunicação, de expressão, de pensamento e de arte, com pessoas pensando com o fígado em vez de usar a cabeça.
Confesso que no último fim de semana senti uma ansiedade enorme afundando meu peito, um quase-pânico de tanto ler notícias ruins e de ver as coisas péssimas acontecendo diante dos meus olhos mesmo.

Só teve uma hora em que consegui de verdade me desligar de tanto negativismo e me conectar com meu lado otimista de sempre: quando assisti a este belíssimo filme do cineasta iraniano e francês Kheiron.
“Sementes Podres” me fez relembrar que o mundo ainda não está perdido porque existem pessoas em fase de aprendizado e porque todas as pessoas, mesmo as mais velhas e obstinadas em suas ideias, também podem mudar em algum momento. Mas são os jovens e crianças que estão mais abertos a experimentar coisas novas. E mesmo aqueles apontados pela sociedade como “sementes podres”, pessoas ruins, sem conserto, que devem ser expulsas da escola ou presas, podem crescer, fazer e acontecer quando conseguem uma coisinha muito especial que não chega fácil para todo mundo: oportunidade.

O filme é sobre um ex-garotinho de rua, o Wael, que perdeu a família na guerra quando ainda era muito novo, e teve que aprender a se virar desde cedo. E é sobre como esse mesmo Wael, anos depois, consegue inspirar um grupo de estudantes adolescentes que tinha sido expulso do colégio pelos motivos mais variados.
Apesar de tocar em assuntos duríssimos, o grande mérito deste filme é fazer isso com leveza e até humor. Durante os 100 minutos, eu chorei, eu ri, eu gargalhei. É tocante e engraçado ao mesmo tempo. E nos faz pensar sobre como a educação dos jovens é necessária – fundamental – para termos adultos melhores no mundo. Sobre como educar é um processo de mão dupla, em que o professor aprende tanto quanto ensina. Sobre como até os problemas mais cabeludos podem ser suavizados, com tempo, atenção e cuidado devidos.
(E também como, quando essa atenção não é dada, podem descambar para uma tragédia.)

Este é o segundo longa-metragem de Kheiron, que, além de dirigir, também é o roteirista e interpreta o protagonista Wael. O primeiro filme que ele fez, “Nós ou Nada em Paris“, já conseguiu uma indicação ao César, que é um dos principais prêmios do cinema mundial. Este segundo já conseguiu ser lançado pela Netflix e ainda conta com a participação dos veteraníssimos atores franceses Catherine Deneuve e André Dussollier.
Aguardo ansiosamente pelo próximo filme de Kheiron, porque precisamos de ideias como as dele para sobrevivermos nesta selva da vida adulta.
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
Oi Kika… Gostei muito desse filme, cliquei nele por um acaso e achei muito bom mesmo… Seu texto retrata muito fielmente a mensagem desse filme, que é simples e muito bom… E Seu blog também é muito bom, eu o achei tempos atrás quando fazia pesquisas sobre o filme do menino maluquinho, e seus textos são muito legais, gosto de ler o que vc escreve…Parabéns!!!
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Oi Lito! Obrigada pelas palavras gentis! Volte sempre;)
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