‘O Primeiro Homem’: um herói americano, ou não

Vale a pena assistir: O PRIMEIRO HOMEM (First Man)
Nota 7

Não foi à toa que deixei para ver este filme quase por último. É que não sou lá muito fã de histórias de astronautas, esta é a verdade. Sempre gostei muito mais da “Viagem ao Centro da Terra”, ou da “Volta ao Mundo em 80 Dias” do que do clássico “Da Terra à Lua”, de Julio Verne. É por uma questão meramente de gosto, portanto, que não consigo dar muito mais do que uma nota 7 a “First Man”, mesmo ele tendo cumprido todos os requisitos para um bom filme de biografia.

A direção do prodígio Damien Chazelle (La La Land e Whiplash) é impecável. O roteiro, baseado na obra do biógrafo de Neil Armstrong, James R. Hansen, segundo consta, é o mais acurado possível. A atuação de Ryan Gosling é, como sempre, perfeita. Claire Foy, que interpreta sua mulher, também está ótima – ela é responsável por gerar o contraste entre o que a corrida espacial estava tentando fazer e o que a vidinha terrestre exigia naquele momento. Apesar disso tudo, “O Primeiro Homem” só concorre a prêmios técnicos no Oscar: efeitos visuais, edição de som, design de produção e mixagem de som.

Mas, para mim, o maior mérito deste filme é a honestidade na construção da imagem de um dos grandes heróis norte-americanos, ao nos fazer conhecer um Armstrong que nada tem de heróico realmente – que era bastante obstinado, severo, às vezes perturbado, humilde e esforçado. São alguns adjetivos que, embora não representem tampouco um anti-herói, não costumam ser atribuídos aos heróis de cinema, convenhamos. Passamos estas mais de duas horas de sessão experimentando o medo que aqueles astronautas sentiam em missões que resultavam muitas vezes em mortes prematuras. A ida à lua, naquele 1969, era praticamente um suicídio. Tudo dentro de um programa que era muito mais político do que realmente científico. Contestadíssimo nas ruas dos Estados Unidos. Mas que resultou – e todo mundo sabe o final – em um passo histórico.

Aqui cabe destacar um spoiler que você pode ficar à vontade para saltar, indo direto ao próximo parágrafo. Mas é que os produtores do filme optaram por não colocar aquela cena de Neil e Buzz fincando a bandeira dos Estados Unidos no solo lunar. E a explicação que Ryan Gosling deu para isso diz muito da intenção do filme, que elogiei há pouco: “O feito transcendeu países e fronteiras… Eu acho que isso foi amplamente considerado no final como uma conquista humana [e] foi assim que escolhemos vê-lo. Eu também acho que Neil foi extremamente humilde, assim como muitos desses astronautas, e muitas vezes ele retirou o foco de si mesmo para voltá-lo às 400.000 pessoas que tornaram a missão possível. Eu não acho que Neil se via como um herói americano. De minhas entrevistas com sua família e pessoas que o conhecia, era exatamente o oposto. E queríamos que o filme refletisse Neil.”

Penso que, no final, algumas cenas se delongaram demais, alguns diálogos foram técnicos demais, alguns silêncios foram incômodos demais. Mas essa narrativa foi construída para nos permitir entender um pouco dessa personalidade sisuda e obstinada que pode ter sido decisiva para o sucesso de Apollo 11, contra todas as expectativas da própria Nasa. Confesso que terminei o filme ainda sem entender muito bem quem foi e o que queria Neil Armstrong. Ou mesmo Janet, sua mulher. Terá alguém conseguido algum dia?

Assista ao trailer do filme:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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