Prometo, é pior do que você pensa

Texto escrito por José de Souza Castro:

O blog do historiador mineiro Ricardo Faria traz resumo do artigo publicado no dia 10 de julho pela “New York Magazine”, intitulado “The Uninhabitable Earth”. Escrito pelo jornalista David Wallace-Wells, que entrevistou cientistas renomados, o artigo despertou em todo o mundo grande interesse, até mesmo pela importância da revista. O blog publica resumo do artigo de mais de 7.560 palavras. O resumo (2.100 palavras) é de autoria de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas. Vou fazer um resumo do resumo, na esperança de interessar os leitores deste blog para um assunto vital.

Havendo interesse, o artigo de Diniz Alves pode ser lido também no site EcoDebate e o artigo original AQUI. Wallace-Wells começa deste modo sua reportagem: “It is, I promise, worse than you think (Prometo, é pior do que você pensa). O jornalista prevê uma catástrofe climática, até o fim do século, se nada for feito para mudar os rumos da insustentabilidade do crescimento econômico.

“Provavelmente, a Terra não ficará desabitada”, resumiu Diniz Alves, “mas a qualidade de vida da população mundial poderá reduzir bastante em um Planeta degradado”. O mundo de estabilidade climática que conhecemos nos últimos 10 mil anos vem se alterando rapidamente.

De acordo com Wallace-Wells, traduzido por Diniz Alves, “a ansiedade sobre os efeitos do aquecimento global em relação à elevação do nível do mar é justificável, mas apenas arranha a superfície dos horrores que podem acontecer no espaço de tempo da vida de um adolescente de hoje. A elevação do nível dos oceanos é ruim, muito ruim, mas fugir do litoral é um problema menor. Na ausência de um ajuste significativo de como bilhões de seres humanos produzem e consomem, partes da Terra provavelmente se tornarão inabitáveis e outras partes ficarão terrivelmente inóspitas, antes do final deste século”.

Entre as mudanças climáticas, viu-se que no último inverno no Polo Norte a temperatura local ficou por vários dias entre 60 e 70 graus [Celsius] mais quentes do que o normal, derretendo o permafrost, que era um solo permanentemente congelado. Nele, no Ártico, estão contidos 1,8 trilhão de toneladas de carbono, mais do dobro do que atualmente está suspenso na atmosfera terrestre. “Quando se descongela e é liberado, esse carbono pode evaporar-se como o metano, que é 34 vezes mais poderoso do que o CO2. Ou seja, mesmo que a humanidade pare de emitir gases de efeito estufa nas atividades industriais e nos automóveis, o efeito feedback do metano do permafrost pode elevar a temperatura a níveis infernais”, descreve o autor.

Não para aí. A ocupação, dominação e exploração humana sobre os ecossistemas, juntamente com o efeito estufa e a acidificação dos solos e das águas provocam extinção em massa de espécies. Mais: as ondas de calor “estão tornando a vida impossível em algumas regiões, pois em temperaturas muito altas, dentro de horas, um corpo humano seria cozido até a morte por dentro e por fora”. É inclemente esse Armagedon:

“Desde 1980, o planeta experimentou um aumento de 50 vezes no número de locais com calor perigoso ou extremo. Um aumento maior virá em breve. Os cinco verões mais quentes da Europa desde 1500 ocorreram desde 2002 e, em breve, simplesmente estar ao ar livre nessa época do ano será insalubre para grande parte do globo”.

Wallace-Wells também é impiedoso:

“Mesmo que atingindo os objetivos de Paris de dois graus de aquecimento, cidades como Karachi e Calcutá se tornarão próximas a inabitáveis. A crise será mais dramática no Oriente Médio e no Golfo Pérsico, onde, em 2015, o índice de calor registrou temperaturas tão altas que a sensação térmica chegou a 163 graus Fahrenheit (72º C). Assim, num futuro próximo, o Hajj se tornará fisicamente impossível para os 2 milhões de muçulmanos que fazem a peregrinação a cada ano a Meca”.

Azar dos muçulmanos? Sim, mas os sinos tocam por todos nós. Pois, “nas culturas de cereais os rendimentos da colheita diminuem 10% para cada grau de aquecimento. O que significa que, para uma população de 11 bilhões de habitantes, poderemos ter 50% menos de grãos para oferecer. E o efeito do aquecimento global sobre as proteínas animais será pior. A perda de solos será dramática, especialmente nos trópicos. A seca pode ser um problema ainda maior do que o calor, com algumas das terras mais aráveis do mundo passando rapidamente para o deserto. O quadro já é preocupante hoje, com a ONU alertando de que 20 milhões de pessoas podem morrer de fome na Somália, Sudão do Sul, Iêmen e Nigéria”, diz David Wallace-Wells.

Como aperitivo do que nos reserva o futuro, parece suficiente. Paro por aqui, mas você, querendo, pode ir em frente, pois tem muito mais à sua espera nessa bola de cristal do jornalista de Nova York.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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