Uma narrativa em forma de teia de aranha

heroi

Os personagens: uma adivinha, um transportista metódico, gêmeos meio gângsters, um ricaço vingativo, um delegado boca-suja, um adolescente com visões assustadoras, um diabo elegante, um padre ciclista, um aposentado erudito e amante das artes, um sargento que não aceita suborno, um motorista leal, e assim por diante. Vão se desfiando em nossa frente, uma página após a outra, numa intrincada história que corre sempre em paralelos.

Num lado, cartas ameaçadoras, assinadas por anônimos e ilustradas com desenhos de aranhinhas, quebram a tranquilidade da vida do transportista fleumático. Em Piura, no Norte do Peru, país de origem de Mario Vargas Llosa.

Em paralelo, um escândalo de família vira assunto em Lima inteira.

E a gente pressente, por todo o livro, que essas duas histórias se cruzarão. Quando? Como?

Llosa conduz o fio da meada (ou os fios) com um suspense digno dos livros policiais. O fim de cada capítulo nos deixa aflitos para seguir com a leitura.

Mais que isso: ele entrelaça diálogos, ocorridos em tempos diferentes, como se fossem simultâneos. Uma pessoa pergunta, outra responde para uma terceira pessoa, em diálogo ocorrido antes, e a primeira pessoa volta a retrucar. Isso acontece em vários momentos do livro e nunca ficamos perdidos: se não é um domínio de narrativa fantástico, não sei como chamar esse talento.

Assim, “O Herói Discreto” tem personagens cativantes + histórias que prendem + narrativa maravilhosa. Com esses três ingredientes, posso dizer que foi um dos melhores livros que já li, que entra agora na minha estante de favoritos.

“O Herói Discreto”
Mario Vargas Llosa
Ed. Alfaguara
342 páginas
De R$ 14 a R$ 39,90

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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