
Charlys saiu mais cedo de casa
— não voltou.
Hanna iria à Fan Fest hoje
Mas a Copa acabou.
Não era moto, era um Uno Vivace
Que levou 15 horas para sair
Charlys ia passar às 15h
Para fazer sua mulher sorrir.
Mas o que caíram foram lágrimas
Porque a pequena de Hanna
Fará 6 anos de idade
Sem o abraço da mama.
Prefeito que diz não ser babá
Diz também que foi acidente
“É normal”, “acontece”, anota lá
Mas é claro que muito se sente.
(Caiu pedaço de viaduto!
Já se viu tal absurdo?)
“Não quero avançar em responsáveis”,
Que ninguém sabe mesmo quem são
Fiscais, engenheiros, a Copa?
A pressa, a corrupção.
O que sei é que Hanna e Charlys
Tinham 24 e 25 anos
E as outras 22 vítimas
Terão toda uma vida de danos.
E uma cidade inteira
Perdeu a fé em seu próprio chão
“Debaixo de viaduto não passo”
Escuto do cabreiro povão.
Para mim, a Copa acabou
Perdi a vontade de torcer
E, se antes a Seleção chorou,
Agora quem chora sou eu e você.
Era verdade mesmo, então:
Brasil não merece evento-celebração
Porque só levou 22 dias
Pra festa virar decepção.
04.07.2014
***
Escrevi o poema acima em homenagem às vítimas da tragédia do viaduto da avenida Pedro I, no dia 3 de julho de 2014, em BH, que é parte das obras de mobilidade da Copa do Mundo. Os links dentro do poema direcionam a reportagens importantes sobre o “acidente” e seus principais responsáveis. Todas as reportagens são do jornal “O Tempo” — que fez, disparado e sem qualquer suspeita da minha parte, a cobertura mais completa da tragédia, sob todos os pontos de vista.
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Belo poema para o inacreditável. Até agora é difícil aceitar que algo assim ocorreu.
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Difícil demais 😦
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