As melhores fotos do mundo (ou não)

Na semana passada saiu o resultado do World Press Photo, o prêmio mais importante de fotojornalismo do mundo.

Os editores de fotografia da “Folha”, Cassiana Der Haroutiounian e Daigo Oliva, fizeram uma boa análise dos premiados em seu blog, Entretempos. Falam do conservadorismo da seleção, que destacou muito mais as fotos clássicas de guerra e de conflitos urbanos, em vez das mais criativas, diferentes ou bem-humoradas, como já ocorreu em edições anteriores do prêmio.

Mas o que mais incomoda, na minha opinião, é o excesso de Photoshop de algumas fotos, inclusive da que levou o prêmio principal:

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Paul Hansen, Suécia, Dagens Nyheter

Os editores da “Folha” só tocam de leve nesse tema, em uma frase: “Outro ponto negativo, ao menos na opinião do blog, é o tratamento de imagem forçadíssimo presente em muitos ensaios, como se estivéssemos olhando para telas de videogame.”

O jornalista Beto Trajano já tinha comentado comigo esses dias: “Parece que estamos diante de uma modelagem de 3D, de tão artificial.”

E o pior é que várias são as fotos deste concurso que estão com o mesmo aspecto, por excesso de Photoshop. O que nos leva a questionar o futuro da fotografia: Será que estamos premiando aqueles que fizeram um recorte do mundo, usarando técnicas de luz, velocidade e tempo para trazer um olhar diferente, ou aqueles que capturaram uma bela cena e a artificializaram completamente com um programa de computador?

Por outro lado, vejam que beleza esta foto do único brasileiro premiado do WPP:

Felipe Dana, da Associated Press, fotografa Natália, uma usuária de crack de 15 anos, no Rio.
Felipe Dana, da Associated Press, fotografa Natália, uma usuária de crack de 15 anos, no Rio.

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

5 comments

  1. A foto premiada está parecendo um quadro de Goya… Mas sua preocupação, Cris, não tem razão de ser, quando se imagina que uma fotografia é uma representação da realidade. Na verdade, será que alguma vez ela conseguiu reproduzir essa realidade? O que ela apresenta sempre foi o resultado de uma tecnologia. E quanto mais avançada essa tecnologia presente numa máquina fotográfica, mais ela aproxima, assim tendemos a pensar, a imagem da realidade. Mas que realidade é essa? Ela não depende do cérebro de cada um, para ser apreendida e compreendida? Nesse caso, o Photoshop e, antes, a máquina fotográfica e, antes ainda, o olho do observador, não seriam, igualmente, instrumentos auxiliares da mente? O próprio jornalismo que tenta captar a realidade não escapa dessas circunstâncias, né mesmo? Não fosse assim, não haveria sentido em considerar que alguém é bom ou mau repórter.

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  2. A revogação do prêmio foi justa. Por controvertida razão estética, a figura do juiz da luta foi eliminada da foto premiada, prejudicando a narrativa jornalística que se espera de uma foto publicada em jornal. O Photoshop vai contribuir muito ainda, acredito, para fazer sumir numa foto histórica a imagem do amigo de um ditador que depois se torna seu inimigo. Dá menos trabalho que o recorte de figuras, como nos tempos de Stalin: http://veja.abril.com.br/191197/p_062.html

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