Na semana passada saiu o resultado do World Press Photo, o prêmio mais importante de fotojornalismo do mundo.
Os editores de fotografia da “Folha”, Cassiana Der Haroutiounian e Daigo Oliva, fizeram uma boa análise dos premiados em seu blog, Entretempos. Falam do conservadorismo da seleção, que destacou muito mais as fotos clássicas de guerra e de conflitos urbanos, em vez das mais criativas, diferentes ou bem-humoradas, como já ocorreu em edições anteriores do prêmio.
Mas o que mais incomoda, na minha opinião, é o excesso de Photoshop de algumas fotos, inclusive da que levou o prêmio principal:

Os editores da “Folha” só tocam de leve nesse tema, em uma frase: “Outro ponto negativo, ao menos na opinião do blog, é o tratamento de imagem forçadíssimo presente em muitos ensaios, como se estivéssemos olhando para telas de videogame.”
O jornalista Beto Trajano já tinha comentado comigo esses dias: “Parece que estamos diante de uma modelagem de 3D, de tão artificial.”
E o pior é que várias são as fotos deste concurso que estão com o mesmo aspecto, por excesso de Photoshop. O que nos leva a questionar o futuro da fotografia: Será que estamos premiando aqueles que fizeram um recorte do mundo, usarando técnicas de luz, velocidade e tempo para trazer um olhar diferente, ou aqueles que capturaram uma bela cena e a artificializaram completamente com um programa de computador?
Por outro lado, vejam que beleza esta foto do único brasileiro premiado do WPP:

A foto premiada está parecendo um quadro de Goya… Mas sua preocupação, Cris, não tem razão de ser, quando se imagina que uma fotografia é uma representação da realidade. Na verdade, será que alguma vez ela conseguiu reproduzir essa realidade? O que ela apresenta sempre foi o resultado de uma tecnologia. E quanto mais avançada essa tecnologia presente numa máquina fotográfica, mais ela aproxima, assim tendemos a pensar, a imagem da realidade. Mas que realidade é essa? Ela não depende do cérebro de cada um, para ser apreendida e compreendida? Nesse caso, o Photoshop e, antes, a máquina fotográfica e, antes ainda, o olho do observador, não seriam, igualmente, instrumentos auxiliares da mente? O próprio jornalismo que tenta captar a realidade não escapa dessas circunstâncias, né mesmo? Não fosse assim, não haveria sentido em considerar que alguém é bom ou mau repórter.
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Tem razão, mas sinto falta de fotos em que as pessoas não parecem videogame e seus rostos não parecem de borracha…
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Vejam esta: prêmio de fotografia é revogado por uso exagerado de Photoshop: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/02/premio-de-fotografia-e-revogado-pelo-uso-exagerado-do-photoshop.html
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A revogação do prêmio foi justa. Por controvertida razão estética, a figura do juiz da luta foi eliminada da foto premiada, prejudicando a narrativa jornalística que se espera de uma foto publicada em jornal. O Photoshop vai contribuir muito ainda, acredito, para fazer sumir numa foto histórica a imagem do amigo de um ditador que depois se torna seu inimigo. Dá menos trabalho que o recorte de figuras, como nos tempos de Stalin: http://veja.abril.com.br/191197/p_062.html
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hehehe, sem dúvida! Já vi essas “retiradas de pessoas” antes, inclusive em jornais respeitados, que depois deram a maior complicação…
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