Sobre as sacolas plásticas e os supermercados

Para quem não é de São Paulo: desde ontem, os supermercados daqui não oferecem mais sacolinhas plásticas para transporte das mercadorias. Ou eles vendem sacolas “recicláveis” bem mais caras, ou o consumidor deve levar a própria sacola/carrinho/caixa para embalar os produtos. Ao contrário do que ocorreu em Beagá, onde uma lei proibiu as sacolinhas em todos os estabelecimentos, causando um impacto maior do ponto de vista ecológico e obrigando as pessoas a se adaptarem sem plástico, aqui o que houve foi um “acordo” entre as redes de supermercados (e apenas elas) e o governo. As sacolinhas continuarão a ser oferecidas, numa boa, em outras lojas, nas padarias, açougues etc.

Recebi o texto abaixo do José Almeida Sobrinho, que é especialista em trânsito mas aqui escreve como um paulista querendo desabafar.

Concordo com muito do que ele diz, principalmente porque os benefícios ambientais do “fim” das sacolinhas plásticas nos supermercados paulistanos (e apenas neles, não em todos os outros estabelecimentos, como ocorreu em Beagá) são questionáveis, já que elas já eram reutilizadas pelos consumidores para descarte de lixo.

Por outro lado, os benefícios econômicos para os próprios supermercados devem ser gigantescos, já que o preço das sacolinhas era embutido no valor das mercadorias e agora, com o fim desse transporte “gratuito” das mercadorias, o valor delas será reduzido? Claro que não. Os supermercados não terão mais o ônus de fornecer sacolinhas (que nem era bem um ônus, já que o custo era repassado ao consumidor), e ficarão com o bônus da venda de outros tipos de sacolas e com o dinheiro “extra” que não será descontado dos produtos.

A única vantagem clara que vejo nesse “acordão” é a de trazer à tona o debate ecológico e propiciar algum tipo de educação, na marra, sobre o uso racional dos materiais não-recicláveis. E, desse uso racional, certamente virão números positivos para o planeta.

Mas vamos ao texto do Sobrinho:

“Sem dúvida um alto negócio para os supermercados e produtores de sacolas reutilizáveis a edição da Lei Estadual que proíbe a distribuição de sacolas descartáveis nos supermercados.

É interessante notar que a proibição atinge exclusivamente os supermercados, enquanto as lojas, padarias, mercearias, frutarias, casas de carne, peixarias e tantos outros estabelecimentos que comerciam gêneros de primeira necessidade ou não, podem continuar a distribuir as “pecaminosas” sacolinhas descartáveis para transporte de seus produtos… Interessante isso.

Nos próprios supermercados, é proibido distribuir sacolas grátis aos clientes, mas as frutas são acondicionadas em sacos plásticos, os cereais já vêm do fornecedor em sacos plásticos, o pão é vendido em sacos plásticos ou de papel (que nem é mencionado como alternativa à proibição), quase todos os produtos vendidos nos mesmos supermercados são embalados em plástico… Interessante isso também.

Sou contra essa medida discriminatória, por mais que os supermercados tenham aplaudido, e me nego a aceitá-la pacificamente, portanto, já mudei meus hábitos relativamente às compras.

Não compro nos supermercados mais nada que possa comprar em outro lugar, assim, o pão é na padaria, as verduras e frutas na frutaria, a carne e frango na casa de carnes, o peixe na peixaria (notei que todos têm melhor qualidade que nos supermercados) e assim por diante. Aquilo que sou obrigado a comprar no supermercado por falta de opção; faço-o pela internet, assim o problema da embalagem passa a ser deles.

Essa é minha forma de protestar contra essa medida de extrema hipocrisia e de profundo oportunismo econômico.”


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

12 comments

  1. Eu me recuso a comprar sacolinhas. Uso caixas de papelão, ou se o supermercado não as fornecer, deixo as mercadorias no caixa e digo, “então não pago” e vou embora, faço as compras no supermercado ao lado (tenho sorte de morar em uma região com três Verdemar, três MartPlus, um SuperNosso, um Carrefour e um Extra, tudo num raio de 5km). Uma vez que eu fiz isso em cada supermercado e eles sempre guardam uma caixa de papelão “para os encrenqueiros”.
    Ainda assim, aqui em casa formou-se uma coleção daquelas famosas sacolas retornáveis (que a gente compra porque são bonitas, porque a gente acha que vai usar de novo para outros fins etc). Só que se você não lembrar de deixar as retornáveis no carro E de levá-las para dentro do supermercado no início das compras…

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      1. Meus pais estavam usando aquelas sacolas de sacolão, que acho que ainda são a única exceção aí em BH…
        Pagar R$ 20 mensais pra comprar uma sacola que não é biodegradável (como se propaga) só para colocar o lixo da casa é de doer, né?

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  2. Cris, pelas fotos que vi das tais sacolinhas paulistas de 59 centavos, são as mesmas vendidas nos supermercados, padarias e sacolões (que os paulistas chamam de frutarias) aqui em BH por 19 centavos. Tá certo: paulistano é mais rico que belorizontino. Os camelôs daqui podem descobrir um novo comércio: encher uma caminhonete com essas sacolinhas e vender aí nas portas dos supermercados pelo dobro do preço, ou 40 centavos. Vão ganhar dinheiro… Falando sério: o que aconteceu aí é o mesmo que aqui: um lobby poderoso dos fabricantes das tais sacolinhas de amido de milho. As quais, como já se sabe, não degradam rapidamente, por inteiro, no meio ambiente. No futuro, em vez de um monte de sacolinhas de lixo que duram centenas de anos, nosso solo estará repleto de um monte de confetes de plástico que duram o mesmo tempo.

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    1. É bem grave isso tudo… Para o ambiente e para nossos bolsos.
      Realmente, como eu disse, a única coisa que acho positiva nisso tudo é uma mínima conscientização que está sendo levantada para um uso mais racional dos plásticos. Porque antes era comum ver pessoas jogando saco plástico “fora”, dentro de outro saco plástico. Agora as pessoas têm mais parcimônia e aproveitam melhor o bem não-reciclável.

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      1. Cris, sacolão não é exceção. Ele também cobra 19 centavos pela sacola de milho, como os supermercados e as padarias. Agora usamos aquelas sacolas marrons ou pretas vendidas em supermercados, para o lixo.

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  3. Já que iniciei a conversa me atrevo a “palpitar” mais uma vez:
    Sou totalmente a favor de qualquer medida que venha contribuir para melhoria e conservação da qualidade de vida e do meio ambiente, porém o que vejo neste caso é exatamente o que foi dito por você José, um lobby da Associação dos Supermercados com os fabricantes de sacolas ditas biodegradáveis para venderem, ou seja, para faturarem também sobre as sacolas. Nenhuma intenção de melhorar o meio ambiente está embutida nessa negociação, salvo o interesse das Prefeituras em reduzir o custo dos “lixões” (reduzir o custo, não para torná-los menos poluentes e degradantes). Assim, acho uma medida hipócrita, que sob o manto do motivo ambientalista esconde a exclusiva intenção de lucrar.
    Apoiarei de pronto qualquer medida, mesmo que imposta, que tenha como objetivo a verdadeira preservação ambiental, mas não suporto ser enganado tão descaradamente.

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  4. Acho que é um discurso vazio… o problema não é a sacolinha… o lixo vai ter que ir embalado de alguma forma. O problema é cultural (como “n” coisas no Brasil). Se não for com a sacolinha vai ser no saco preto de lixo… uma posição muito questionável da APAS (com muitos interesses escusos)… penso que se tivessem interesse em defender o meio ambiente, com certeza teriam ações positivas mais eficazes (angariar fundos para educação ambiental, indústria de reciclagem, etc).
    A grande verdade é que viram a grande oportunidade de vendas das sacolinhas.
    Enfim… nós é que pagamos o pato, digo o saco…
    http://blogdoantiquado.blogspot.com/2012/04/supermercados-x-fabricas-de-sacolinhas.html

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