- Texto escrito por José de Souza Castro
“Ação policial mais letal no Rio deixa 64 mortos“.
A manchete da “Folha de S.Paulo” desta quarta-feira (29) perdeu a validade horas depois, quando se descobriu que 70 corpos retirados por moradores da mata vizinha do Complexo do Alemão não estavam contabilizados nesse número.

Às 16 horas já havia notícia de que o número de mortos na operação policial poderia passar de 130.
Isso é comum em tragédias incomuns. Causa estranheza, porém, que tantos mortos tivessem sido encontrados por moradores das favelas e retirados sem serem importunados pela polícia, inclusive quando se dão ao trabalho de enfileirar os corpos quase nus na Praça S. Lucas.

Nos melhores romances policiais, isso nunca ocorreria, pois os corpos, até que chegassem os peritos, seriam mantidos sob severa vigilância.
Não ouvi explicação sobre isso, e sim ameaças aos moradores dos complexos do Alemão e da Penha autores da façanha. A Polícia Civil ameaçou com processo por terem interferido na cena do crime. Foram acusados de terem despido os corpos dos disfarces usados pelos traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV).
O secretário da Segurança Pública do Rio, Victor Santos, delegado da Polícia Federal aposentado, defendeu em entrevista à Globonews que a operação foi um “sucesso”, apesar da morte de quatro policiais, mas admitiu que Edgard Alves de Andrade, o Doca, principal alvo pela sua importância no CV, tinha escapado.
No momento da entrevista, ainda se falava em 119 pessoas mortas e 113 presas. Todas ligadas ao Comando Vermelho, segundo Santos, apesar de não ter ainda os nomes dos “traficantes”, um processo burocrático que deve demorar ainda para ser concluído, avisou.
- Leia mais: Castro diz que ‘só morreram 4 inocentes’, mas polícia admite não ter identificado ninguém
No resto, Santos estava bem munido de estatísticas. O planejamento da megaoperação demorou mais de um ano, foram cumpridos 180 mandados de busca e apreensão, e um quarto dos habitantes do Rio moram em favelas.
Garantiu que às 5h30 de terça-feira (28) todas as lideranças do Comando Vermelho que estavam presas perderam seus contatos com os demais membros da organização criminosa. “Foram neutralizados”, disse, livrando-os da responsabilidade de terem enviado um drone para despejar granadas sobre a população das favelas.
O ex-delegado da PF demonstrou não saber quem são os que mandam de fato no Comando Vermelho, morando talvez em mansões em bairros importantes do Rio. Disse que a tarefa agora é “buscar o dinheiro”. Não será tarefa fácil, pois, segundo ele, o CV está presente em 25 Estados.
Essa novela ainda vai longe e ninguém garante que terá final feliz.
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Da Folha de S. Paulo hoje:
“A operação policial mais letal da história do Rio, que deixou ao menos 121 mortos na terça-feira passada (28), foi vista como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana da cidade. Outros 39% pensam o contrário.
A avaliação havia sido feita pelo governador Cláudio Castro (PL), ao comentar a ação contra a facção criminosa Comando Vermelho, que desencadeou um forte embate político entre as forças políticas de direita e o governo Lula (PT) acerca do manejo da segurança pública na cidade e no país. O dado foi aferido pelo Datafolha em uma pesquisa feita por telefone com 626 eleitores, ouvidos na quinta (30) e na sexta (31). A margem de erro para o total da amostra é de quatro pontos percentuais para mais ou menos, o que permite dizer que a maioria dos entrevistados aprovou a ação.”
Ou seja, a estratégia política do governador para se eleger senador parece ser um sucesso.
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