- Texto escrito por Cristina Moreno de Castro
No mês de setembro, li apenas três livros. E dois deles foram de contos. Aliás, dos 50 livros que li até o dia 30 de setembro, 8 foram de contos (16%!). Isso é bastante para quem sempre preferiu ler romances.
É que, de uns tempos pra cá, tenho gostado bastante das histórias mais curtas. Não que as histórias dos dois livros lidos em setembro fossem realmente curtas. “Com Sangue”, de Stephen King, tem quatro contos, um deles com quase 200 páginas (!). E “Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento”, de Alice Munro, que já é longo desde o título, tem 9 histórias – duas delas com mais de 50 páginas.
Resolvi juntar num mesmo post estes dois livros que não têm nada em comum, a não ser pelo fato de serem bons livros de contos 😉 Ficam sendo minhas sugestões de leitura da vez.
‘Com Sangue’, de Stephen King: o livro que deu origem ao filme ‘A Vida de Chuck’
Gostei tanto do filme “A Vida de Chuck” que resolvi pegar na biblioteca o livro do Stephen King que foi usado como base para o roteiro do filme: “Com Sangue”.
Foi só aí que me dei conta de que eu nunca tinha lido nenhum livro do Stephen King, dentre os mais de 50 que ele já publicou (!), embora já tenha assistido a (e também adorado) vários outros filmes inspirados nas obras dele, como À Espera de um Milagre, Um Sonho de Liberdade, Conta Comigo, O Apanhador de Sonhos e Janela Secreta.
“Com Sangue” tem quatro contos longos:
- O telefone do Sr. Harrigan (de 81 páginas), que também virou filme e está na Netflix,
- A vida de Chuck (57 páginas),
- Com sangue (167)
- e Rato (81).
Eu adorei todos, principalmente os três menores. A primeira coisa que notei é que King escreve de um jeito que lembra mesmo um roteiro de cinema. Ele nos prende do início ao fim, mas sem firulas nem enrolações, descrevendo as cenas objetivamente, com maestria, como se estivesse passeando entre as palavras.
A segunda coisa é que ele também percorre com facilidade a fronteira entre a realidade e a fantasia, dominando o realismo fantástico como poucos. Todos esses contos têm elementos sobrenaturais, em maior ou menor medida.
Embora ele seja mais conhecido por seus livros de terror, King também abraça outros temas, como na maioria dos filmes que eu já assisti baseados na obra dele. E nesta coletânea o terror está longe de ser preponderante.
Claro, tem também alguns elementos desse gênero, principalmente no conto-novela “Com sangue”, mas tem ainda mais a reflexão sobre o universo e a vida, tão presente em “A Vida de Chuck”, e sobre a amizade, que é o mote principal do “Telefone do Sr. Harrigan” – que também aborda a evolução da tecnologia e seu impacto na sociedade.
“Rato” trata bastante do processo criativo de um escritor, que é um assunto que muito me interessa, ainda mais quando estou diante de um tão prolífico quanto Stephen King, que publicou uma média de 1 livro por ano.
Em sua “nota do autor”, King fala um pouco sobre esse processo criativo e de onde surgiram as ideias para os quatro contos. Trechinhos:
- O telefone do Sr. Harrigan: “As histórias seguem o caminho que querem, e a diversão de verdade dessa, para mim, foi voltar para uma época em que os celulares em geral e o iPhone em particular eram novos, e todas as ramificações deles nem tinham sido identificadas”.
- A Vida de Chuck: “O que posso dizer é que sempre senti que cada um de nós, desde reis e príncipes do reino aos caras que lavam pratos na Waffle House e as garotas que trocam os lençóis nos hotéis de beira de estrada, contém o mundo todo.”
- Com Sangue: “Comecei a reparar que alguns correspondentes de noticiário da TV sempre parecem surgir nos locais de tragédias horríveis (…). Essas histórias quase sempre lideram os noticiários locais e nacionais; todo mundo do ramo conhece o axioma ‘Qualquer notícia com sangue vende’.”
- Rato: “pareceu um conto de fadas maligno e me deu a chance de escrever um pouco sobre os mistérios da imaginação e como isso se traduz na página.”
Quem me dera ter a mesma capacidade de King para imaginar mundos e situações tão fantásticos como os presentes nesses quatro contos. Achei cada história melhor que a outra, e devorei este livro em pouquíssimo tempo, inclusive interrompendo a leitura dos contos de Alice Munro para adentrar nesse universo mágico.
Não satisfeita, ainda resolvi comprar um exemplar para mim, mesmo podendo voltar a pegá-lo emprestado na biblioteca no futuro. Algumas obras merecem, de verdade, estar nas nossas prateleiras de casa mesmo.
“Com Sangue” (If it bleeds)
Stephen King
ed. Suma
400 páginas
R$ 73,13 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
‘Ódio, amizade, namoro, amor, casamento’, de Alice Munro
Eu já tinha lido dois livros da prêmio Nobel Alice Munro: “Vida Querida”, em 2015, e “Amiga de Juventude“, em 2022. Gostei dos dois (cataloguei como “Ótimo” e “Muito Bom”, respectivamente), e fiquei com vontade de ler este terceiro depois de vê-lo na lista dos melhores livros do século 21. Por isso também peguei ele emprestado na biblioteca.
Assim como o livro de Stephen King, este tem contos longos – o primeiro e o último passando de cinquenta páginas. Comecei minha leitura no dia 1 de setembro e só terminei no dia 30 (demorei um pouco mais que o normal porque parei entre um conto e outro para ler “Com Sangue” e “Velar por ela“).
Não foi meu livro favorito de Alice, talvez por minha culpa, por ter interrompido a leitura duas vezes. Mas, mesmo assim, tem algumas histórias memoráveis. A que empresta o título à obra, por exemplo, é excelente do início ao fim. E o empréstimo não é casual: todos os outros contos também têm algo a ver com relacionamentos, sejam eles amorosos ou familiares, e com afetos, perdidos ou persistentes.
O último conto, meu segundo favorito, é sobre um homem que, depois de 50 anos de casado, precisa colocar a mulher em um asilo, quando ela começa a perder a memória. Lá ela não só se esquece dele como passa a se apegar a outro residente. Este conto tem muitas belas camadas e seu fim é de arrepiar todos os pelinhos do corpo.
Mesmo tratando de temas às vezes bem duros, como o luto, todas as histórias começam daquele mesmo jeito despreocupado que eu já tinha falado sobre a autora aqui no blog. E também terminam sem necessariamente nos oferecer um desfecho, solução ou conclusão, como diz o texto da orelha: são contos “abertos”, que podem nos trazem reflexões, aprendizados ou, simplesmente, abrir possibilidades para o que a vida pode comportar em todos os seus embates.
“Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento”
Alice Munro
ed. Globo
357 páginas
R$ 66 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
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