Anistia, fuga de Eduardo Bolsonaro, Trump e a volta da extrema-direita no Brasil

Charge de Latuff sobre a anistia aos generais da ditadura militar, que serve também para a anistia que se discute agora.
Charge de Latuff sobre a anistia aos generais da ditadura militar, que serve também para a anistia que se discute agora.

Texto escrito por José de Souza Castro:

Em seu artigo no Poder 360, na última sexta-feira (21), intitulado “O socorro da anistia“, o jornalista Janio de Freitas, 92 anos, alerta: “Se aprovado, o perdão aos presos pelo 8 de Janeiro será o 1º ato da retomada do país pela extrema-direita, com ganas de vingança”.

E encerra com uma advertência:

“Mas os democratas continuam tranquilos, senão mesmo indiferentes. E sempre com boas intenções. Como se verá na campanha que a Secretaria de Comunicação da Presidência vai lançar: Prospera Brasil. Se ninguém lembrar o Pra Frente Brasil, do Médici, prosperemos. Ou, para não pedir demais, acordemos”.

É um velho hábito meu ler Janio de Freitas, assim como Elio Gaspari e Acílio Lara Resende, meus gurus quando comecei a trabalhar no jornalismo, no início da década de 1970. Os quatro estávamos no “Jornal do Brasil” e eles tinham muito a me ensinar. E ainda têm.

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Por acreditar nisso, não me acanho de reproduzir aqui o que escrevem. Não sou egoísta. Leitores deste blog têm muito a ganhar com a sabedoria desses velhos jornalistas que escrevem sem pensar em remuneração. Prossigo, portanto, com Janio:

“Ainda a 1 ano e meio da eleição presidencial, pesquisas eleitorais prestam-se muito mais ao jogo político, pelas impressões que difundam, do que a auxiliar o eleitorado. Há exceções em certas antevésperas eleitorais, claro, sem que nossos dias sejam uma delas. As pesquisas serão ociosas, no mínimo, até que Bolsonaro tenha situação eleitoral inalterável.

As perspectivas judiciais que o afligem não são o fator mais considerável na situação imprecisa que Bolsonaro tem e transmite à antevisão eleitoral. Ele e a corrida eleitoral dependem, sobretudo, é da prevista decisão do Congresso sobre a anistia que, mesmo se dirigida a outros réus, terminasse por beneficiá-lo.

A gravidade de um tema não é bastante, na vigente comercialização do Congresso, para sugerir propensões confiáveis de decisão. A anistia, porém, não poderia ser um tema legislativo obscuro, dada a necessidade atual do golpismo de torná-la assunto natural. Mas nem por isso com indícios sequer razoavelmente confiáveis a respeito. O que decorre dessa incerteza é muito ameaçador para as instituições democráticas.”

Janio, como eu, demonstra esperança de que pode ter consequências o fracasso da manifestação pró-anistia convocada por Bolsonaro para o dia 16 de março em Copacabana (“ele anunciou 1 milhão de presentes, a contagem bandida da PM-RJ viu 400 mil, a pesquisa da USP só encontrou 18.000 e este Poder360 contou 26.000”).

Até ali, prossegue Janio, “a pressão das massas eleitoras era a tática do bolsonarismo, como foi na campanha pró-golpe, para submeter o Congresso e a opinião pública contrária à anistia. O fracasso em Copacabana foi um canhonaço na tática”.

E continua:

“Entre as reações previsíveis, a investida direta sobre partidos e congressistas deverá redobrar – com as possibilidades aumentadas pela estranha queda de aprovação do governo muito além do explicável. Ainda que meio disfarçada, como fazem o sinuoso Gilberto Kassab e seu PSD, a adesão à anistia pode ser um negócio atraente.

Menos convencional, eis outra reação esperável: o trânsfuga Eduardo Bolsonaro, que brigava pela presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, faz aparição repentina nos Estados Unidos, para obter ‘ajuda à defesa’ do pai. Ajudá-lo em julgamento no atual STF, com toda a certeza, não seria. O filho, no entanto, não viajou à toa, nem por pouco.

Nos Estados Unidos, é fácil encontrar interesses econômicos e políticos no Brasil, até por serem os mesmos. Neles está a única ajuda que explique a ida repentina de Eduardo Bolsonaro para anunciados 4 meses, pelo menos. Mudança, note-se, tão logo se mostrou a necessidade de investidas novas pró-anistia e pró-Bolsonaro. E isso só pode ser pensado como operação de alto custo, com envolvimento de partidos, mídia, mobilizações, muito gasto. Estamos entendidos.

Se aprovada, a anistia será o 1º ato da retomada do país pela extrema-direita. Com ganas de vingança.”

Não há necessidade de repetir o final do artigo, pois ele se encontra aqui logo no início. Prefiro lembrar trecho do artigo da sexta-feira anterior. Janio escreveu:

“Não se assuste, é só o fim da hipocrisia. Movido pelos piores motivos, Donald Trump traz aos olhos e ouvidos de todo o planeta a verdade norte-americana por inteiro. Por mais de 1 século, a invenção e o incessante desenvolvimento da moderna propaganda de massas cristalizaram, mundo afora, uma concepção virtuosa da índole e das práticas mais características dos Estados Unidos, povo e poder. Ninguém no mundo o fez por conta própria”.

Sobre Trump, escreveu meu outro guru, Acílio Lara Resende, um ano mais novo que Janio de Freitas, no artigo semanal dele no jornal “O Tempo”:

“O tsunami provocado por Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos pela segunda vez, anda causando medo em muita gente. Não é à toa que parte do mundo se une contra quem, na realidade, usa o seu mandato como uma arma poderosa contra tudo e contra todos. Já falou em anexar o Canadá e a Groenlândia. Já ordenou bombardeios contra os rebeldes houthis, no Iêmen, aliados ao Irã (ao qual já ameaçou também), dizendo-lhes que ‘o inferno cairá sobre eles'”.

Como sou um otimista, acho que não é ainda o fim do mundo.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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