Meta fiscal prejudica investimentos em áreas sociais no governo Lula

Charge de Galvão Bertazzi sobre terceiro mandato de Lula.
Charge de Galvão Bertazzi sobre terceiro mandato de Lula.

Texto escrito por José de Souza Castro:

Há um ano publicamos artigo sobre o livro “O Estado no Estado”, de Benício Cabral, alertando que Lula terá problema para cumprir promessas de campanha por causa de funcionários públicos que seguem regras não escritas e controlam o governo.

Hoje li no Instituto Conhecimento Liberta artigo sobre um estudo do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) que mostra que educação, agricultura familiar e reforma agrária estão entre os segmentos que receberam menos recursos do que deveriam no primeiro semestre deste ano.

O estudo pode ser lido neste link. Ele aponta algumas causas do fiasco do governo na aplicação de recursos do orçamento para áreas prioritárias. Não cita, porém, o problema do Estado no Estado discutido por Benício Cabral.

Nessa nova visão, a principal causa seria a pressão do mercado, com apoio do Banco Central, do Congresso Nacional e da imprensa, para uma redução dos gastos do governo com o objetivo de que se cumpra a meta fiscal.

Charge de Nani sobre mercado especulativo controlando economia no Brasil.
Charge de Nani sobre mercado especulativo controlando economia no Brasil.

Diz trecho do relatório “Balanço semestral do Orçamento da União: janeiro a junho de 2024”, divulgado no último dia 20:

“As informações são pouco alvissareiras. Com algumas exceções, no geral, os gastos estão muito aquém do desejado e, em certos casos, não há qualquer execução entre janeiro e junho deste ano. É claro que ainda há um semestre pela frente para melhorar o desempenho, mas se trata de um quadro que preocupa, porque grande parte das políticas públicas requer gastos contínuos, de modo a evitar interrupções ou atrasos nos atendimentos”.

Entre as áreas que receberam menos recursos, está a educação. Apesar de os investimentos na totalidade terem atingido no período uma média de 50% do total orçado para 2024, dos R$ 342 milhões disponibilizados para a subfunção “Educação de Jovens e Adultos”, foram usados R$ 20,8 milhões, o que corresponde a menos de 6%.

Na avaliação do Inesc, afirma o ICL, a dificuldade de coordenação entre os entes da União, regras fiscais que chamam de “leoninas”, e a falta de investimentos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão entre as razões para o recebimento de menos recursos que o necessário. Alguns exemplos:

  • Geração Distribuída de Energia: As únicas ações apontadas sobre o tema para este ano foram voltadas para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, com R$ 2,43 milhões autorizados. Contudo, nenhum valor foi investido até então.
  • Povos indígenas: A ação “Regularização Fundiária, Proteção e Gestão dos Territórios Indígenas” executou no primeiro semestre um total de R$ 28,8 milhões, ante R$ 315,5 milhões autorizados. O programa “Saúde Indígena” registrou gastos de R$ 1,04 bilhão, dos R$ 2,61 bilhões autorizados. Apesar de a proporção ser melhor neste caso, o Inesc avalia que a falta de investimentos em órgãos como a Funai, nos últimos anos, ainda impacta as capacidades de trabalho pelos povos indígenas.
  • Governança fundiária, reforma agrária e regularização de territórios quilombolas e de povos e comunidades tradicionais: O gasto até o momento é de R$ 3,4 milhões, quando haviam sido autorizados R$ 144,3 milhões para 2024.
  • Programas voltados para crianças e adolescentes: Receberam 28,7% dos R$ 85 milhões autorizados para este ano.

Na opinião do Inesc, uma ONG fundada em 1979, “é bem provável que muitos desses atrasos ocorram pela dificuldade de estados e municípios se organizarem para receber o recurso federal por meio de convênios. Além disso, existe a necessidade de recompor as equipes de instituições desmontadas na gestão Bolsonaro”, complementa.

O instituto também aponta que as regras fiscais contribuem para engessar os gastos nessas áreas:

“Não se pode negar que o Brasil está gastando menos do que deveria ao obedecer uma austeridade fiscal a qualquer custo, prejudicando especialmente as pessoas empobrecidas, agravando o racismo e o sexismo. Diante das enormes dívidas do país nas áreas social, ambiental e climática, é preciso mais recursos públicos e não menos.”

O governo Lula, acrescentou o ICL, acumulou um déficit primário de R$ 68,698 bilhões no primeiro semestre deste ano. Apesar de registrar uma receita líquida de R$ 1,051 trilhão – aumento de 8,5% em comparação com o mesmo período do ano passado –, a despesa total também cresceu.

De acordo com os dados do Tesouro Nacional, a despesa total do semestre chegou a R$ 1,12 trilhão, alta de 10,5% sobre os R$ 973,397 bilhões registrados nos primeiros seis meses do ano passado. Para cumprir a meta de déficit fiscal deste ano, em julho o governo anunciou o congelamento de R$ 15 bilhões.

Como se sabe, não haverá qualquer congelamento no pagamento de juros, uma das maiores despesas do governo.

Charge de Baggi, com Lula e Haddad, sobre o congelamento do orçamento.
Charge de Baggi, com Lula e Haddad, sobre o congelamento do orçamento.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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