Filme ‘Druk’: o álcool como ferramenta do incontrolável

Ator Mads Mikkelsen é o protagonista do filme 'Druk', interpretando Martin, um professor que decide perder o controle.
Ator Mads Mikkelsen é o protagonista do filme 'Druk', interpretando Martin, um professor que decide perder o controle.

Vale ver na Netflix: Druk – Mais uma Rodada (Druk)
2020 | 1h57 de duração | Classificação: 16 anos | nota 9

A sinopse de Druk, vencedor de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2021, já nos instiga suficientemente: quatro professores do ensino médio resolvem testar uma teoria de que suas vidas vão melhorar se se mantiverem o tempo todo embriagados.

Ou seja, decidem fazer uma imersão, intencional e voluntária, no alcoolismo.

Tudo começa com Martin, o professor de história (interpretado pelo excelente Mads Mikkelsen), que está deprimido, sem perspectivas no emprego, no casamento, em casa. Um sujeito desanimado e vivendo uma vida monótona, no automático.

Ao ouvir a história de que um pesquisador seriamente disse que os humanos têm um déficit de 0,05% de álcool, que deve ser sempre suprido, ele resolve, um dia, beber antes de ir para a escola. Acaba se achando mais autoconfiante e surpreendendo os alunos com uma aula mais interessante que nunca.

Os outros três amigos, professores de música, educação física e psicologia na mesma escola, ficam impressionados com esse resultado e resolvem abraçar a ideia. Pensam no projeto como algo sério, uma pesquisa acadêmica que tem o objetivo de provar os efeitos do álcool na vida social de um sujeito.

Outros professores de 'Druk' são interpretados por Lars Ranthe (de cueca), Thomas Bo Larsen (com a garrafa na mão) e Magnus Millang (no canto direito).
Outros professores de ‘Druk’ são interpretados por Lars Ranthe (de cueca), Thomas Bo Larsen (com a garrafa na mão) e Magnus Millang (no canto direito).

E assim segue a história, que não quero estragar. E que se passa na Dinamarca, um dos países em que as pessoas mais bebem, e começam a beber mais cedo, ainda adolescentes.

O álcool é, de certa forma, celebrado em boa parte do filme. Torna-se remédio contra o tédio, a inibição, a baixa autoestima, a falta de criatividade, os casamentos chatos.

Mas o outro lado do álcool também é mostrado, seu lado sombrio. Do vício, do alcoolismo, da humilhação pública, da depressão, da imaturidade. Da agressividade e violência.

A euforia e o entusiasmo versus o pesadelo e a chacota.

Li em algum lugar que o diretor e roteirista Thomas Vinterberg (também indicado ao Oscar naquele ano) pensa neste filme como um estudo dos efeitos do álcool nas pessoas, mas também um estudo sobre o incontrolável.

Ele próprio foi vítima do incontrolável. Sua filha, grande incentivadora do filme, que tinha trazido várias ideias para o roteiro e até faria o papel da filha de Martin, morreu aos 19 anos, poucos dias antes do início das filmagens, em um acidente de carro.

Vinterberg, diretor de 'Druk', disse que os professores são seus heróis e que não são suficientemente valorizados nem apoiados pela sociedade.
Vinterberg, diretor de ‘Druk’, disse que os professores são seus heróis e que não são suficientemente valorizados nem apoiados pela sociedade.

Em uma entrevista ao jornal “El País”, Vinterberg fez a seguinte reflexão sobre tudo isso que escrevi acima, especialmente a questão do incontrolável:

“O filme não tenta vender álcool nem tenta demonizá-lo, porque, assim como desinibe e ajuda nas conversas e na socialização, também destrói famílias. Além disso, a morte de minha filha confirmou que eu deveria filmar uma celebração da vida. Estou falando sobre escolher sua vida, tomar suas decisões. De todo modo, vivemos imersos na cultura da representação. Tudo se fundamenta no que você aparenta (…). Para os adolescentes é ainda pior. Minha esposa é pastora luterana, e depois de ver o filme me disse que isso de falar sobre quando você decide perder o controle, esquecer das aparências, soa como quando você se apaixona: é incontrolável quando acontece, como acontece e se acontece.”

O fato é que a tragédia ronda, o tempo todo, essa “pesquisa” que os quatro professores resolvem fazer. O incontrolável fica à espreita, quanto maior é o teor alcoólico de seus experimentos. O resultado é imprevisível. Assim como a vida.

Assista ao trailer oficial legendado do filme Druk:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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