Empreendedorismo feminino: por que ele é tão importante

Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório.
Post discute importância do empreendedorismo feminino. Foto: LinkedIn Sales Solutions / Unsplash

Neste 19 de novembro é celebrado o Dia Global do Empreendedorismo Feminino, poucos dias depois de a redação do Enem levantar o debate sobre dupla jornada. Que tal falarmos mais sobre essa questão tão desafiadora e importante?

O empreendedorismo feminino, celebrado mundialmente neste 19 de novembro, é tão importante que é apontado como uma das soluções para se atingir alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável traçados pelas Nações Unidas.

É uma ferramenta de empoderamento de mulheres, que ganham autonomia e independência, ajudam a empregar outras mulheres, fortalecem as redes de apoio de suas famílias e comunidades e tem impacto para mudar toda a economia global.

Isso sem falar que, quanto mais mulheres estiverem à frente dos negócios, maior será a pavimentação para o caminho da equidade de gênero no universo do trabalho – que ainda está bem distante de ser atingida, na realidade atual.

Sim, porque há muitos desafios para as mulheres que desejam empreender. Vou demonstrar isso neste post.

O que é empreendedorismo feminino?

Segundo a definição do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), consórcio de pesquisadores sobre empreendedorismo, vinculados a instituições acadêmicas de mais de 100 países:

“[…] empreendedorismo é qualquer tentativa de criação de um novo negócio, seja uma atividade autônoma e individual, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente.”

Ele é feminino quando liderado por uma ou mais mulheres.

Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório.
Foto: Christina @ wocintechchat.com / Unplash

5 desafios do empreendedorismo feminino

São muitos os desafios do empreendedorismo feminino. Estes são os mais citados pelos estudiosos do assunto:

1. Preconceito

Ainda é visível a discriminação no mercado de trabalho, além da diferença de oportunidades das mulheres em relação aos homens.

Basta dizer que, segundo a ONU, em todo o mundo, as mulheres recebem 20% a menos que os homens, em média, para executar o mesmo trabalho.

Segundo a pesquisa Negócios Inspiradores Femininos, que ouviu 850 mulheres de todo o país entre 2021 e 2022, mais de um terço (37%) das empreendedoras consideram difícil e desafiador ou muito difícil e desafiador questões de discriminação de gênero em sua rotina. E 34% sofrem com algum tipo de assédio moral.

2. Dupla jornada

As mulheres desempenham jornada dupla ou tripla de trabalho, cuidando também de tarefas domésticas e criação dos filhos, em uma proporção bem maior que a dos homens. Isso foi abordado pela redação do Enem neste ano.

Uma pesquisa divulgada pelo IBGE em 2021 mostrou que as mulheres dedicam mais de 21 horas semanais a cuidados com outras pessoas ou tarefas domésticas, contra apenas 11 horas dos homens.

Mulher trabalha no celular enquanto cuida de dois filhos. Foto: Vitolda Klein / Unsplash
Mulher trabalha no celular enquanto cuida de dois filhos. Foto: Vitolda Klein / Unsplash

Isso não é nada fácil. Segundo a pesquisa Negócios Inspiradores Femininos, 63% das empreendedoras consideram muito difícil e desafiador ou difícil e desafiador essa dupla jornada.

Essa é inclusive uma das explicações de, segundo levantamento do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em 2021, 52% das micro e pequenas empresas lideradas por mulheres terem parado as atividades durante a pandemia, contra 47% das lideradas por homens.

Com escolas fechadas no auge do isolamento, muitas mães abandonaram seus negócios para se dedicarem aos filhos.

3. Falta de apoio

Este desafio também está diretamente relacionado ao anterior. Sem uma rede de apoio para cuidar da casa ou dos filhos, as mulheres ficam sobrecarregadas e, muitas vezes, alijadas do processo de empreender.

Como diz o Sebrae: “Há maiores obstáculos para iniciar um empreendimento pela dificuldade em conseguir apoio de parceiros, amigos e familiares, tornando o processo de iniciar um negócio mais árduo do que para os homens”.

4. Dificuldade para montar rede de relacionamentos

Muito possivelmente, este desafio está diretamente relacionado à discriminação, que apontei no início.

Mas o fato é que, nas palavras do Sebrae, “pesquisas apontam que as mulheres empreendedoras possuem mais dificuldade de realizar contatos profissionais e estruturar uma rede de relacionamentos que possibilite a construção de negócios comerciais”.

5. Maior dificuldade de acesso a capital

Este ponto é de grande importância para as mulheres. A já citada pesquisa Negócios Inspiradores Femininos traz vários dados que comprovam o peso da questão financeira para as empreendedoras.

Para começo de conversa, 94% das mulheres que não estão empreendendo no momento, mas que já o fizeram ou têm vontade, dizem que o principal motivo para isso é a falta de recursos financeiros.

Entre as que estão empreendendo, 78% acham difícil e desafiador captar recursos financeiros – esse percentual sobe para 86% no caso de quem tem renda familiar de até R$ 5 mil – e 74% acham difícil conseguir capital de giro.

Dados sobre empreendedorismo feminino no Brasil e no mundo

Segundo dados do Banco Mundial:

  • Globalmente, só 1 a cada 3 negócios (34%) tem ao menos uma mulher entre seus principais donos, entre pequenas, médias e grandes empresas.
  • O percentual sobe para 50% em países da América Latina e Caribe e despenca para apenas 18% no Sul da Ásia.

O mais recente relatório do Global Entrepreneurship Monitor sobre o Brasil, de 2019, cita ainda o seguinte panorama:

  • O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras.
  • 25,8 milhões, ou 47% dos cerca de 54,5 milhões de empreendedores no Brasil, são mulheres.
  • No estágio inicial do empreendedorismo (negócios com menos de 42 meses de existência), homens (23,5%) e mulheres (23,1%) têm praticamente o mesmo percentual.
  • No entanto, há mais homens (cerca de 3 milhões) à frente de empreendimentos consolidados ou estabelecidos (18,4%) que mulheres (13,9%). “Esse tem sido um retrato constante no país ao longo dos anos, ou seja, proporções semelhantes de empreendedores iniciais entre a população masculina e a feminina, e um percentual maior de homens à frente de negócios já consolidados”, destaca o estudo.
  • 90,8% das mulheres apontam como motivação para empreender “ganhar a vida, porque os empregos são escassos“, contra 85% dos homens.
  • A motivação de 53,2% das mulheres é “fazer a diferença no mundo” (contra 49,6% dos homens).
  • Menos de um terço delas (31,8%) pretende “construir uma grande riqueza” (entre os homens, são 41,9%). E só 24,4% querem seguir uma tradição familiar, contra 28,8% dos homens.
  • As 5 atividades mais frequentes das empreendedoras no Brasil em 2019 eram trabalhos domésticos, cabeleireiros e outros serviços de tratamento de beleza, comércio varejista de peças de vestuário, serviços de bufê e outros relacionados a comida preparada e confecção de peças de roupa, exceto roupas íntimas.
Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório.
Foto: Christina @ wocintechchat.com / Unsplash

Outro estudo global interessante sobre empreendedorismo feminino é o “The Mastercard Index of Women Entrepreneurs”, divulgado em 2022.

Considerando três quesitos – resultados de avanço das mulheres, ativos de conhecimento e acesso financeiro e condições de apoio empresarial – o Brasil aparece em 33º lugar no ranking global, com 65 países.

Importância do empreendedorismo feminino

O Global Entrepreneurship Monitor destaca que o empreendedorismo é capaz de ajudar a alcançar pelo menos quatro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a ONU traçou para o Brasil e o restante do mundo atingirem até 2030:

  • Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
  • Promover o crescimento econômico, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos
  • Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos
  • Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório. Empoderamento feminino
Foto: Etty Fidele / Unsplash

Este último é ainda mais alcançável por meio do empreendedorismo feminino. Principalmente quando olhamos para o item 5.5 deste objetivo da ONU:

“Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.”

O empreendedorismo garante um empoderamento de mulheres, que podem alcançar a autonomia financeira para além da subsistência, que para muitas significa a independência de parceiros abusivos e/ou violentos.

Isso sem contar que empresas administradas por mulheres têm desempenho melhor do que aquelas fundadas só por homens.

E a igualdade de gênero na economia pode trazer benefícios em escala mundial. Um estudo do McKinsey Global Institute (MGI), de 2015, já mostrava que o PIB global poderia ter um acréscimo de US$ 12 trilhões até 2025 apenas com a promoção da igualdade de gênero no mercado de trabalho e na sociedade.

Num cenário de igualdade completa entre homens e mulheres, o ganho estimado chegaria a US$ 28 trilhões.

Uma mulher ajuda a outra. Empreendedorismo feminino contribui com empoderamento de outras mulheres. Ilustração: GEM
Uma mulher ajuda a outra. Empreendedorismo feminino contribui com empoderamento de outras mulheres. Ilustração: GEM

No dia das mulheres de 2022, o Sebrae ainda elencou estas outras 5 informações que apontam para a relevância do empreendedorismo feminino no Brasil:

  1. Empreendedoras se capacitam mais: 69% delas têm ensino superior completo ou pós-graduação e 45% já fizeram cursos de formação ou capacitação específicas em empreendedorismo, segundo pesquisas do Instituto Rede Mulher Empreendedora em 2019 e 2021.
  2. Empreendedoras são mais inovadoras: as mulheres apostam mais na inovação e na digitalização dos processos que seus pares homens. Elas também usam mais redes sociais e apps.
  3. Empreendedoras querem horários mais flexíveis: uma das principais motivações das mulheres para empreender é ter um horário mais flexível e poder passar mais tempo com a família
  4. Empreendedoras empoderam outras mulheres: segundo pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora, mulheres empregam mais mulheres e também preferem sócias mulheres.
  5. Empreendedorismo feminino é ferramenta de transformação: mulheres “tendem a investir mais na educação dos filhos, no suporte à comunidade e na assistência aos parentes”, gerando uma rede de apoio forte e prosperidade em seu entorno.
Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório. Empoderamento feminino
Mulheres empreendedoras empregam mais outras mulheres e fortalecem redes de apoio e empoderamento de gênero. Foto: Christina @ wocintechchat.com / Unsplash

Inspire-se: exemplos de sucesso

O estudo “GEM 2021/22 Women’s Entrepreneurship Report”, de 2022, traz alguns exemplos de sucesso de empreendedorismo feminino de outros países. Entre eles:

  • Andrea Barber, cofundadora da RatedPower, da Espanha: essa empresa, fundada em 2017, é uma aceleradora de usinas fotovoltaicas. Hoje atende 2.500 empresas ao redor do mundo e já desenvolveu mais de 20 mil projetos. A cofundadora também criou o podcast em espanhol Vostok 6, para dar visibilidade a mulheres de diferentes áreas. Ela aparece em trigésimo lugar no ranking CHOISEUL 100 Espanha de líderes econômicos e foi escolhida pela Forbes como uma das 100 pessoas mais criativas nos negócios na Espanha.
  • Anna Niszkács, dona e diretora da Gerbeaud Gasztronómia Kft, da Hungria: Anna assumiu a tradicional empresa familiar húngara em plena pandemia. A Gerbeaud foi fundada em 1858 como um café, mas hoje, tantos anos depois, é uma das marcas mais conhecidas naquele país europeu, com diversos restaurantes e presença no setor hoteleiro. Quando teve que fechar para o público por causa da pandemia, a empresa perdeu mais de 90% de sua receita. Mas a empreendedora viu a crise como oportunidade de inovar: o serviço de delivery implementado por causa das restrições sanitárias acabou gerando um faturamento maior que de anos anteriores à Covid-19.
  • Claudia Isabel Barona, cofundadora da Lifepack, da Colômbia: a empresa, que faz produtos biodegradáveis, foi fundada em 2014 e viu seu desempenho dar um salto após a pandemia. Isso porque os negócios, que eram sempre fechados de forma presencial, hoje têm mais de 70% das transações digitais. Novas linhas de negócio nasceram, inclusive um programa de transferência de tecnologia para outros países.
Claudia Isabel Barona, Anna Niszkács e Andrea Barber são exemplos de sucesso no empreendedorismo feminino mundial.
Claudia Isabel Barona, Anna Niszkács e Andrea Barber são exemplos de sucesso no empreendedorismo feminino mundial. Fotos: Divulgação/GEM 2021/22

O portal Histórias de Poder, do Sebrae, também traz histórias inspiradoras de mulheres empreendedoras em diversos segmentos, mas apenas no Brasil. Confira algumas:

  • Vanessa Vilela, fundadora da Kapeh, do sul de Minas: nascida em 2007, a Kapeh vende mais de 150 produtos em 18 estados do Brasil, em uma rede de franquias com quase 300 pontos de vendas, além de quatro lojas físicas exclusivas e a loja virtual. As vendas online, que se iniciaram em 2010, crescem cerca de 40% ao ano. Os cosméticos também são exportados desde 2009 para três países – Portugal, Holanda e África do Sul – e estão registrados em 27 nações da Comunidade Europeia. Vanessa é farmacêutica e bioquímica e aproveitou a tradição familiar com plantação de café para pesquisar as propriedades cosméticas desse grão.
  • Larissa de Souza, fundadora da Snack Saudável, que começou em Rondônia: nascida em 2016, hoje a empresa virou uma rede grande, com 30 franquias espalhadas por todo o país. Larissa teve a ideia ao ver que 90% dos colegas de seus filhos levavam lanches industrializados e nada saudáveis para comer na escola. E percebeu que havia uma oportunidade de negócio aí, com a venda de merendas saudáveis para facilitar a vida de outras mães.
  • Maria José Lima, fundadora da Mazé Doces Artesanais, em Minas Gerais: fundada em 1999, hoje produz 35 toneladas de doces por ano, que são entregues em todo o Brasil. Maria resolveu empreender para ter renda, depois que voltou da licença-maternidade e descobriu que tinha perdido o emprego. Ela ganhou o prêmio Mulher de Negócios, do Sebrae, e viu sua história ser cantada por Nando Reis, Arlindo Cruz e Gabriel o Pensador. Essa visibilidade também abriu portas para que ela se tornasse palestrante.
  • Diana Finkler, fundadora da Marina Tecnologia, no Rio Grande do Sul: atua com o mercado da química em toda a América Latina e já impactou mais de 300 empresas.
  • Beatriz Branco, dona da Angí Chocolates, do Mato Grosso do Sul: seus produtos hoje são vendidos pela internet para todo o Brasil e em 57 pontos do estado. Beatriz é designer de produtos e criou a marca durante um desafio de um curso do Sebrae.
  • Patricia Kelly, fundadora do Ateliê Sweet Home, da Bahia: ela entrega itens de decoração para todo o Brasil e, durante a pandemia, viu seu faturamento dobrar. O negócio surgiu a partir do trabalho de conclusão de curso em Design de Moda que Patrícia fazia na época.

Inspirem-se com essas histórias, mulherada! E bora empreender! 💪🏽💪🏽💪🏽

Mulher de negócios, empreendedorismo feminino, empresária, mulher no mercado de trabalho, escritório. Empoderamento feminino
Foto: Christina @ wocintechchat.com / Unsplash

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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