Eu nunca tinha ouvido falar em Ted Chiang, autor nova-iorquino de 56 anos que já ganhou vários prêmios por seus contos de ficção científica. Vi seu livro “Expiração” na biblioteca e, como a maior vantagem das bibliotecas é nos permitir experimentar leituras novas sem pagar nada por isso, peguei emprestado para conhecê-lo.
Foi assim que descobri um dos livros mais interessantes que já li na vida.
Dividido em nove contos, que variam bastante de tamanho (de 6 a 124 páginas!), publicados entre 2005 e 2019, somos instigados a pensar em como seria o mundo se pudéssemos ver o que nossos eus paralelos estão fazendo em outras dimensões, ou se pudéssemos ter acesso a todas as nossas memórias com uma simples busca (vocês têm noção do impacto da falibilidade das nossas memórias em nossas vidas?), ou fazer uma viagem no tempo.
E, ao mesmo tempo em que percorremos essas possibilidades extraordinárias de mundo (algumas das quais alcançáveis com a evolução da nossa tecnologia atual), somos instados a refletir sobre questões profundas e perenes, que nos afligem desde sempre: os relacionamentos, o livre-arbítrio, a maternidade, a construção do caráter, a culpa e a responsabilidade, dentre várias outras.
Logo na primeira história, somos apresentados a uma máquina do tempo diferente das que costumamos ver no cinema: um portal que é capaz de levar as pessoas para vinte anos no futuro ou no passado. Com um detalhe importante: os viajantes do tempo não conseguem alterar nada que ocorreu em sua vida.
Aos moldes das “Mil e Uma Noites”, o autor insere histórias dentro da história, contando o que aconteceu com algumas pessoas que percorreram aquele portal.
Este, chamado de “O mercado e o portal do alquimista“, de 40 páginas, foi um dos meus contos favoritos, ao lado dos outros três maiores do livro:
- “O ciclo de vida dos objetos de software” (124 páginas)
- “A verdade dos fatos, a verdade dos sentimentos” (52 páginas) – talvez o melhor de todos, incrível mesmo!
- “A ânsia é a vertigem da liberdade” (80 páginas)
Não é um livro fácil de ler, já adianto. Alguns conceitos são difíceis de entender ou mesmo de absorver, de tão distantes que são da nossa realidade, por melhor que seja a narrativa de Chiang. Eu sempre gosto de ler antes de dormir e, algumas vezes, tinha que redobrar minha concentração ou até reler alguns trechos, para captar a profundidade do que estava sendo dito ali.
Mas as histórias, além de muito bem escritas, e de trazerem essas realidades paralelas que só a ficção científica consegue proporcionar, ainda nos levam a reflexões filosóficas como poucas vezes encontrei na literatura. E com a vantagem de não serem necessariamente distópicas: algumas soluções futuristas são surpreendentemente mais positivas do que aparentam à primeira vista.
Ao final, ainda somos brindados com algumas observações, explicações e inspirações do autor sobre cada um de seus contos. Deixo vocês com três pérolas desta parte do livro:
“Vivemos à custa de aumentar a desordem do universo.”
“Mesmo o mais rigoroso argumento não é capaz de convencer todas as pessoas que o ouvem. Argumentos são algo abstrato demais para influir nas ações de certas pessoas.”
“[O que torna real uma relação é] a disposição em despender esforço para que essa relação se mantenha. (…) Ter uma relação verdadeira, seja com um amor, seja com um filho, seja com um animal, exige que você esteja disposto a conciliar seus desejos e suas necessidades com os da outra pessoa.”
Mas o melhor mesmo é mergulhar nesta aventura de “Expiração” – onde cada conto é um mundo à parte! E vale fazer isso antes que algum diretor leve para a telona e simplifique demais a profundidade bela da narrativa de Chiang, como fizeram com “A Chegada“, baseado em um conto dele.
“Expiração”
Ted Chiang
Intrínseca
413 páginas
R$ 27 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
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Ele é incrível. Seu texto me deixou com vontade de reler os contos novamente.
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Que bom, taí a desculpa para ler de novo então 🙂 Eu fiquei com vontade de ler o outro livro de contos dele.
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Eu estou bem curioso para ler esse livro…
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Depois conta se gostou! 😀
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Certamente vou resenhar no Blog… 😀
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