No dia 20 de maio de 2021, todos os portais de notícias divulgaram que Rita Lee havia descoberto um câncer no pulmão. No dia 8 de maio de 2023, ela morreu aos 75 anos, em decorrência desse tumor (que ela batizou, sarcasticamente, de Jair).
Não satisfeita em escrever uma autobiografia maravilhosa em 2016, ano em que decidiu se aposentar dos palcos, a cantora, compositora, escritora, multi-instrumentista e ativista Rita Lee quis escrever esta “Outra Autobiografia”, para contar sobre esse período de apenas dois anos – que se tornaram os últimos de sua vida.
Isso é que é uma mulher que acha importante ter domínio sobre as próprias narrativas! Ela sempre foi pioneira, em muitos campos, e nunca gostou de se submeter a nenhuma autoridade (a começar pelo patriarcado). Daí porque deve ter sentido essa necessidade de trazer a última palavra sobre a sua vida, até o final.
O livro começa, na verdade, um pouco antes do diagnóstico do câncer: com a reação que ela teve à vacina contra a Covid-19, que foi o “elefante” que a levou a sair da casa onde vivia no meio do mato, com o marido Roberto de Carvalho, para ir a uma consulta médica.
E esses cerca de dois anos são descritos como se ela estivesse escrevendo em um diário (ou um blog). Com a franqueza que lhe era característica, ela não poupa nenhum detalhe do seu tratamento, nem mesmo as passagens mais escatológicas (nunca vou esquecer da cena que vi em minha frente na página 81). Inclusive, caro editor Guilherme Samora: edição é pra ser feita, viu? #ficaadica

Fora a questão do tratamento médico, que nos apresentou a uma Rita bem mais frágil e vulnerável do que a que conhecemos no outro livro, ela fala ainda sobre a autopercepção da velhice, sobre a morte (ela pensou com muita tranquilidade na eutanásia), sobre o cigarro, sobre a pandemia (estávamos no auge dela, afinal), dá várias espetadas no clã Bolsonaro etc.
São poucas páginas, não muita variedade de assuntos nesta fase da vida tão submersa em um tratamento agressivo, mas a mesma linguagem ferina e bem-humorada de sempre.
Mesmo tão doente, andando em câmera lenta para não se machucar, ela se manteve ativa: além de escrever este novo livro, escreveu mais um livro infantil do Dr. Alex e Vovó Ritinha, foi visitar a exposição que o filho João organizou sobre sua vida e até compôs música nova e gravou clipe ao lado de “Rob”. A vida não para.
Pela crença de Rita, hoje ela está em outro plano, cercada de “seres e forças de Luz”, provavelmente junto a vários bichinhos também. Livre das dores e de muitos tormentos que a abateram em vida. Mas com certeza dando muita risada e se divertindo muito, livremente, ao lado das amigas Elza Soares e Gal.
Para nós, seus admiradores, ela deixa um legado de letras, músicas e atitudes que ela criou, sempre desamarrada, desbocada e desbundada – até a última palavra.
(Obrigada, Rita!)
“Rita Lee: outra autobiografia”
Rita Lee
Globo Livros
192 páginas
R$ 48,67 na Amazon
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