Texto escrito por José de Souza Castro:
Morreu na madrugada de domingo (28) minha segunda irmã, a Marlene. Tinha 74 anos e tratava há alguns meses de câncer. Cris e eu chegamos ao velório em Bom Despacho, onde ela morou desde que se casou, pouco tempo antes de o caixão fechar, para ser levado a Lagoa da Prata, onde Marlene seria sepultada no jazigo da família.
Há pouco li mensagem de um dos quatro filhos, Pedro Ivo, avisando que a missa de sétimo dia será no próximo sábado, na Igreja Matriz de Bom Despacho.
Nos últimos 12 anos escrevi neste blog duas dezenas de artigos falando de falecimentos. Em geral de políticos, como o governador Rondon Pacheco, Francelino Pereira e Hélio Garcia, ou jornalistas, como José Maria Mayrink e Paulo Henrique Amorim, com quem convivi por algum tempo.
Mas nunca me foi tão difícil escrever sobre a Marlene.
Gostaria de tê-la conhecido melhor nestes últimos 74 anos. Mas a vida nos separou muito cedo. Saí de casa aos 10 anos, para estudar em internatos de padres, e ela saiu mais tarde para estudar num colégio da tia Maria, em Santo Antônio do Monte, onde ela e a irmã mais velha, Maria Afonsa, se formaram para serem professoras.

Quando voltaram para casa em Lagoa da Prata, não demoraram para casar e ir morar em Bom Despacho, terra dos maridos, Thirésio Rodrigues Lopes, da Maria Afonsa, e Pedro Altair Costa, da Marlene. E por ali ficaram, criando os filhos e cuidando dos maridos.
As duas eram donas de casa mineiras típicas, mas que nunca deixaram de trabalhar fora, em grupos escolares (Maria Afonsa) e na Caixa Econômica Estadual (Marlene). A primeira se aposentou e iniciou em casa um negócio de costura. A segunda perdeu o emprego na MinasCaixa, quando esta foi privatizada, e montou ao lado da residência uma floricultura.
Sempre que eu ia à casa de meus pais, saindo de Belo Horizonte, eu passava por lá, para me alegrar com elas. Sempre risonhas, poucas vezes se queixando da vida.
Vidas com alguns momentos tristes. Marlene engatinhava antes de completar 1 ano de idade quando feriu-se gravemente com uma lâmina de barbear caída por descuido entre duas tábuas do assoalho da fazenda das Laranjeiras. Ficou traumatizada e, quando menina, acordava a casa toda com seus pesadelos e gritos de pavor.
Maria Afonsa, na mesma fazenda, queimou um ombro e o antebraço num início de incêndio no guarda-roupa de seu quarto. O fogo começou quando a lamparina que carregava, cheia de querosene, caiu acesa no chão.
As marcas nas duas nunca desapareceram. E a visão da tragédia, nunca esqueci.
Mas elas tiveram tantos outros momentos muito bons com os maridos, filhos e amigos, que tinham motivos para serem felizes.
Ao lado do caixão da Marlene – que continuava bonita, mesmo envelhecida, apesar de viver intensamente –, perguntei à neta mais velha, Ana Maria, se ela havia morrido em casa. Sim, como desejava, cercada por todos os filhos (Lorene, Marília, Pedro Ivo e Jonas) e alguns dos netos (Ana Maria, Sofia, João Pedro, Miguel e Maria Eduarda).
Todos rezaram, quando perceberam que Marlene agonizava, descreveu a neta. Tudo correu em meio a muita paz. Suas últimas palavras foram apenas uma: “Vamos”.
Vamos sim, querida Marlene. Qualquer dia desses…

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Poxa Cris…meus sentimentos a todos(as). Lembrando Guimarães Rosa: as pessoas não morrem, elas ficam encantadas! Marlene continuará viva na memória de todos vocês! Beijos Ricardo
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Obrigada 🙂
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Sinto muito pela sua perda 😦
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Obrigada!
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Que linda homenagem. Fiquei completamente arrepiada. “Vamos” todos. E vamos nos reencontrar. Descanse em paz, tia Marlene. Descanse em paz, vó Afonsa.
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Duas tias muito queridas 🙂
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