Vale ver no cinema: A BALEIA (The Whale)
2022 | 1h57 de duração | nota 7
Este é o quinto filme dirigido por Darren Aronofsky a que eu assisto. Antes, vi “Réquiem para um Sonho”, “O Lutador”, “Cisne Negro” e “Mãe!“.
O que todos eles têm em comum, todos, inclusive este “A Baleia”, é que são muito angustiantes.
Alguns mais do que outros – “Mãe!” é perturbador a ponto de ter feito muitas pessoas deixarem a sala do cinema no meio do filme. Mas todos geram algum tipo de incômodo, cada um com sua abordagem.
Aqui, o incômodo é gerado pelo próprio esforço supremo que o personagem Charlie tem que fazer para carregar seus 200 quilos, que ele adquiriu com uma compulsão por comida gerada por um quadro de depressão após perder o amor de sua vida.
(Palmas para a maquiagem, devidamente indicada ao Oscar, que cria esse efeito com perfeição!)
O esforço é agravado pelo fato de ele não estar apenas com obesidade mórbida, mas estar efetivamente morrendo, com grave problema cardíaco (não se preocupem, isso é mostrado logo no início do filme, não estou dando spoiler).
Portanto, para cada movimento que Charlie faz, ele sua, resfolega, tosse, geme, sente falta de ar, sente dor.
E a gente vai sentindo todos esses sintomas junto com ele – daí a angústia –, graças à atuação impressionante do ator Brendan Fraser, que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar.
Aos poucos, vamos descobrindo que Charlie também está sofrendo pela imensa culpa que sente, tanto com a morte do amor de sua vida, quanto por ter abandonado a filha quando ela ainda era criança.
E aqui entra em cena outra atriz muito boa, a jovem Sadie Sink (a Max de “Stranger Things”), que faz a filha já adolescente Ellie.
Apenas mais três outros personagens dão as caras no filme. A amiga Liz, na pele de Hong Chau, se destaca entre eles, o que acabou rendendo uma indicação na categoria de melhor atriz coadjuvante.
Além desse elenco enxuto, o cenário também é daquele tipo estático: 97% do filme acontece na sala da casa de Charlie, outros 2%, em outros cômodos da casa, como quartos ou a varanda, e sobra 1% para um flashback no mar (uma referência à baleia).
E mais: não para de chover. A casa está fechada, abafada, entulhada, debaixo de um temporal barulhento, ao longo de uma semana.
Isso tudo contribui para nos manter com a sensação de clausura, para construir a angústia de estarmos presos ali naquela casa, junto com Charlie, que tem um claro problema de mobilidade.
Com isso, somos remetidos ao nome do filme, “A Baleia”, mas pensamos em uma baleia encalhada, presa a seu próprio imenso peso, e não na baleia livre, nadando no vasto oceano. Dá-lhe angústia.
Paralelo a essa imagem, o diretor também vai e volta, diversas vezes, em uma análise sobre o clássico da literatura “Moby Dick”, a saga de um homem obcecado por matar uma baleia branca, que, por sua vez, luta pela própria vida.
Como vimos no filme “Mãe!”, Darren Aronofsky gosta de alegorias. E este filme é um prato cheio para elas.
Mas também é uma reflexão mais singela sobre amor, culpa, amizade, cuidado, religião e fé – muito mais a fé nas pessoas que no divino, a fé na bondade que são capazes de fazer, em sua capacidade de realmente se importarem umas com as outras.
Dito tudo isso, o filme perde alguns pontos muito por causa do estilo desse diretor polêmico, que parece gostar que seus trabalhos sejam sempre mais difíceis de assistir do que poderiam ser.
Quando vi “Réquiem Para um Sonho”, lá se vão dez anos, escrevi sobre ele: “Terrível!, mas bom“. De “Cisne Negro” falei que “a confusão mental da personagem também confunde e exaure os espectadores“. Sobre “Mãe!”, escrevi desejar “ardentemente jamais me ver exposta a este filme de novo”.
São todos filmes que nos fazem pensar, mas sob a perspectiva de personagens que estão vivendo uma grande provação. Que somos obrigados a viver junto com eles.
‘A Baleia’ foi indicado a 3 Oscars em 2023 e venceu nestes 2 em destaque:
- Melhor ator principal (Brendan Fraser)
- Melhor atriz coadjuvante (Hong Chau)
- Melhor maquiagem
Assista ao trailer de “A Baleia”:
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Nem me animei a ver o trailer. De angústias, me bastam as que enfrento na vida fora dos cinemas.
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