20 contos de Truman Capote: o talento para narrar

Cena do filme 'The Thanksgiving Visitor', ou 'O Convidado do Dia de Ação de Graças', de 1968, com Geraldine Page, baseado em um dos contos mais bonitos de Truman Capote.
Cena do filme 'The Thanksgiving Visitor', ou 'O Convidado do Dia de Ação de Graças', de 1968, com Geraldine Page, baseado em um dos contos mais bonitos de Truman Capote.

Truman Capote é apresentado como exemplo de texto em todas as faculdades de jornalismo que existem no mundo.

Com certeza seus textos chegaram até mim, primeiro, na aula de Narrativas Jornalísticas, no meu curso de Comunicação Social na UFMG.

Mas até hoje ainda não li o clássico “A Sangue Frio”, e foi só agora, muitos anos depois, que fui ler esta coletânea, num ano em que tenho lido muitos livros de contos.

Mais sugestões de livros de contos:

Começo dizendo que nem todos são bons. Mas que, dentre os bons, alguns estão os melhores textos que já li na vida.

Talvez esta inconstância diga muito sobre o próprio autor. Um pouco da história trágica de sua vida nos é apresentado pelo também escritor Reynolds Price, que organizou a coletânea.

Não gostei, por exemplo, de “As paredes são frias”, “A Forma das Coisas” e “A Lenda do Pregador”.

“Um vison próprio”, de 1944, é interessante, mas depois praticamente autoplagiado no conto “A Pechincha”, de 1950. “Meu Lado da Questão” também vale a leitura, remete a um dos contos superlativos de “Relatos Selvagens“. “Uma Árvore da Noite” também lembra filme – de terror.

Entre os melhores estão:

  • “Senhor Desgraça”,
  • o tragicômico “Entre os Caminhos para o Éden”,
  • “O Jarro de Prata”,
  • “Um Violão de Diamante”,
  • “Fechar a Última Porta”,
  • os suspenses psicológicos “Miriam” e “O Falcão Sem Cabeça”,
  • o estranhíssimo “Crianças em Seus Aniversários”,
  • e “Mojave”, que entrelaça duas boas histórias.

Mas o que me fez até chorar foi “Memória de Natal” (1956), uma das melhores histórias que já li até hoje, cujos personagens foram depois aproveitados nos contos, também muito bonitos, “O convidado do Dia de Ação de Graças” (1967) e “Um Natal” (1982, dois anos antes da morte de Capote).

Cena do filme 'The Thanksgiving Visitor', ou 'O Convidado do Dia de Ação de Graças', de 1968, com Geraldine Page, baseado em um dos contos mais bonitos de Truman Capote.
Cena do filme ‘The Thanksgiving Visitor’, ou ‘O Convidado do Dia de Ação de Graças’, de 1968, com Geraldine Page, baseado em um dos contos mais bonitos de Truman Capote.

Não sei se dá para chamar de trilogia, porque “Memória de Natal” já era uma história redonda, com começo, meio e fim. Depois parece que Capote se sentiu com vontade de relembrar outras histórias de sua infância, e escreveu os outros dois.

Sim, porque tratam-se de contos de memória do autor, que também foi largado pelo pai e pela mãe para viver com primos velhos no Alabama, durante a Depressão. (Torço para que a srta. Sook e a cachorrinha Queenie tenham existido de verdade, porque são o lado doce dessas lembranças.) Talvez por isso estes contos tenham sido os mais pungentes.

Enfim, são 20 histórias muito diferentes entre si, embora algumas reaproveitem cenários, personagens e situações. Você vai rir em alguns momentos, mas, na maior parte das vezes, achei os contos tristes, tensos e, em alguns casos, bastante sombrios até.

O que todos têm em comum é o estilo de narrativa de Capote, com muitos diálogos, descrições precisas, a capacidade de nos transportar para os cenários e ambientes das histórias, além de um olhar aguçado, às vezes até meio cínico, sobre a natureza humana.

Quem dera os jornalistas soubessem narrar suas histórias com pelo menos parte desse talento. Talvez assim mais pessoas ainda se interessassem em ler notícias com lastro na realidade, em vez da ficção científica maluca que está jorrando pelo WhatsApp e pelas redes sociais.

 

Capa do livro '20 Contos de Truman Capote'20 Contos de Truman Capote
Truman Capote
Ed. Companhia das Letras
287 páginas
R$ 29,50 no Kindle (também é achado em sebos)

 


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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