Por que NÃO anular o voto nestas eleições

Foto da urna eletrônica no Brasil. Homem apertando o botão verde "confirma". Crédito: Nelson Jr./Ascom TSE
Crédito: Nelson Jr./Ascom TSE

Nesta reta final para o segundo turno das eleições 2022, trago hoje mais um texto do professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Douglas Garcia, colaborador frequente deste blog.

Aqui ele conversa diretamente com os eleitores que pensam em anular seu voto. Se este é o seu caso, não deixe de ler o artigo com carinho. Se conhece alguém que pretende votar branco ou nulo, encaminhe o texto a essa pessoa.

Este é o momento de refletir! 😉

Agora vamos ao texto.


Anular não é uma opção: entenda por quê

– Douglas Garcia, professor do Departamento de Filosofia da UFOP

No segundo turno das eleições presidenciais de 2022, uma parte dos eleitores brasileiros pretende se abster ou anular o voto, ou ainda votar em branco.

É uma opção individual. Gostaria de mostrar, no entanto, que ela é um erro e que tem consequências que vão além do individual, que atingem toda a sociedade.

Antes de tudo, é preciso admitir que é compreensível esse gesto. Ele pode ter, ao menos, duas motivações diferentes:

  • o eleitor considera que nenhum dos dois candidatos representa seus valores, seus princípios;
  • o eleitor considera que os dois candidatos, se eleitos, realizarão uma série de coisas muito semelhantes nas suas administrações de modo que, no plano das consequências, eles se equivalem.

Não é uma postura realista, em nenhum dos dois casos.

Vamos considerar a primeira motivação para anular o voto ou se abster: o eleitor considera que os dois candidatos não representam os seus princípios. Há aqui dois pontos que ele deve pensar bem antes de seguir por essa opção.

Em primeiro lugar: políticos habilidosos conseguem simular com maestria a posse de princípios.

Estou falando de coisas como:

  • parecer ser dotado de uma religiosidade exemplar,
  • ser um pai de família modelo,
  • ser um grande defensor da moral e dos bons costumes.

Atores sabem do que eu estou falando.

Charge do Duke mostra um homem perguntando ao capeta como ele faz para não ser descoberto. 'É fácil! Basta dizer que defendo a família, a pátria e os valores cristãos', responde o capeta.
Duke sempre brilhante.

Há outro ponto a ser levado em conta. Vamos imaginar que esse eleitor tenha uma certa tendência política, traduzível em princípios. O candidato A está no extremo oposto dessa tendência. Numa escala de -5 a + 5 (sendo -5 o grau de máxima discordância com os princípios do eleitor e + 5 o grau de máxima concordância com o eleitor), o candidato A estaria no ponto -5.

O candidato B, teoricamente, estaria mais próximo do eleitor, mas esse eleitor considera que ele não encarna bem esses princípios. Nessa escala, o candidato B estaria no ponto + 2. O que seria mais realista então? Escolher o candidato B.

As diferenças entre Lula e Bolsonaro

Consideremos agora a segunda motivação para anular o voto (ou se abster): o eleitor considera que os dois candidatos, no plano dos resultados, dão no mesmo, ou seja, que, caso eleitos, ambos realizariam uma série de coisas muito semelhantes nas suas administrações.

Há aqui dois pontos que o eleitor deve pensar bem antes de seguir por essa opção. Em primeiro lugar: há um candidato à reeleição e um candidato que já foi presidente. O que eles fizeram em suas administrações foi registrado em jornais, livros e em estatísticas oficiais. São dados públicos, não há nenhuma dificuldade em buscá-los na internet. Os sites principais são do IBGE e da FGV, para dados econômicos, e o do INPE, para dados ambientais.

Uma consulta rápida online mostrará que Bolsonaro e Lula mostram dados muito diferentes a respeito de várias áreas, como:

Gráfico mostra os aumentos reais do salário mínimo, com variações acima da inflação, nos governos Lula e Dilma. No governo Bolsonaro, houve aumento abaixo da inflação medida pelo IPCA.

É realista pensar que aquilo que foi feito no passado mostra uma tendência, e que essa tendência deverá continuar em um novo mandato. Ou seja, tendências diferentes indicam resultados futuros diferentes.

Segundo ponto: há um consenso internacional de que políticas de proteção ambiental são uma prioridade para o futuro do planeta. E que relações de comércio e cooperação econômica dependem do desempenho dos países nesse quesito.

Taxa de desmatamento na Amazônia, por presidente. No governo Bolsonaro, o desmatamento explodiu.

A União Europeia já sinalizou claramente que o Brasil terá grandes perdas no comércio internacional se a política ambiental do atual governo continuar, e de que não será apoiada a entrada no Brasil na OCDE.

Em outras palavras, um futuro sem proteção ambiental será um atraso para o país.

Em relação aos dados que têm a mostrar, às tendências que eles indicam, e à posição do Brasil no cenário econômico internacional, as consequências a se esperar da eleição de um ou outro candidato são consideravelmente diferentes.

“Quem cala, consente”, diz o ditado. Convido o leitor – e eleitor indeciso – a pensar a quais coisas consentirá no próximo domingo, caso decida anular o seu voto.

Homem pergunta: "Seu voto será por ódio ou por motivação política?" Mulher responde: "Deus, que dúvida..." Charge do Quinho, publicada no "Estado de Minas" em julho de 2022.
Charge do Quinho, publicada no “Estado de Minas” em julho de 2022.

Nota da Kika: Aproveito para indicar o vídeo abaixo, que mostra representantes do agronegócio, do mercado financeiro, médicos, advogados, engenheiros, gente que disse que votou em Bolsonaro em 2018, gente que disse que estava convicto de anular o voto neste ano, mas que decidiu votar no Lula em respeito ao Estado Democrático de Direito:

 

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

1 comentário

  1. Muito bom o artigo do Douglas Garcia. Idem, a seleção das charges e dos vídeos dos artistas e dos empresários.

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