Texto escrito por José de Souza Castro:

Uma foto de Jair Bolsonaro ao lado da neta do ministro da Fazenda de Adolf Hitler, Beatrix Von Storch – uma deputada neonazista alemã – causou indignação a membros da comunidade judaica. Ela faz parte de uma delegação de parlamentares alemãs que está no Brasil há três dias e foi recebida nesta segunda-feira por Bolsonaro, depois de se encontrar com um dos filhos dele, deputado Eduardo.
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O professor Michel Gherman, um estudioso do nazismo, com doutorado em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não tem dúvidas: “O governo Bolsonaro tem perspectivas nazistas”.
O presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, Alberto David Klein, repudiou, em nota à imprensa, um tweet de Gherman mostrando a foto de Bolsonaro entre Beatrix e outro deputado da extrema direita alemã e que dizia: “Feliz entre os seus. Um nazista entre dois nazistas alemães”.

Gherman não pregava no deserto*. Em outro tweet, o perfil Judeus pela Democracia publicou: “Pela 3ª vez em dias a VP do partido extrema-direita alemão aparece com governistas brasileiros: presidente da CCJ, filho do presidente e agora o PRESIDENTE DO BRASIL posam sorrindo e citando semelhanças com o partido xenófobo alemão. Sem rodeios: nazistas”.
Michel Gherman gravou um vídeo de sete minutos rebatendo David Klein. É bastante instrutivo.
“Os apoiadores do governo Bolsonaro” – diz o professor e pesquisador da UFRJ – “não devem ser tratados como bolsonaristas, mas como fascistas e nazistas”.
E diz que há dois anos vem escrevendo sobre isso na revista “Época”, “porque percebo, eu como tantos outros pesquisadores e acadêmicos, que a natureza deste governo é nazista”.
Ainda explica a David Klein que não teria havido holocausto em 1941 se não tivesse havido nazismo em 1933. A mortandade de judeus nos campos de concentração foi construída “por um regime que pregou ódio, que foi eleito por uma perspectiva ultraconservadora, racista, e que trabalhava com a ideia da tradição absoluta de valores”.
“O silenciamento, a percepção de que um cabo não seria grave se assumisse o poder, na Alemanha, possibilitou que houvesse Auschwitz”, acrescentou Gherman.
Segundo ele, no Brasil judeus votaram em Bolsonaro, “mas acho que alguns deles não tinham noção do que estavam fazendo. O que resulta difícil de acreditar dois anos e meio depois, ao escutar citações de Hitler sobre o nazismo, feitas pelo governo Bolsonaro”.
*Nota da Cris: Outras entidades que se manifestarem contra o encontro entre o governo Bolsonaro e Beatriz foram a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e o Museu do Holocausto. A primeira destacou que “trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto”. O segundo, publicou: “É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia” e disse que o partido dela tem “tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”.
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Parabéns pelos comentarios pertinentes. E na lista de protestos falta Federação israelita do Estado de Minas Gerais, que ainda não teve tempo para se pronunciar, E nenhum deputado ou senador mineiro disse alguma coisa. Rodrigo Pacheco também recebeu ela? Você menciona uma delegação de parlamentares. Ninguém mais falou disso, só falaram dela. E não no final, quais políticos e partidos apoiam o dito cujo.
Um grande abraço, Stefan Šalej
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Da Newsleter do UOL:
Segundo o colunista Jamil Chade, a legenda alemã passou a ser monitorada em seu país de origem sob a suspeita de tentar desestabilizar a democracia, além de ser recebida apenas por regimes controversos, ditaduras e violadores de direitos humanos.
Mesmo que tenha sido fora da agenda e divulgado apenas depois do final da viagem, a foto foi recebida no meio diplomático alemão com consternação e decepção em relação ao Brasil. Diversos jornais das principais cidades do país europeu também noticiaram o encontro, num tom de incredulidade.
O partido que Bolsonaro recebeu é ainda o primeiro a ser colocado sob vigilância desde 1945 pelo serviço de inteligência doméstica da Alemanha. O motivo: suspeita de tentativa de minar a Constituição democrática da Alemanha.
Beatrix von Storch, a deputada e vice-líder do partido que esteve com Bolsonaro, tem um passado complicado. De um lado, ela é neta do ministro de Finanças de Adolf Hitler por 12 anos e condenado pelo Tribunal de Nuremberg por crimes de guerra. Seu outro avô não era menos conhecido da cúpula nazista e fazia parte da SA, uma milícia paramilitar.
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