Lindo texto do talentoso poeta Fabrício Corsaletti, que, para minha honra, já foi meu professor de literatura:
“BALADA A FAVOR DAS ÚLTIMAS MANIFESTAÇÕES
a favor dos sem partido
sem dinheiro pra passagem
a favor dos estudantes
emperrando as engrenagens
a favor de uma garota
que tinha um olhar selvagem
e carregava um cartaz
escrito apenas “CORAGEM”
vou às ruas e hoje escrevo
uma balada-homenagem
vi um velho de muletas —
velhice = jardinagem —
caminhar cinco quilômetros
na maior camaradagem
vi uma mulher dançando
com seus cabelos na aragem
do alto de um edifício
incentivando a passagem
da passeata — e por isso
rendo aqui minha homenagem
que o governo não ignore —
nem se esconda na folhagem
da retórica política —
essa universal mensagem
pra que a esperança não morra
depois de nadar, na margem
nem a justiça se torne
piada, rancor, miragem
— ao eventual ouvinte
do poder, presto homenagem
dói o dia, dói a vida
dói em cada cartilagem
à dor, cerne da poesia
me doo nesta homenagem”
***
Lembrando que, nas palavras do poeta espanhol Vicente Aleixandre, ganhador do Nobel de Literatura de 1977, “a poesia é a comunicação entre os homens; o meio mais profundo e eficiente para atingir-se a intrigante realidade da vida”.
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