Por que as crianças adoram correr

Ontem, na minha folga, fui para um parque de São Paulo (esta cidade ultimamente surpreendentemente ensolarada e de céu azul) e deitei no gramado para ler o jornal.

Fui interrompida por uns gritinhos de alegria pura, coisa difícil de se ouvir corriqueiramente. Levantei os olhos e vi uma menininha, lá pelos seus 2 anos, correndo de um lado para o outro do gramado, sozinha, observada à distância pela mãe ou babá.

Foi só nesse momento, 27 anos e 3 meses de vida depois, que me dei conta de uma revelação: criança adora correr!

Crianças correm assim que conseguem parar em pé com algum equilíbrio. E, mesmo sem equilíbrio, ameaçando cair a qualquer instante, se sentem no melhor dos mundos quando têm espaço para andar velozmente, gritando e dando risadas com qualquer coisinha, olhando para os outros como que a dizer: “Viram só? Eu consigo correr!”

Elas correm por correr. Pela alegria de serem capazes de correr.

Fico me perguntando em que ponto da vida decidimos que o melhor é andar, ou, pior, ficarmos parados, de pé, ou ainda pior, sentados o dia inteiro, de frente pro computador, digitando sobre, por exemplo, como as crianças gostam de correr.

Crescemos e nos acostumamos à preguiça e ao comodismo e perdemos algo que é absolutamente natural e intrínseco a nós, como o gosto por correr.

E não é só isso. As crianças são aventureiras natas. Elas sabem o que é passar por mudanças radicais e evoluir em pouquíssimo tempo. Sabem o que é aprender a falar, a morder, a mastigar, a engatinhar, a ficar de pé, a andar, a correr, a andar de bicicleta de rodinhas, a andar de bicicleta sem rodinhas, a ler, a escrever… Tudo é um processo rapidíssimo e tinha tudo pra ser assustador, mas elas não têm medo, não choram, não temem: elas querem mudar, porque mudar é o natural.

Está em nosso DNA a capacidade e, diria, necessidade, de buscar caminhos novos, mesmo que cada vez mais difíceis. O comodismo e a preguiça são, por outro lado, posturas antievolucionistas e antinaturais. E, no entanto, quanto mais crescemos, mais as adotamos.

Convido vocês a traçarem um plano e MUDAREM algo de fundamental em suas vidas NESTA SEMANA. Não precisam esperar até o Reveillon para fazerem todas aquelas promessas que nunca terão coragem de cumprir. Nem esperar pelo sorteio da Mega-Sena, porque, aí sim!, com dinheiro tudo pode mudar. As mudanças estão em nossas cabeças — que são as que traçam os planos — e não no nosso bolso.

Daqui a alguns meses, vou recapitular o que foi que mudei na minha vida e ouvir de vocês o que fizeram de novo também — e o quanto foram capazes de correr e sorrir para chegar lá 😀


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

6 comments

    1. Pois é, nossa genética é naturalmente destemida. A sociedade nos imputa o medo. Então o desafio é que a gente se liberte e volte a ter a capacidade de mudar, evoluir e nos aventurarmos, como quando éramos crianças! 😉

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  1. Eu já havia percebido algo parecido: quando eu era criança era bem mais “sagaz”, não me importava muito de fazer mil coisas ao acaso e extrair um bom resultado de dez delas; hoje, digamos que acabo só fazendo as cinco coisas que sei que darão certo. Crianças são mais intrépidas, porque não sabem o que têm a perder. E com isso elas só ganham! É preciso nunca perder essa euforia, e ser um pouco uma personagem de James Barrie: se recusar a crescer se esse crescimento te corta o poder de voar (eu vou ficar metaforizando aqui até alguém me impedir, rs).

    Tentar mudar coisas desencaixadas é sempre bom, vou pegar o incentivo e tentar mais uma vez.

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    1. Acho que é uma das razões pelas quais, quando eu era criança, não queria deixar de ser criança de jeito nenhum. Minha capacidade de sonhar — e de acreditar piamente nos sonhos — era infinitamente maior que hoje. Meu pai me chamava de Peter-Pana. Mas, sempre que lembro, tento resgatar minha criança dentro de mim, pra criar coragem de fazer o que é preciso ser feito.

      Quando fizer suas mudanças, volte para contar como foram 😉

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  2. Olá Cris, descobri seu blog hoje, já leio o Novo Em Folha há um tempo! Gosto de seu jeito de escrever, já acho que te conheço! rsrsrs
    Adorei o texto, estou bem nessa fase da vida, perdi a coragem de criança há muuuito tempo, e tenho que resgatá-la agora a qualquer custo, esse seu post me inspirou e mais ainda, eu também nunca havia pensado nisso. Como é bom ver as crianças sendo crianças né? Elas fazem a gente acreditar que tudo é possível e é mesmo impressionante como elas gostam de correr e como são felizes quando correm!
    Beijo, belo post!

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