FHC, o homem da Avenue Foch

Paisagem na Avenue Foch. Foto: Wikipedia
Paisagem na Avenue Foch. Foto: Wikipedia
Paisagem na Avenue Foch. Foto: Wikipedia

Texto escrito por José de Souza Castro:

Alguém lembra, num site muito lido na Internet, o artigo escrito por Janio de Freitas e publicado pela “Folha de S.Paulo”, no dia 12 de janeiro de 2003, sob o título “O endereço”.

Transcrevo aquilo que continua interessando, 12 anos depois, “em tempo de murici”. Aquele tempo bicudo no qual, conforme o coronel Pedro Tamarindo, em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, “cada um cuida de si” – do que parece não ter-se dado conta (e nem eu) o ex-presidente da República que tanto tem escrito sobre corrupção no governo atual. Escreveu Janio de Freitas:

“Data imprecisada, ou imprecisável, e não recente. Fernando Henrique Cardoso, no uso de toda a simpatia possível, discorre para os comensais suas apreciações sobre fatos diversos e pessoas várias. De repente, intervém a mulher de um brasileiro renomado, há muito tempo é figura internacional de justo prestígio, ministro mais de uma vez, com importantes livros e ensaios. Moradores íntimos de Paris por longos períodos, mas não só por vontade própria, consta que nela nada restringe a franqueza. Se alguém na conversa desconhecia a peculiaridade, ali testemunhou um motivo para não esquecê-la:

— Pois é, mas nós sabemos do apartamento que Sérgio Motta e você compraram na Avenue Foch.

Congelamento total dos convivas. Fernando Henrique é quem o quebra, afinal. Apenas para se levantar e afastar-se. Cara fechada, lívido, nenhuma resposta verbal.

A bela Avenue Foch, seus imensos apartamentos entre os preços mais altos do mundo, luxo predileto dos embaixadores de países subdesenvolvidos, refúgio certo dos Idi Amim Dada, dos Bokassa, dos Farouk e, ainda, de velhos aristocratas europeus.

Avenue Foch, onde a família Fernando Henrique Cardoso está instalada. No apartamento emprestado, é a informação posta no noticiário, pelo amigo que passou a figurar na sociedade da fazenda também comprada por Sérgio Motta e Fernando Henrique Cardoso, em Buritis.

Avenue Foch, é ela que traz de volta comentários sobre a historieta, indagações de sua autenticidade ou não, curiosidade em torno do que digam outros possíveis comensais.”

Já que estamos em fase de recordações, vale lembrar, para os ingênuos que acham que a corrupção na ditadura militar era menor que a atual (e não era; apenas menos divulgada pela imprensa, por razões diversas). O fato é que a imprensa brasileira preferia não falar sobre corrupção no governo, sobretudo porque ela envolvia, desde sempre, grandes empresas públicas e privadas.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o terceiro livro do jornalista mineiro José Carlos de Assis, que conheci na década de 1970, no Copy do Jornal do Brasil, no Rio. Depois de a editora Paz e Terra ter lançado com sucesso dois de seus livros – “A Chave do Tesouro” e “Os Mandarins da República” –, o editor Fernando Gasparian se animou a publicar no ano seguinte (em 1984, quando a ditadura já agonizava), “A Dupla Face da Corrupção”. Saiu com uma tiragem ambiciosa, para os padrões brasileiros da época. Mas os 45 mil exemplares ficaram em grande parte encalhados no depósito da editora, pois não receberam a divulgação esperada. O livro pode ser encontrado para compra na internet. Por exemplo, AQUI. Certamente, em tempo de murici, é um livro bem atual.

Mais que os recentes artigos de Fernando Henrique Cardoso, o homem do apartamento da Avenue Foch, um dos endereços mais caros do mundo.

Ah, e quem acha que o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo, convém se informar melhor. Por exemplo, AQUI.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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