Bastidores de uma Redação de jornal: como um repórter se torna colunista?

Xico Sá, em foto de 2016 creditada ao Mídia Ninja.
Xico Sá, em foto de 2016 creditada ao Mídia Ninja.

Quase encerrando o resgate da série de 15 episódios que fiz em 2010 para o blog Novo em Folha, da “Folha de S.Paulo”, sobre os bastidores de uma redação de jornal, hoje trago o episódio que mostra como um repórter se torna colunista.

Como escrevi na época, “cada colunista tem uma trajetória profissional própria, não há um caminho único para alguém que queira ser colunista”.

Vinicius Torres Freire, por exemplo, quase nunca foi repórter, foi editor a vida toda antes de assinar a coluna de economia. Há diversos colunistas da Folha que jamais foram jornalistas: são especializados nos temas que costumam abordar, como saúde, finanças ou literatura, por exemplo.

A Folhapress tem uma lista atualizada com 80 colunistas da Folha, com nomes tão diversos quanto Contardo Calligaris (psicanalista), Nina Horta (cozinheira), Barbara Abramo (astróloga) e Julio Abramczyk (médico).

(…) Por isso, escolhi um colunista de que gosto muito e que considero exemplar por ter sido repórter por vários anos e, desde 2005, ter se tornado colunista de Esporte da “Folha” (antes, desde 97, já era colunista da Revista da Folha). Eis o relato que Xico Sá nos enviou em meio à cobertura da Copa do Mundo”.

Como Xico Sá se tornou colunista

Nas palavras do próprio jornalista, enviadas para mim em julho de 2010:

“Nos quase 30 anos de jornalismo – comecei aos 16, como redator de conselhos sentimentais na Rádio Vale do Cariri, em Juazeiro –, fiz de tudo, em todas as editorias possíveis.

Na maior parte deste tempo, no entanto, fui repórter, que é a função na qual me destaquei, por “sorte” e uma série de furos, sendo a experiência de 12 anos na Folha de S.Paulo a mais interessante.

Deste período, sublinharia a cobertura do caso Collorgate, que culminou com a revelação do destino do “capo” PC Farias, entre outras descobertas.

Iniciei como colunista em 1997, quando passei a acumular, com a função de repórter especial, a seção “Macho”, da Revista da Folha. Há cinco anos, me tornei colunista do Esportes, nesta mesma Folha, com uma crônica semanal às sextas-feiras.

Em ambos os casos – tratando do universo masculino na revista e do futebol no jornal –, os convites surgiram de editores que me ouviam falando sobre os temas em restaurantes ou bares, depois do expediente na Redação.

Como característica, o que prevalece é o humor e alguma dose de lirismo, elementos comuns na história da crônica.

Para ter um texto razoável e saber expor melhor os assuntos, porém, qualquer colunista carece de muita leitura. Não obrigatoriamente sobre os temas que ele trata. Prefiro, por exemplo, ler mais ficção (romances e contos) do que livros específicos da minha área.

Escrevo muito rápido, por causa da longa experiência em correrias de reportagens e fechamentos.

O drama é sempre encontrar um bom tema para a coluna. Como trato mais do futebol da perspectiva do torcedor, o gancho pode ser uma frase de um garçom, algo ouvido na mesa de lado, uma frase no café da padaria… Fico sempre muito atento a esta rotina. Às vezes acho a saída simplesmente lendo um conto qualquer ou folheando uma revista velha – em algumas ocasiões basta uma palavra pra despertar o inicio da crônica.

Tudo isso e muito café, claro, o que me deixa no ponto para a escrita 👍”

Quem é Xico Sá?

Xico Sá pediu demissão da “Folha” em 2014, por conta de uma coluna em que defendia o voto na Dilma (leia a explicação que ele deu na época).

Mas sua carreira é muito mais vasta que apenas a passagem pelo jornal paulistano. Ele nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife, onde se formou em jornalismo pela UFPE.

De lá, passou por várias redações e emissoras de TV, como O Estado de S. Paulo, revista Veja, Folha de S.Paulo, El País, Globo (GNT, Canal Brasil e Sportv) e ESPN/Brasil.

Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo).

Já ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. É autor de “Big Jato” (Companhia das Letras), “A Falta” (Planeta), entre outros livros.

Hoje faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias.

Próximo episódio: como é o dia de um fotógrafo de jornal?

Na segunda-feira (22), encerro mais este resgate de uma memória bacana do jornalismo, com um post sobre o dia a dia dos repórteres-fotográficos de um jornal. Para fazer esse episódio, ouvi cinco profissionais que trabalhavam na “Folha” na época:

  • Alan Marques
  • Rafael Andrade
  • Mastrângelo Reino
  • Moacyr Lopes Junior
  • Joel Silva

Até lá! 😀

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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