Kramp é um daqueles livros em que o narrador, em primeira pessoa (no caso, a narradora), é uma criança. E em que a perspectiva infantil traz leveza a um contexto que, se fosse narrado por um adulto, seria bem mais brutal. Outros livros que fizeram o mesmo foram O Sol é para Todos, Festa no Covil, Anos de Chumbo, A Vida Pela Frente e O Bom Ladrão, por exemplo.
No caso de Kramp, os pais da narradora se casam em novembro de 1973 e a história se passa quando ela tem entre 6 e 9 anos, mais ou menos. Ou seja, temos um período bem delimitado de tempo: a ditadura militar sangrenta do Chile.
E é essa barbárie que será amenizada pelo olhar da criança, mas não só ela. O abandono da mãe, que entra numa depressão profunda (mais para o fim descobriremos por quê) e a criação “inconsequente” do pai também ganham contornos de contos de fadas pela perspectiva da narradora.
Ela passa a acompanhar e desejar a companhia do pai e seus amigos, caixeiros-viajantes bufões, que se tornam sua família, em uma road trip regada a cigarros, álcool e a esquemas para garantir a sobrevivência de todos.
Essa experiência, embora pudesse ser apenas traumática, constrói a personalidade da garotinha, que anseia pelos momentos cheios de afeto junto a seu pai e aos outros personagens da história – todos identificados apenas pela primeira letra de seus nomes, como se precisassem ter sua identidade preservada, sendo a única exceção o “fantasma” da história, o nome e sobrenome que dá forma concreta aos atravessamentos da ditadura na vida daquela família.
Enfim, é um livro curtinho, de menos de 100 páginas, mas muito rico em histórias e em despertar reflexões e propósitos na gente.
Até a mensagem da última página, aquela normalmente reservada apenas a falar qual foi a gráfica que imprimiu a obra, e qual fonte tipográfica foi usada, trouxe um pitaco politizado para nós:
Afinal, como bem sabemos, “a história se repete, seja como tragédia ou como farsa“.
“Kramp”
María José Ferrada
ed. Moinhos
88 páginas
R$ 48 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
Você também vai se interessar:
- Minha seleção de livros de escritoras mulheres
- Filmes e livros que todo bolsonarista deveria ver e ler
➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de Cristina Moreno de Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.
➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉
Descubra mais sobre blog da kikacastro
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.





