Texto escrito por José de Souza Castro:
No último domingo (9), Elio Gaspari, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, sob o título “Bolsonaro não pagará cadeia“, prevê que, se for condenado, Jair Bolsonaro não pagará um só dia de cadeia. Irá para uma embaixada e pedirá asilo diplomático.
Em fevereiro de 2024, Bolsonaro dormiu uma noite na embaixada da Hungria, mas não pediu asilo. Se pedisse, informa Gaspari, corria o risco de ficar lá por algum tempo, até que o governo brasileiro lhe concedesse um generoso salvo-conduto, pois a Hungria não é signatária da Convenção de Havana de 1928, que regula o asilo diplomático. O mesmo com os Estados Unidos, que também não é signatário.

Acrescenta Elio Gaspari, hoje colunista da “Folha” e que foi editor de política no “Jornal do Brasil”, quando lá trabalhei:
“Se resolver ir para a embaixada da Argentina, a concessão do asilo é certa e o salvo-conduto não deverá demorar. O asilo pode ser concedido ao cidadão que entra numa embaixada e se declara perseguido político.”
Penso como Gaspari, neste caso. Não duvido que Bolsonaro fuja mais uma vez. Só não acho que, exilado nos Estados Unidos ou em outro país, ele sofra o que Juscelino Kubitschek sofreu, ao se exilar em Paris em 1964, para não ser preso e assassinado pela ditadura (que Bolsonaro apoiou e quer de volta).

Em julho daquele ano, JK escreveu ao amigo Affonso Heliodoro dos Santos uma carta manuscrita que ele transcreveu em seu livro “JK Exemplo e Desafio”:
“Todas as manhãs, ao despertar, penso que ainda vou encontrá-lo no meu quarto e no meu banheiro para os primeiros comentários do dia. Hábito velho que trouxemos de Minas, levamos para o Rio, e não posso esquecer.
Não quero fazer poesia em torno de exílio. Não sou Gonzaga e a minha lira se partiu no fragor das lutas que travamos. O econômico predominou e passamos a olhar as cousas e o Brasil sob o prisma de nossos deveres. Mas não posso deixar de confessar que viver fora do país, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil, só estudava Brasil, só viajava pelo Brasil e em torno de si reunira uma equipe só para adorar o Brasil.
Você, meu caro Afonso, não pode perder a experiência que adquiriu. Notável. Autodidata, aprendeu consigo mesmo cousas que me deixavam surpreso. É preciso ainda aproveitar para o Brasil a sua experiência. Não sei quando irei encontrá-lo. Creia, porque os três mosqueteiros ou, por outra, os três coronéis e mais o 4º mosqueteiro que é o João Luiz, são peças que compõem, hoje, a própria estrutura do meu sentimento.”

Transcrevi a carta num artigo neste blog informando sobre a morte do coronel Affonso num domingo, dia 21 de outubro de 2018:
“Desapareceu ali, no crematório do Parque da Colina, em Belo Horizonte, o corpo do coronel PM Affonso Heliodoro dos Santos, que fez história no Brasil ao lado do amigo Juscelino Kubitschek, seu conterrâneo de Diamantina. Havia completado no sábado, ao morrer de enfarto, 102 anos e 186 dias de vida bem vivida. Trabalhou até os 99 anos, quando deixou Brasília, para vir morar na capital mineira e ficar mais perto dos filhos e netos.
Não queria viver mais do que isso. Nos últimos dias, conforme o filho caçula, Affonsinho – o conhecido compositor e cantor, pai de duas de minhas netas –, já se mostrava desinteressado de tudo. Não se animava nem quando o filho lhe falava de JK.
Fico me perguntando se a causa do desinteresse vinha da idade, dos problemas de saúde, da lembrança de tantos amigos e parentes já mortos, ou da perspectiva de ter de viver mais uma vez numa ditadura. A última levou o amigo JK ao desterro em Paris (e ao assassinato, quando retornou ao Brasil e participava de um movimento pela volta da democracia).”
Outra pergunta que me faço é se Bolsonaro, em seu exílio preconizado por Elio Gaspari, diria que viver fora do país, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem.

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