Guarda-chuva, óculos novos, uma meia velha, cebolas refogadas, luzinhas de natal, pêlos nascendo no ouvido, um pet shop, a Copa do Mundo, uma vibração na coxa, o sustinho, a mudança de cor do cabelo, um espermograma, a mecânica de um carro, placas de lanchonetes, uma velha foto de família, a procrastinação, a gostosa do câmera, uma tuba, os meses do ano, as peripécias de um bebê.
Literalmente qualquer coisa pode virar tema de uma crônica de Antonio Prata. Ele é um daqueles seres talentosos que conseguem transformar um alfinete em uma história maravilhosa.
Muitas vezes são histórias prosaicas, despretensiosas, que nos fazem rir até pela insignificância do objeto que aparece sob a lupa do autor. Mas não raro ele se aproveita dessa suposta irrelevância para divagar sobre assuntos mais profundos.
Talvez por isso, ele me fez lembrar de outros cronistas maravilhosos que já marcaram a literatura brasileira, como seu ídolo Rubem Braga e meu favorito Paulo Mendes Campos. A diferença é que Antonio Prata traz o olhar agudo desses mestres, e sua narrativa gostosa de ler, num texto perfeitamente bem escrito, mas atualiza os assuntos para os anos 2010, já com nossas loucuras de redes sociais e smartphones vibrando no bolso o dia inteiro.
É sobre isso “Trinta e Poucos“, o primeiro livro de crônicas de quem hoje é o principal cronista em atividade no país. Um livro que reúne os textos publicados na “Folha de S.Paulo” numa época em que o autor que hoje tem 47 anos tinha apenas 30 e poucos (aliás, tem uma crônica sobre ele não saber que idade tem, rs).
Um livro curto, de textos curtos, feitos para caber no escasso espaço de um jornal impresso, que a gente devora facilmente, alternando o riso à reflexão, o “que genial!” ao “que bobo!”, sem perder o encanto pela capacidade que o banal tem de nos surpreender. Mas só nas mãos dos Bragas, Campos e Pratas deste mundo.
Trinta e Poucos
Antônio Prata
Ed. Companhia das Letras
226 páginas
R$ 52,18 na Amazon (preço consultado na data do post, sujeito a alteração)
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