Os perigos da Petrobras, segundo ‘The Economist’

Charge do Nani sobre a Petrobras
Charge do Nani sobre a Petrobras

Texto escrito por José de Souza Castro:

Tem vários artigos meus sobre a Petrobras neste blog, desde os tempos em que Pedro Parente presidia a empresa no governo Michel Temer, entre 2016 e início do governo Bolsonaro. Agindo como se estivesse numa empresa privada, vendeu ativos em fertilizantes, distribuição e petroquímicos – e até refinarias – por alguns bilhões de dólares.

Volto agora ao tema, atraído por um artigo de “The Economist“, do dia 15 deste mês, com o título “Por que Lula continua se intrometendo na maior petrolífera da América Latina“.

O artigo, que não é assinado, mais parece um editorial em defesa dos acionistas. Afirma que os “piores instintos (de Lula) estão a minar os ganhos duramente conquistados pela empresa petrolífera nacional”.

Contraditoriamente, admite que neste mês de fevereiro a Petrobras atingiu um valor de R$ 551 bilhões (US$ 112 bilhões) na bolsa de valores do país, um recorde. “As suas ações superaram as da ExxonMobil e da Chevron no ano passado”.

Meses antes, prossegue o artigo, “tinha traçado uma estratégia de investimento que custaria US$ 102 bilhões ao longo dos próximos cinco anos, o maior plano deste tipo em quase uma década.”

A maior parte dos investimentos “irá para a expansão de bacias offshore no Sudeste do país, conhecidas como pré-sais, e para o desenvolvimento de novos campos offshore no Nordeste. A expansão poderá ajudar o Brasil a tornar-se o quarto maior produtor de petróleo do mundo até o final da década, subindo do sétimo lugar hoje, de acordo com a Rystad Energy, uma consultora”.

Até aí, nada dos “perigos da Petrobras”. Mas depois a revista muda o tom:

“Apesar das manchetes elogiosas, os investidores devem estar vigilantes. Sob a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ou Lula), que esteve anteriormente no poder de 2003 a 2010, o governo está cada vez mais se intrometendo nas decisões da Petrobras, após vários anos durante os quais a interferência estatal diminuiu. Isso está levando a más escolhas de negócios. Também aumenta a possibilidade de corrupção”.

A partir desse ponto, por vários parágrafos, a revista inglesa descreve o que se passou ao longo do governo Dilma Rousseff:

“quando os preços do petróleo caíram em 2014, o escândalo de corrupção eclodiu e o real se desvalorizou, a Petrobras atingiu o ponto mais baixo. (…) Em 2015, tinha dívidas que totalizavam quase 130 mil milhões de dólares, o que a tornava a empresa petrolífera mais endividada do mundo. No ano seguinte, havia perdido 90% do seu valor em relação a 2011.”

Segue-se então os elogios a Pedro Parente, “um CEO perspicaz”, que teria estabelecido duas condições, ao ser convidado por Michel Temer: “A empresa tem que ser guiada por bons princípios empresariais e não deve haver interferência política”.

O preço interno do combustível estava ligado ao seu custo no mercado internacional.

“Para evitar outro escândalo de corrupção, Parente criou um departamento de conformidade independente e um canal robusto para denunciantes. Crucialmente, tornou-se mais difícil para os executivos corruptos tomarem decisões individuais sobre aquisições. Agora, uma equipe de gerentes de diferentes departamentos deve aprová-los”.

Beleza, não? “Em 2021, o valor da empresa era de cerca de 70 mil milhões de dólares, e as suas dívidas caíram para 37 mil milhões de dólares.” (Valia bem menos do que hoje, repararam?)

Mas aí chega Lula. E vai chegando ao final a reportagem (editorial?):

“As recentes ações de Lula sugerem que ele não aprendeu com os fracassos do passado. No dia 18 de janeiro, ele anunciou que a Petrobras iria expandir uma refinaria em seu estado natal, Pernambuco, que está atolado em escândalos há anos. Lula sugeriu que a razão pela qual a refinaria estava incompleta era porque os Estados Unidos não queriam que o Brasil se tornasse uma potência petrolífera e estava em conluio com promotores anticorrupção”.

Sobrou até para Ricardo Lewandowski, que em março do ano passado, então juiz do STF, suspendeu uma seção da lei das empresas estatais, “permitindo assim que as empresas nacionais nomeassem políticos para cargos de liderança, se assim o desejassem”.

Finalmente, a conclusão do texto:

“Embora seja improvável que a Petrobras despenque ao nível que caiu há uma década, as recentes medidas do governo poderão minar o sucesso duramente conquistado pela empresa. Mesquita (Marcelo Mesquita, representante dos minoritários no Conselho de Administração da Petrobrás, e, aparentemente, o único entrevistado pela revista, que não cita outros entrevistados) diz que os acionistas minoritários “fizeram muito barulho” quando alterou o seu estatuto. “Se você não estiver constantemente vigilante, as coisas podem voltar a ser como eram”. Isso seria uma má notícia para a Petrobras e pior para o Brasil.”

Termino aqui com essa pílula de “sabedoria” dessa revista muito lida por banqueiros e investidores. Deixo as conclusões para o leitor que pode, se quiser, comparar com meus artigos anteriores.

Por exemplo, estes:

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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