‘A Menina Silenciosa’: o poder do afeto

Cena do filme irlandês 'A Menina Silenciosa'
Cena do filme irlandês 'A Menina Silenciosa'

Vale ver no cinema: A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin)
2022 | 1h35 de duração | Classificação: 14 anos | nota 9

Este filme, em cartaz nos cinemas agora, concorreu ao Oscar de 2023 na categoria de melhor filme internacional, ao lado do vencedor “Nada de Novo no Front” e do também excelente “Argentina, 1985“.

Representante da Irlanda, “A Menina Silenciosa” é sobre Cáit, uma garotinha de 9 anos que nunca tinha conhecido o afeto ou o carinho em sua própria numerosa família.

Quando a mãe engravida de novo, ela é enviada para a casa de uma prima distante para passar o verão, e largada lá só com a roupa do corpo.

E o filme vai mostrando como a vida dessa criança tão silenciosa, tão introvertida, tão fechada dentro de si mesma (como se quisesse desaparecer, como se não quisesse nem mesmo existir, para não ser notada por ninguém ao redor), vai, aos poucos, se iluminando.

Graças ao afeto que ela passa a receber, que passa a descobrir que existe.

Tudo nesse filme é bonito: os olhos tristes e azuis da atriz que faz Cáit (Catherine Clinch), o rosto bondoso de Eibhlín e de Seán, que a abrigam em sua casa, o idioma difícil com que conversam entre si (gaélico irlandês), mas também a poeira suspensa no ar, refletindo o brilho do sol, as árvores frondosas balançando com o vento enquanto a criança corre olhando para elas, as luzes distantes refletidas na água.

O filme é cheio de tomadas bonitas, que passam sem pressa, nos convidando a sentir a realidade de Cáit, inclusive sob seu ponto de vista: a nuca do pai dirigindo à sua frente, o cinzeiro do carro cheio de bitucas de cigarro, a janela mostrando a passagem das nuvens.

Interessante que uma das cenas mais feias do filme faz um contraponto justamente com o silêncio e a quietude de Cáit: é sobre a crueldade da língua ferina de uma mulher adulta, que não se importa em falar-falar-falar, mesmo que suas palavras causem dor.

“Você não precisa dizer nada. Muitas pessoas perderam a chance de não dizer nada e perderam muito com isso”, diz Séan. É verdade. Ele, aliás, é um personagem encantador, que consegue dizer muito sem palavras (deixando um biscoito recheado na mesa, por exemplo).

“A Menina Silenciosa” é um filme bonito, com poucos diálogos, muitos olhares, muitos sentimentos. Uma pequena fábula sobre o poder e a importância do afeto na vida de uma criança (ou de qualquer pessoa, em última instância).

Sobre a capacidade de transformação que um olhar carinhoso, atento e cuidadoso possui. Sobre o real significado da palavra família.

Assista ao trailer de “A Menina Silenciosa”:

 

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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