‘Vamos Comprar um Poeta’, de Afonso Cruz: arte e cultura são necessárias

Grafitti mostra homem visto de cima tocando piano, ao estilo do jazz.
Pintura, música, poesia... Arte e cultura são essenciais à vida! Foto: Akram Huseyn / Unsplash

Este livro traz várias mensagens, mas acho que a mais importante delas é sobre o valor da cultura e das artes para a sociedade.

E é bom que nos lembremos disso sempre. Mas ainda mais em tempos insanos como este atual.

Já vivemos épocas em que livros – e até bibliotecas inteiras – eram queimados. Hoje, no Brasil neofascista do bolsonarismo, artistas historicamente valorosos são jogados à fogueira.

O crime que cometeram? Em alguns casos, apenas defender o mínimo: a democracia.

Neste livro, estamos em um futuro distópico em que os números valem mais que as palavras, e mesmo as palavras que existem carecem de qualquer imaginação.

As pessoas não se chamam João, Rosa, Luiz ou Isabel: são a 76C, a BB9, ou NM792.

Os beijos não são medidos pelo afeto que carregam, mas pelos mililitros de saliva que são deixados nas bochechas.

Os choros não denotam tristeza, raiva ou desespero, mas outra quantidade exata de lágrimas derramadas.

Tudo é quantificado, medido, calculado. E o objetivo dessa sociedade estatística é “fazer girar a economia”, gerar lucro máximo, “crescimento e prosperidade”.

Assim, até as palavras são usadas de forma a serem “úteis” para essa engrenagem, e qualquer coisa que fuja dessa lógica – poemas, metáforas, outras figuras de linguagem – é xingado aos berros: “Inutilista!!!!”

(Qualquer semelhança com os gritos de “O mercado caiu! O mercado se agitou! O mercado não gostou!” diante de discursos emocionados pelo fim da fome não é mera coincidência.)

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Nesse mundo louco, em que até as pantufas são patrocinadas, os artistas viraram peça de mercadoria. Os poetas são como cachorrinhos, comprados meramente pra entreter – desde que não sejam subversivos!

Mas eis que o poeta da família faz sua mágica, ao demonstrar como a cultura, as artes, a emoção, a imaginação, a criatividade, as invenções – enfim, todas essas coisas incríveis que abastecem o cérebro dos poetas e também dos cientistas – são capazes de mudar tudo para melhor.

Inclusive, voluntariamente ou não, a danada da economia.

Este livreto curto, de menos de 100 páginas, que a gente lê numa sentada, é um manifesto de amor à cultura.

Ou um manual de como ser livre dentro de um mundo escravizante e fanático.

Ou, que nada, nem manifesto nem manual: é apenas um grande viva à poesia!

 

Capa do livro "Vamos Comprar um Poeta", de Afonso CruzVamos Comprar um Poeta
Afonso Cruz
Ed. Dublinense
91 páginas
R$ 40,32 na Amazon

 


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

2 comments

  1. Estou lendo “Tempos fraturados”, de Eric Hobsbawm, publicado pela Companhia das Letras, em 2013, cujas duas primeiras partes falam da difícil situação da cultura erudita hoje e da cultura do mundo burguês, e me lembrei de um episódio dos meus tempos de estudante em plena ditadura.

    Um colega do curso de jornalismo da UFMG, Ivan Passos Ribeiro, filho de um comunista de Guapé, se exilou na Bolívia ou Peru em 1971, depois que um tio economista foi preso pela repressão e ele ficou com medo de ser o próximo. Vinha ajudando “subversivos” procurados pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) a fugirem.

    Por dois meses, moramos numa república de estudantes no Bairro Santo Antônio. Atendendo a pedido de Ivan, levei um deles no meu fusquinha até a barreira da PFR, na saída para Vitória, porque era muito arriscado pegar um ônibus na Rodoviária. Lá ele conseguiu embarcar e desapareceu da minha vida, sem deixar nome.

    Tinham seus esquemas, até na PRF…

    Antes de partir para o exílio, Ivan deixou comigo seus livros subversivos, entre eles, “Manual do Guerrilheiro Urbano”, de Carlos Marighela, e obras de Mao Tse Tung. “Se sentir perigo, pode queimar”, avisou.

    Eu trabalhava na Petrobrás. Antes de me casar, eu já havia sido demitido, e resolvi me livrar dos livros, mas não tive coragem de queimá-los. Numa madrugada, deixei o pacote embrulhado em jornais num passeio da Av. do Contorno. No dia seguinte, voltei lá e tinham desaparecido. Esperei, então, que tivessem sido úteis a quem os encontrara.

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    1. Ditaduras são tristes por isso, até os livros são considerados perigosos. Pensar é perigoso. Manifestar-se livremente é perigoso. Fácil é hoje, numa democracia, ver esses maus perdedores orando e clamando às Forças Armadas pela ditadura. Muito mais difícil é, numa ditadura, alguém conseguir sair às ruas pedindo pela democracia…

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