Um contraponto sobre o filme ‘Mãe!’

No post de ontem, escrevi como achei o filme “Mãe!” sofrível, apesar de ter seus méritos. Recebi um e-mail do leitor Angelo Novaes, poeta e filósofo que já escreveu várias vezes aqui no blog, trazendo um contraponto interessante. Por isso, com a devida autorização dele, decidi reproduzir aqui no blog, ainda mais levando em conta que este é um dos filmes mais polêmicos dos últimos tempos. Antes de lerem o texto do Douglas, um alerta: contém spoilers! Não muitos, mas contém, porque ele já traz a interpretação que ele fez da alegoria de Darren Aronofsky.

Aí vai:

“Como cinema, ele é interessante pois, ao colocar a câmera sempre muito perto da protagonista, e mostrar o ambiente sempre em enquadramentos muito fechados, ele cumpre bem a tarefa de incomodar o espectador com a dúvida: ‘Será que é tudo imaginação dela? Será que ela está enlouquecendo?’. Acho interessante, do ponto de vista estético.

Outro ponto que eu gostei é mais metafísico/teológico: ele passa a imagem de um deus egoísta e mesquinho, mau mesmo, que não se importa com a natureza, nem com a humanidade, nem com o seu filho. Um deus que não se relaciona a não ser com a sua própria imagem — e uma humanidade, como um reflexo dessa atitude, que cultua seu poder-ser-destruidor.  É bem provocadora a hipótese, nos dias de hoje, não?

O cineasta é bastante habilidoso em manter o ritmo o tempo todo do filme, surpreendendo o espectador, que, de início, pensa estar diante de uma narrativa realista, sobre um casal que está passando por problemas de relacionamento. Ele também lida habilmente com influências como Roman Polanski, de “Repulsa ao sexo” e Lars von Trier, de “Anticristo”. É somente na última parte do filme que conseguimos “fazer sentido” do que está sendo mostrado, e de que é uma proposta alegórica, com um pano-de-fundo teológico. A ideia de um deus mau tem o interesse de incomodar o espectador, propondo-lhe uma questão: será que a essa humanidade amesquinhada de que fazemos parte somente um deus mau poderia fazer justiça?

Para mim foi muito bacana ver o filme!
Os filósofos se divertem tanto quanto as crianças.

Dou nota 9,5.”


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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