
Qual é a graça de ler uma novela da Agatha Christie já sabendo quem é o assassino? Pois foi o que me aconteceu certa vez. A culpa não foi de nenhum amigo linguarudo, mas do resumo minúsculo que estava na contracapa do livro, e dava uma pista substancial sobre quem estava por trás de todos aqueles crimes.
Fiquei tão revoltada com isso que, desde aquele livro — e já faz um bocado de tempo –, parei de ler até as contracapas dos livros, mesmo com os menores resumos. As orelhas, então, nem se fala. É muito raro eu permitir que elas estraguem meu prazer.
Mas acabei me esquecendo dessa regrinha de ouro na semana passada. Eu estava começando o clássico “O Fio da Navalha”, de Somerset Maugham, quando me perguntei se o romance seria meio autobiográfico, como era “Servidão Humana” (que adorei!). Pensei: deixa eu ler na orelha, para ver se eles falam disso. Qual não foi minha surpresa — e ódio — ao constatar que a orelha contava TODO o enredo do livro? Parei a tempo de ver o final, mas, antes disso, já tinha percorrido o que ainda ia ser lido centenas de páginas adiante.
QUAL É O PROBLEMA DESSES EDITORES?!
Acho que um dos maiores prazeres da leitura é se entregar à narrativa totalmente às cegas quanto ao seu conteúdo. Tudo bem, o conteúdo não é tudo: a forma como o autor descreve a história, seu estilo, também são essenciais. Mas acho que perde metade da graça quando eu sei demais sobre o que vai acontecer. Suspense não é pré-requisito apenas de romances policiais, afinal.
Por isso, toda vez que faço uma resenha, de livro ou filme, aqui no blog, sempre tenho o cuidado de não me aprofundar demais na história, abordando apenas os motivos mais periféricos que me levaram a gostar tanto dela. E acho O FIM DO MUNDO quando uma editora consegue, em cinco linhas, revelar o assassino de um livro de detetive ou descrever tudo o que vai acontecer com o protagonista de um livro de personagem.
Como não dá para confiar nas editoras, deixo aqui a dica aos leitores: se você, assim como eu, também detesta spoilers, evite ler orelhas e contracapas dos livros. É melhor prevenir, porque não há remédio — só, talvez, uma máquina que apaga seletivamente a memória da gente, ainda não disponível no mercado.
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Gente, que transmimento de pensação, rs.
Isso aconteceu comigo com o livro “Minotauro”, de Benjamin Tammuz, recentemente lançado no Brasil pela brand new Rádio Londres – que só tem editado livraços.
Estava na livraria, li a contracapa e orelhas de Minotauro e pensei “uau, tenho que ler esse livro”. Comprei, cheguei em casa e comecei a ler. Estava entretida com a leitura, no entanto permanecia o sentimento de estranheza de que eu não tinha entendido uma questão mencionada na orelha. Nas páginas finais do livro, eis a solução do mistério: não era eu que estava lesada, era a a orelha que revelava uma questão somente esclarecida no finalzinho do livro.
O livro não é de mistério e assassinato, mas era melhor que eu não soubesse a informação que estava na orelha, porque grande parte do valor da narrativa estava na revelação gradual e fora da ordem cronológica da vida do protagonista.
O editor dessa vez comeu mosca, mesmo.
Mas a não ser que a capa ou título me atraiam muitíssimo, mesmo, não consigo dispensar a leitura da contracapa ou da orelha antes de começar a leitura de um livro. Não tenho essa sua determinação e força de vontade, rs.
abraços
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É, confesso que nem sempre consigo deixar de ler também, rs
Mas tenho tentado ler a contracapa só em casos em que realmente não sei neca sobre o livro ou o autor. Se conheço minimamente, evito ler.
Por outro lado, não consigo deixar de ver trailers quando estou no cinema!
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