Promessas ao vento

Texto escrito por José de Souza Castro:

Políticos mineiros que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff receberam com ceticismo a promessa de liberação de R$ 2 bilhões para ampliação do metrô de Belo Horizonte, feita na última visita da presidente da República a Minas. Para muitos, é mais uma promessa de campanha eleitoral que não será realizada.

Apontado como principal adversário de Dilma nas eleições de outubro, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou em nota à imprensa que em 12 anos de governo do PT foram aplicados R$ 171,7 milhões nos metrôs de Recife e Salvador, mas nada se investiu no metrô de Belo Horizonte.

Às vésperas de uma nova eleição, afirmou o ex-governador mineiro, “a presidente improvisa e repete diversas vezes os anúncios de liberação dos mesmos recursos que sequer vão acontecer no seu governo”.

Só há uma resposta possível, para a presidente: que o dinheiro seja de fato liberado e que as obras de ampliação do metrô não demorem a sair do papel. Sem isso, o descrédito dos mineiros só tende a aumentar, até outubro.

O pacote de promessas incluiu também R$ 550 milhões para outras obras em Minas. Elas fazem parte do PAC da Mobilidade Urbana lançado em junho passado, com a promessa de investimentos de R$ 50 bilhões no país.

É preciso reconhecer que promessa não cumprida, sobretudo quando feita com os olhos nas urnas, é um hábito antigo de políticos brasileiros. Não é algo que se possa imputar apenas à primeira mulher a presidir o país. Seria até cansativo listar as promessas de Aécio, feitas antes e durante o seu governo, que foram esquecidas.

Confesso que não me animei a fazer a pesquisa, mas não acredito que minha suposição seja errada. As do prefeito Marcio Lacerda, qualquer belo-horizontino será capaz de exemplificar melhor do que eu.

Às vezes, o descumprimento nem é por culpa do político. Neste fim de semana, o portal G1, do Grupo Globo, divulgou ampla reportagem sobre a estrada de ferro Transnordestina. Ela começou a ser construída em 2006, depois que o governo Lula assinou a concessão da futura ferrovia a uma empresa criada pela Companhia Siderúrgica Nacional, a Transnordestina Logística S.A. (TLSA).

Seria uma obra da iniciativa privada. Por isso, acreditava-se que ficaria pronta em 2010, conforme o contrato firmado com o governo, que se comprometeu a garantir financiamentos de bancos e órgãos públicos. O orçamento era de R$ 4,5 bilhões. Já foi recalculado para R$ 7,5 bilhões e o prazo adiado para 2016. A ferrovia de 2.304 km, passando por municípios do Piauí e Pernambuco, com um ramal no Ceará, seria construída por uma das grandes empresas brasileiras, a Odebrecht.

Mas, conforme a reportagem, as obras da ferrovia no sertão do Piauí, que já consumiram R$ 1,075 bilhão, estão paralisadas desde setembro último, apesar de o governo ter autorizado um financiamento complementar. O contrato entre a concessionária TLSA e a construtora Odebrecht foi rescindido, sem explicações.

Talvez por isso, prudentemente, não se falou em obras ferroviárias, que não as do metrô, nessa visita de Dilma a Minas, um Estado necessitado de ferrovias.

A leitura da reportagem me obrigou a fazer uma pesquisa, pois quis saber mais. Eis que encontro no Google texto da revista Exame de 13 de novembro último, com o título “O estilo brigão de Benjamin Steinbruch, da CSN”. Pude perceber ali porque tanta gente, inclusive o governo Lula, se enganou ao fazer suas apostas sobre a Transnordestina.

Não está lá, mas é possível entender também a razão de o governo Aécio Neves ter sucumbido ao conto da CSN, ao conceder incentivos para que explorasse o minério de ferro em Congonhas, com a promessa de construir nesse município histórico uma grande siderúrgica. É uma leitura longa, mas bem instrutiva sobre um dos maiores empresários brasileiros.


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

7 comments

      1. Colonista? Hum… pessoa que se dedica a questões relacionadas com colonos ou .colônias. E o artigo parece-me independente, sem conotações a extremismos políticos!

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      2. Se tem uma coisa que meu pai não é é extremista político ou partidário. Mas tem gente que lê uma crítica a algum político e já assume que a pessoa é “torcedora” do partido rival (nem deve ter acabado de ler e visto que há crítica também ao político do partido rival). No Brasil, discutir política virou fla-flu, virou discussão de futebol no bar. Emburrecedor.

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      3. Discutir Política é um prazer! Pelo menos para mim!
        O que se passa é que se o herói nacional Neymar está lesionado ou se o seu preferido do BB foi expulso é mais importante do que o seu direito de votar(infelizmente é uma obrigação) e daquilo que o voto possa trazer de bom ou de mau para o seu futuro e para o futuro do seu país!
        E infelizmente ser corrupto virou moda natural!

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  1. A Dilma está fazendo uma governação que é um descalabro Econômico e Social.
    Aqui no nordeste cearense o infindável canal do rio são francisco é um exemplo dos muitos projetos/promessas eleitorais com atrasos intolerantes, além do que promove a indústria da água em que um carro-pipa com água intragável custa a módica quantia de cem reais. É só imaginar uma casal do sertão seco que dependa do bolsa família(70 reais por pessoa) e que tenha que comprar água a 100 reais!
    (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1359045-canal-no-rio-sao-francisco-avanca-apenas-1-em-um-ano.shtml).

    Mas também em Minas a governação não é flor que se cheire! Promessa e mais promessas por cumprir além de ser um grande empecilho à liberdade de expressão (http://www.novojornal.com/politica/noticia/campanha-de-aecio-neves-entra-em-colapso-14-01-2014.html)!

    Regra geral neste Brasil não existem projetos bem estruturados mas sim projetos-remendos eleitoralistas! Há que NASCER uma nova orientação “política-social-econômica” capaz de levar este país até ao topo de uma boa qualidade de vida para todos!

    Bom artigo!

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