Texto escrito por José de Souza Castro:
Os Estados Unidos não cuidaram bem de seu quintal, como mostra o relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe-2012″, divulgado ontem (21 de agosto) pelo programa ONU-Habitat. A região tem pouco do que se orgulhar perante o mundo. Senão vejamos:
• É a mais desigual do mundo: 20% da população mais rica possui renda per capita 20 vezes superior à renda dos 20% mais pobres. A renda per capita média é de US$ 4.823. A média mundial chega a US$ 5.868.
• A maior economia da região, o Brasil, só tem melhor distribuição de renda do que Guatemala, Honduras e Colômbia. A melhor distribuição é a da Venezuela de Hugo Chaves, que tem índice Gini de 0,41, contra 0,38 dos Estados Unidos. Quanto menor o índice, melhor. O do Brasil é superior a 0,56, bem ruinzinho. Mas avançou em relação a 1990, quando era o campeão da iniquidade na América Latina.
• Metade da população da região, ou 222 milhões de pessoas, vive em cidades com menos de 500 mil habitantes. E 14% (65 milhões) moram nas 55 cidades com mais de 5 milhões. O déficit habitacional está entre 42 milhões e 51 milhões de residências. E apenas 20,6% dos habitantes estão em áreas rurais nas Américas do Sul e Central e no Caribe.
• A população dessas regiões cresceu oito vezes desde o começo do século passado, saltando de 60 milhões para 588 milhões de habitantes em 2010, ou 8,5% da população mundial. Nas últimas décadas caiu a natalidade, para uma taxa anual de 1,15% ao ano, com tendência de baixa para 1% até 2030. O número de filhos por mulher, que era em média de 5,8 em 1950, caiu para 2,09 em 2010. A população em idade ativa (15 a 64 anos) representa 65% do total, o que é bom para os aposentados – eles só têm a temer, por enquanto, da corrupção no sistema previdenciário.
• A mancha urbana continua se expandindo, apesar da desaceleração do aumento da população. As cidades ocupam cada vez mais território, um padrão de crescimento horizontal “que não é sustentável”.
• Quase metade da população (42% dos habitantes) vive a uma distância máxima de 100 quilômetros da costa, embora essa zona litorânea corresponda a apenas 20% do território da América Latina e Caribe. Há, portanto, diz o relatório, uma oportunidade para desenvolver o interior – e a floresta amazônica que se cuide.
• Mais de 30 milhões de pessoas (5,2% da população) vivem no estrangeiro, tendo emigrado para Estados Unidos, Espanha e Canadá, principalmente. O maior número de expatriados é de brasileiros, embora proporcionalmente apenas 0,4% da população viva no exterior.
• O peso da América Latina na economia global avançou pouco, de 6,5% do PIB mundial em 1970, para 7% agora. O Brasil tem 32% do PIB da região, o que é proporcional ao seu peso demográfico. Em relação a 1970, seu PIB aumentou oito pontos percentuais. A Argentina foi a que mais perdeu.
• As 40 maiores cidades da região produzem um PIB anual de US$ 842 bilhões, mas há uma tendência de desconcentração da geração de riqueza para cidades menores.
• O menor crescimento da produtividade é a principal razão para o crescimento menor do PIB da região, comparativamente ao de outras regiões e países emergentes. Em 20 anos, a produtividade na América Latina cresceu 1,4% ao ano, em média, contra 8,4% na China e 4,7% na Índia.
• As mulheres nunca trabalharam tanto na região: cresceu em sete pontos percentuais sua participação na força de trabalho, entre 1990 e 2009, chegando a 43%.
• No quintal dos Estados Unidos, 180 milhões de pessoas (ou 33% do total dos habitantes) viviam em 2009 em condições de pobreza. Já foi pior: em 1990, eram 48%. Mas existem ainda 71 milhões de indigentes.
• América Latina e Caribe são a região com a maior taxa de homicídios do mundo: mais de 20 por grupo de 100 mil habitantes, contra 7 na média global. Resultado de “baixo desenvolvimento humano e econômico e grandes disparidades de renda”, conforme a ONU.
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