Outro banco ameaçado

Foto publicada na “Folha do Meio Ambiente” de 22/05/2012.

Texto de José de Souza Castro:

Depois da morte desse milionário paulista obcecado pela preservação da própria vida, a ponto de ter espalhado por sua cobertura num prédio de luxo de São Paulo 30 armas modernas, uma das quais foi usada pela própria esposa para matá-lo, o que se esperar do apelo à proteção do maior banco de rodolitos do mundo descoberto na plataforma continental da Bahia e do Norte do Espírito Santo?

Leio na “Folha do Meio Ambiente” que o banco de rodolitos está ameaçado pela acidificação dos oceanos e pelo aumento da sedimentação de origem costeira provocada principalmente pela dragagem e a mineração. Mas podem surgir outras formas de ameaça, considerando-se que esse banco, na verdade, é uma grande fábrica de carbonato de cálcio (CaCO3), o mineral que forma a carapaça de moluscos e crustáceos e o esqueleto dos corais. Vá que alguém descobre um grande valor econômico nesse mineral?

Pesquisadores que estudaram a região calculam que o banco de rodolitos se estende por uma área de 20.900 quilômetros quadrados, equivalente a três vezes e meia o tamanho do Distrito Federal. Ali são produzidos anualmente 25 milhões de toneladas de CACO3, cerca de 5% da produção mundial de carbonato de cálcio.

Dito isso, convém explicar que o banco tem nome. É o Banco dos Abrolhos. E que rodolito é uma alga calcária de forma arredondada que se incrusta uma nas outras. O jornal de meu colega de faculdade José Silvestre Gorgulho (a reportagem pode ser lida AQUI) esclarece também, citando o coautor do estudo, professor Rodrigo Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro:

“Encontrar o maior banco de rodolitos do mundo no Banco dos Abrolhos, aqui no Brasil, evidencia a extrema importância desta parte do Oceano Atlântico. Os rodolitos desempenham papel fundamental em um ecossistema marinho saudável, fornecendo habitat primário que pode abrigar diversas e abundantes comunidades de peixes e invertebrados de elevado valor comercial.”

Nisso tudo, só acho infeliz chamá-lo de banco, pois banco costuma atrair ladrões – a começar pelos fundadores. Antes que algum banqueiro queira me processar, aviso que a ideia não é minha. Li por aí. Já foi publicada algumas vezes sem contestações.

Quanto à insegurança dos bancos, basta ler os jornais. Ou livros como “Tono Bungay”, publicado em 1990 pela Livraria Francisco Alves Editora (p. 201), no qual um personagem criado por H. G. Wells afirma: “Civilização só é possível através da confiança. Desta maneira nós podemos deixar nosso dinheiro no banco e sair desarmados pelas ruas. A reserva no banco ou um policial conservando a ordem no meio de uma multidão que se acotovela são apenas alguns blefes menos imprudentes do que os folhetos de meu tio.”

O tio era um esperto falsário que ficou milionário produzindo “medicamentos”. Não sei se na fórmula deles havia CaCO3…


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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

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