Quando li “Coelho Maldito“, eu tinha acabado de ler a obra completa de Murilo Rubião. Foi inevitável a comparação entre o texto do escritor mineiro e o da sul-coreana Bora Chung.
Não sei se ela chegou a conhecer os contos desse precursor do realismo mágico, mas em seu livro também estão o misto de terror, fantasia e incômodo que permeiam a obra de Rubião.
“Coelho Maldito” traz dez contos curtos, que a gente lê rapidamente, de novo tentando descobrir em que final vai dar aquele labirinto de possibilidades loucas criadas por essas cabeças criativas.
E lá encontramos um universo formado por maldições, monstros, fantasmas e aberrações, além de uma pitada de ficção científica com androides, no conto “Adeus, Meu Amor”, que me lembrou outro contista, Ted Chiang.
Mas não é um assombro pelo assombro: é bem clara a crítica social que a autora traz em suas fábulas e metáforas.
O conto “Menorreia”, por exemplo, de 25 páginas, critica o massacre que é imposto às mães (nunca aos pais), desde a gestação. De quebra, também escancara a violência no atendimento de alguns médicos, o pouco caso, o tratamento desumano aos pacientes.
O tema da parentalidade também aparece, mais sutil, nos contos “A Cabeça”, “Lar, Doce Lar” e “A Armadilha”. Que também criticam o ideal de beleza e, noo caso dos dois últimos, a ganância desmedida. Aliás, esse tema da ganância (e suas consequências sórdidas) é bem recorrente no livro, também aparecendo no conto do título e em “O Senhor do Vento e da Areia”.
Algumas histórias não são fáceis de ler, porque incomodam mesmo, geram asco, nos deixam pensando “QUE VIAGEM MALUCA É ESTA?!”. Pra mim foi o caso de “A Cabeça”. Mas, no geral, apesar da violência de alguns trechos, percorri todos os contos com interesse máximo, com a luz do cérebro acesa, me vendo diante de histórias diferentes de todas que eu já tinha lido até então.
Tipo Murilo Rubião faz com a gente. Ou Kafka. Mas também outros grandes escritores, do passado ou do presente, que sabem usar a imaginação e a criatividade em um outro nível.
Não tenho dúvida: ler essas pessoas nos faz expandir nossas próprias mentes.

Obra será discutida em Clube do Livro
No mês passado, contei a vocês que eu ia participar de um Clube do Livro pela primeira vez. Naquela edição, discutimos o livro “Dentes”, de Domenico Starnone. Amei as discussões, saí de lá com a cabeça fervilhando de ideias, interpretações, e me sentindo muito mais inteligente, rs.
Como fui uma das 20 primeiras a se inscrever para o encontro, fui presenteada com o livro da reunião seguinte, que é justamente este “Coelho Maldito 🙂
Se você quiser participar, ainda está em tempo! A quarta edição do clube vai acontecer no dia 12 de março, ou seja, daqui a seis dias. E garanto que dá para ler este livro bem mais rápido que isso 😀
Sempre que você for um dos 20 primeiros inscritos, vai receber um exemplar da edição seguinte do clube. Ou, claro, pode pegar emprestado na biblioteca, onde acontecem os encontros 😉 Mais informações AQUI.
“Coelho Maldito”
Bora Chung
Alfaguara
227 páginas
R$ 42,60 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)
Você também vai gostar destes posts:
- ‘Filhos de Sangue’, de Octavia E. Butler: distopias necessárias
- ‘Admirável Mundo Novo’, de Aldous Huxley: atual ainda hoje
- Os melhores livros de contos que já li
- Minha seleção de livros de escritoras mulheres
➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de Cristina Moreno de Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.
➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉
Descubra mais sobre blog da kikacastro
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.



