‘A biblioteca dos sonhos secretos’: a identificação com outros trabalhadores

Não espere ler um livro maravilhoso, que vai mudar sua vida, ou que tenha um estilo único e encantador de narrativa. Sei que às vezes criamos grandes expectativas quando um best-seller de uma autora com 1 milhão de livros vendidos cai em nossas mãos. Às vezes as expectativas se confirmam (como em outro livro de biblioteca, aquele da Meia-Noite…). Noutras, é melhor “baixar a bola”.

Este “A biblioteca dos sonhos secretos” é um livro singelo, talvez despretensioso, que conta a história de cinco personagens que têm algumas coisas em comum:

• todos vão parar na biblioteca do Centro Comunitário de Tóquio, onde conhecem a bibliotecária Komachi;
• todos começam a ler os livros recomendados por ela e mudam suas perspectivas com eles, principalmente com o livro mais inusitado da lista,
• todos têm algum problema, dilema ou dúvida em relação ao universo do trabalho.

Sim, porque, se me perguntarem, direi que este é um livro principalmente sobre as várias dúvidas que pairam a respeito do trabalho. Todos os seus personagens, de alguma forma, buscam uma satisfação ligada ao trabalho, e todos eles se veem em uma sinuca – real ou imaginária.

Temos desde a personagem que despreza o que faz, até a outra que se sentiu relegada no auge da carreira, até o que teve burn out e mudou radicalmente de área, até o que nunca se encaixou e está desempregado, até o recém-aposentado, até o que cumpre tabela mas tem um sonho secreto – e por aí vai. Nisso incluindo tanto os personagens principais quanto os secundários.

É quase como se fosse um feed de depoimentos no LinkedIn…

Este livro fornece reflexões sobre cada uma dessas situações. Que podem ser valiosas para leitores que estejam passando por dilemas parecidos. E estão inseridas em narrativas absolutamente prosaicas, rotineiras mesmo, sobre essas personagens, sempre contadas em primeira pessoa.

O jeito quase de receita-de-bolo com que a autora Michiko Aoyama escreve acaba gerando alguns momentos de tédio, por causa das repetições. Não sei avaliar o quanto isso é culpa dela ou da tradução direto do japonês, uma vez que não sei nada sobre essa língua.

Mas, para compensar, a forma como ela entrelaça as vidas entre as histórias é muito simpática. Tem, por exemplo, o amigo de uma protagonista em um dos capítulos-contos, que depois ajuda outra protagonista, noutra parte, a conseguir um emprego novo. Ou o dono de antiquário num dos contos que é o zelador em outra história. E assim por diante.

É como se a autora quisesse se assegurar de que seu livro seria visto como um romance, e não um livro de contos. Afinal, as histórias, de uma forma bem sutil, se complementam e, em alguns casos, se enriquecem. Essa estratégia torna a leitura muito mais interessante.

Seja como for, é um livreto que a gente percorre sem grandes arrebatações, mas que nos faz refletir sobre um assunto tão ostensivo em nossas vidas: o trabalho. Quem não se identificar em nenhum momento com nenhum dos personagens é porque é herdeiro de milionários 😉

“A Biblioteca dos Sonhos Secretos”
Michiko Aoyama
ed. Sextante
240 páginas
R$ 40,90 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)

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