Games para crianças: as recomendações definitivas

Videogame, game, jogos eletrônicos. Foto: Igor Karimov 🇺🇦 / Unsplash
Foto: Igor Karimov / Unsplash

Quantas reportagens você já leu ou viu associando os videogames a casos de violência? Ou tratando dos danos causados pelo vício das crianças em jogos eletrônicos? Aposto que muitas.

Mais raros, no entanto, são os estudos ou documentos apontando os inúmeros benefícios dos games para os jovens, que incluem aprendizados diversos, desenvolvimento de habilidades afetivas, cognitivas e motoras, socialização e outras para tratamentos médicos e psicológicos variados.

Por isso, achei interessantíssimo este guia de 2020 que caiu no meu colo há alguns dias, e compartilhei com mães e pais conhecidos. Resolvi trazê-lo para o blog hoje.

Trata-se do estudo “O que as famílias precisam saber sobre games? Um guia para cuidadores de crianças e adolescentes“, com 133 páginas – uma iniciativa da Homo Ludens Inovação e Conhecimento, elaborado por autores de instituições sérias como Safernet Brasil, Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, Instituto Tecnologia e Dignidade Humana, UFBA, Universidade Católica de Pernambuco, Nethics e PUC-SP.

Ainda não li o livro inteiro, mas já consegui perceber, pelo que vi até agora, que ele é bastante completo, detalhista e abrangente. Destaco, a seguir, alguns trechos que achei mais interessantes, a começar por este que está entre as páginas 25 e 30.

Quando deixar a criança interagir com celulares, tablets e jogos digitais?

Bebês menos de 2 anos

“Os aparelhos são bastante contraindicados! A exploração do mundo é a ‘tarefa’ fundamental do bebê, utilizando seus recursos perceptivos, sensoriais e motores, o que deve ser estimulado, com limites e segurança. Jogos digitais não fazem sentido para eles, e os aparelhos servirão para o bebê agarrar, sugar, bater, virar e mexer – ou seja, conhecer, à maneira dele, os objetos. (…)”

Crianças de 4 a 7 anos

“Celulares e tablets são fonte de curiosidade e imitação – cuide com atenção de seu próprio uso e do momento em que ache correto oferecer à curiosidade das crianças. As crianças pedem para utilizar esses aparelhos, às vezes estimuladas por irmãos ou irmãs mais velhos. Nesses casos, sua playlist musical pode se tornar um bom jogo de música, dança, movimento e espaço! (…) Esses dispositivos podem ser utilizados, com tempo regrado (pouco tempo), sob supervisão, em forma de brincadeira.

Outros jogos e aplicativos interativos, frequentemente utilizados, são os de corrida infinita (como Subway Surfers), simulação, (Toca Hair Saloon, que permite ao jogador criar cortes de cabelo no personagem), cozinha (Cooking Mama), Talking Tom/Angela. Gamebooks (livros que misturam histórias e jogos) também podem ser propostos desde que por pouco tempo.

Alguns jogos e consoles sugerem a movimentação, permitindo a interação familiar, como é o caso do Just Dance. Também existem jogos que têm foco na criação e na criatividade, como o Nintendo Labo (…). É importante lembrar que nenhum e-book substitui a voz humana e familiar. Não é recomendado que as crianças façam disso sua única atividade, devendo alterná-la com outros brinquedos/brincadeiras. O universo de possibilidades interativas virtuais não deve se sobrepor ao real. Viva o brincar livre!”

Crianças de 7 a 10 anos

“A partir dos 7 anos, celulares pessoais, videogame, tablets e computadores passam a ser mais acessíveis e até mais desejados pelas crianças. Em todo caso, elas se encontram motoramente melhor habilitadas para a manipulação desses dispositivos. Jogos de construção como Minecraft ou Terraria, que incluem raciocínio e um grau de exploração por parte do jogador, podem dar conta dos interesses iniciais (…).

É comum o interesse das crianças em jogos competitivos tais como Clash of Clans; jogos de esporte como FIFA, PES, Rocket League. Esses jogos, especificamente, possuem classificações indicativas, as quais sempre devem ser consultadas. (…) Não é demais lembrar que os pais são os responsáveis pelo controle de conteúdo e de tempo de uso dos instrumentos e jogos. São eles que devem supervisionar o conteúdo do que ofertam, estabelecer regras e limites bem claros sobre o lugar de uso, os dias, a frequência e o tempo da sessão de jogo. Os jogos devem coexistir com brincadeiras ao ar livre, com amigos e escola e com o convívio familiar.”

Crianças a partir de 11 anos

“No meio digital, fazem sucesso os jogos de emulação e interação musical, em que se deve tocar instrumentos ou dançar, como Guitar Hero e Just Dance ou, ainda, jogos que buscam emular veículos da vida real, como Need For Speed, entre outros. Os SimGames, como SimCity e Roller Coaster Tycoon Touch, que permitem construções e emulam ambientes reais, despertam bastante interesse. É também comum que surja o interesse por jogos de fantasia e jogos multiplayers (com outros jogadores) como RPGs e MOBAs.

Após os 12 anos, os interesses dos adolescentes se aproximam mais aos dos adultos. É quando os jogos digitais costumam se tornar mais atraentes do que nunca, especialmente pela participação do celular e da internet na vida deles, somado ao desejo por aceitação e pelo desenvolvimento de laços com outros adolescentes. (…) Não é de se estranhar que, nesse momento, surja também o interesse por jogos politicamente incorretos, de conteúdo violento e de complexidade maior. Exemplos desse tipo de conteúdo seriam os jogos de tiro, de terror, entre outros. Crescer continua sendo sinônimo de experimentar. A qualidade da supervisão cuidadora ou parental deve envolver mais e mais o diálogo, com o intuito de conhecer para prevenir, conversar para entrar em acordos e expandir, de maneira otimizada, a direção desse crescimento.”

Videogame, jogo, Super Mario. Foto: Boukaih / Unsplash
Foto: Boukaih / Unsplash

15 recomendações importantes para pais e mães sobre games

A seguir, mais 15 dicas úteis para os pais, que pincei das páginas 33 e 34 do guia.

  1. Ouça com atenção quando seus filhos compartilham informações sobre o universo dos jogos. Pode parecer bobo para alguns adultos, mas é importante para crianças e adolescentes.
  2. Estabeleça regras e combinados de horários.
  3. Jogos online não têm pause. Dependendo do jogo, é mais fácil estabelecer os limites por partidas e objetivos do que por horários fixos.
  4. Verifique o uso que você faz das mídias: se você não desgruda do celular e faz tudo com o olho na tela, vai ser muito difícil impor regras.
  5. Em muitos casos, convém explicar que o uso que os pais fazem do computador e celular se refere a trabalho, e não a momentos continuados de lazer.
  6. Jogue junto com seu filho(a), mesmo que você não tenha habilidade ou que ele diga que você é ruim. Nesse caso, peça o auxílio dele.
  7. Caso não tenha habilidade, assista seu filho jogar. Ao assistir, os pais podem se interessar e com isso superar ou não a falta de habilidade.
  8. É importante acompanhar a atividade dos jogos, mas isso não precisa ser de forma pressionadora. Procure inteirar-se do conteúdo, tendo em mente que jogar é uma atividade prazerosa, que perde a graça quando feita sob pressão. A criança pode e deve ter momentos de jogo desacompanhado.
  9. Certifique-se de oferecer outras atividades para seus filhos fora do mundo digital, como contato com a natureza. Quais são os espaços disponíveis onde você mora? Parques, praças, praias, lagos, fazendas?
  10. Só permita que videogames sejam jogados depois que a lição de casa e as tarefas tenham sido realizadas.
  11. Para crianças menores, é possível usar um alarme que indique a ela que o tempo já acabou. Os jogos podem nos fazer perder a noção do tempo do relógio, sendo que o jogador pensa que ficou menos tempo no jogo do que, de fato, ficou.
  12. Converse sobre o universo dos jogos escolhidos, sobre os outros jogadores e sobre os tipos de estratégia que desenvolvem.
  13. Incentive o uso de jogos educativos ou os que utilizam a imaginação e a criação.
  14. Há muito conteúdo disponível no YouTube e no Twitch, caso queira se inteirar melhor do conteúdo do jogo antes de conversar com seu filho.
  15. “Uso acompanhado” é um ponto importante que não deve ser confundido com uma ação tutelada que interfere (ou pode interferir) no desenvolvimento para a vida. Essa vivência compartilhada no jogo ajuda a reforçar vínculos de confiança.
Ilustração na capa do guia "O que as famílias precisam saber sobre games? Um guia para cuidadores de crianças e adolescentes", da Homo Ludens
Ilustração na capa do guia “O que as famílias precisam saber sobre games? Um guia para cuidadores de crianças e adolescentes”, da Homo Ludens

7 dicas para evitar que os jogos criem problemas de saúde nas crianças

Estas eu tirei da página 37 do livro.

  1. Não permita que a criança jogue no celular em situações de risco, tais como andando, atravessando a rua, subindo ou descendo escadas, dentro de elevadores ou com o carregador conectado na tomada, a fim de evitar acidentes.
  2. Não permita que o jogo atrapalhe as horas saudáveis de sono. Evite jogar entre duas a três horas antes de dormir. A luz onda azul e o brilho das telas prejudica o sono. Além disso, é possível configurar a tela para luz noturna, para minimizar o problema.
  3. Não permita que seu filho jogue no celular durante as refeições, ou que coma em frente à tela. É importante que a alimentação seja uma atividade em que exista concentração.
  4. Evite celulares em lugares onde as crianças podem e devem interagir, como em passeios na natureza, práticas esportivas e festas infantis.
  5. Faça combinados com a criança e com o adolescente, estabelecendo regras de convívio e horários, explicando que a atividade de jogar não pode atrapalhar as rotinas e os eventos familiares, tais como festas e visitas aos finais de semana.
  6. Evite jogar com o carro em movimento. Pode gerar náuseas e vômitos.
  7. Evite jogar em casa apenas com a luz do monitor. Acenda as luzes.
Videogame, jogo, game over. Foto: Sigmund / Unsplash
Foto: Sigmund / Unsplash

O que é Gaming Disorder?

A página 18 traz informações muito importantes sobre distúrbios de saúde causados pelo uso excessivo dos games:

“Centenas de estudos já foram realizadas, em diversos países, demonstrando uma série de consequências negativas decorrentes do uso problemático dos games: distúrbios do sono, depressão, ansiedade, conflitos interpessoais, isolamento social, redução no desempenho escolar e no trabalho, entre outros.

Em 2018, a Organização Mundial de Saúde reconheceu este problema como um novo transtorno mental, incluindo o Gaming Disorder (ainda sem tradução oficial para o português).”

O uso problemático de games ocorre em até 1% e 3% da população, é mais comum em homens do que em mulheres e em pessoas mais jovens do que em mais velhas.

Como fazer o diagnóstico desse novo transtorno mental?

A pessoa deve ter um padrão de jogo persistente ou recorrente, por pelo menos 12 meses, e que apresente obrigatoriamente TODAS as características abaixo:

  • Perda de controle sobre o jogar (relativo ao início, frequência, intensidade, duração, término e contexto). Nesses casos, a pessoa começa a jogar antes do que tinha combinado, joga por mais tempo do que poderia ou tinha planejado, não consegue parar de jogar na hora estabelecida, acaba jogando em situações em que deveria estar realizando outras atividades etc.
  • Aumento de prioridade dada ao jogar, ao ponto de se sobrepor a outros interesses e atividades diárias. O jogar acaba assumindo o lugar e a importância de atividades essenciais como dormir, se alimentar, estudar/trabalhar, se relacionar com familiares e amigos etc.
  • Continuação ou mesmo aumento do jogar apesar da ocorrência de consequências negativas. Este padrão de comportamento é de intensidade suficiente para resultar em prejuízo significativo em nível pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras esferas da vida.

O guia ainda traz informações valiosas sobre como os pais podem fazer controle parental sobre os jogos, as ferramentas de controle existentes, sobre classificações indicativas dos games, e discute a polêmica da influência dos jogos nos comportamento violentos.

Trata ainda de comportamento tóxico, eSports, gastos com jogos, dicas de segurança, orientações específicas para jogos on-line, desafios perigosos e sobre as carreiras que existem para gamers hoje em dia (que são muitas!).

Achou interessante? Então baixe gratuitamente o guia da Homo Ludens para ler ele todo e compartilhe com os pais e mães de crianças que você conhece 🙂

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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