Vale ver nos cinemas: Vidas Passadas (Past Lives)
2023 | 1h45 de duração | Classificação: 12 anos | nota 10
Quando terminei de assistir ao filme “Vidas Passadas” no cinema, o rosto ainda molhado com as lágrimas, só consegui pensar: “Mas que filme mais lindo…!“
Depois, aos poucos, enquanto dirigia para casa, fui processando o que eu tinha visto com mais calma.
Um homem e uma mulher com um passado em comum, que se reencontram depois de muuuuito tempo.
Com uma infância em comum, dos tempos de grande amizade na escola na Coreia do Sul, até ela migrar com a família, aos 12 anos, para o Canadá.
Memórias afetivas.
E aí eles têm também um idioma em comum, que ela já praticamente não usava mais, em sua vida presente em Nova York.
Uma cultura em comum.
Quem sabe, como diria a lenda coreana, tivessem até mesmo vidas passadas em comum. Passadas mesmo, para além daqueles mais de 20 anos afastados. Vidas paralelas, vidas diferentes, a vida em que um era um pássaro e o outro, o galho onde ele montou o ninho.
Esse pensamento me remeteu àquele livro que devorei em janeiro, “A Biblioteca da Meia-Noite“. O livro é sobre as infinitas possibilidades contidas em uma única vida. Os caminhos que mudam, conforme tomamos decisões ou fazemos escolhas diferentes.
E se ela não tivesse se mudado para o Canadá? E se eles tivessem namorado lá na Coreia? Se casado? Tido filhos? E se todo o resto, toda a vida que eles viveram nesse meio-tempo, até o breve reencontro aos trinta e tantos anos, não tivesse sido a que viveram?
São perguntas que passam pelas cabeças dos dois, e que podemos escutar do lado de cá da tela, mesmo quando não são efetivamente formuladas. Porque há muitos silêncios neste belo filme, mas são silêncios elétricos, e o ar em torno dos dois personagens é denso, como se pudesse ser partido com uma faca, como um pedaço de queijo. E a gente sente isso tudo.
Mérito dos excelentes atores que interpretam Nora e Hae Sung – respectivamente, Greta Lee e Teo Yoo. Mas também (ou principalmente) da diretora estreante Celine Song, que também assina o roteiro original, indicado ao Oscar.
Original e possivelmente autobiográfico, já que Celine também nasceu na Coreia do Sul, também migrou com os pais artistas para o Canadá aos 12 anos, também trabalha como escritora em Nova York, e também é casada com um escritor norte-americano.
Talvez essa memória afetiva pessoal que a roteirista e diretora transporta para sua história seja a grande responsável por torná-la tão realista, verossímil, delicada, sensível e tocante para nós, espectadores. A ponto de já estrear com indicação ao Oscar.
Vale dizer que este não é apenas um filme com uma história de amor. É, também, mas não só. Nem tampouco só uma história de amor. A participação do marido de Nora na história é incrível, por demonstrar isso. A interpretação de John Magaro nesse papel de Arthur é de uma sensibilidade ímpar. Não se trata de ciúmes, mas da tentativa do marido de acessar uma parte da mulher que ele teme ser inacessível. O diálogo que os dois têm sobre isso é muito rico e bonito.
Depois fui ler que o ator Magaro é, na vida real, casado com uma imigrante coreana também. O que talvez explique mais este tom intimista e realista que seu papel traz ao filme. Sobre isso, ele disse o seguinte para a “Vanity Fair“:
“[Quando] o seu parceiro na vida é alguém que é um imigrante de primeira geração e de uma cultura muito diferente, existe este sentimento inerente de ser um estranho…. É diferente para cada pessoa… mas porque você ama tanto a pessoa, você faz tudo o que pode para compreender e apoiar uma experiência única.”
Enfim, é tudo isso – roteiro, atuações, memórias afetivas da diretora e roteirista, a história fundamental da imigração, a sensibilidade dos envolvidos, além das belas cenas, cores e luzes – que me levaram a exclamar, emocionada: “Mas que filme mais lindo…!” E compreender que o que estava em jogo ali não era um casinho de amor, um flerte, um jogo de sedução. Eram duas possibilidades inteiras de vidas passadas.
‘Vidas Passadas’ foi indicado a 2 Oscars em 2024 (não venceu nenhum):
- Melhor roteiro original
- Melhor filme do ano
Assista ao trailer do filme ‘Vidas Passadas’:
Você também vai se interessar:
- Bolão do Oscar 2023: acertei 11 de 15 categorias (73% de aproveitamento!)
- Dicas de bons filmes escondidos em serviços de streaming
- Os melhores livros de detetive, policiais ou de mistério que já li
- As melhores séries policiais ou de suspense no streaming
➡ Quer reproduzir este ou outro conteúdo do meu blog em seu site? Tudo bem!, desde que cite a fonte (texto de Cristina Moreno de Castro, publicado no blog kikacastro.com.br) e coloque um link para o post original, combinado? Se quiser reproduzir o texto em algum livro didático ou outra publicação impressa, por favor, entre em contato para combinar.
➡ Quer receber os novos posts por email? É gratuito! Veja como é simples ASSINAR o blog! Saiba também como ANUNCIAR no blog e como CONTRIBUIR conosco! E, sempre que quiser, ENTRE EM CONTATO 😉
Descubra mais sobre blog da kikacastro
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.




Isso pode ser um filme profundamente triste, também. Escolhas implicam e m renúncias, claro, mas essas renúncias – principalmente porque nunca foram testadas e desgastadas pela vida, como as escolhas – podem ganhar dimensões insuportáveis.
Pouca gente chega, na vida, a encarar o “como teria sido?” com leveza bastante.
CurtirCurtir
Sem dúvida! É um filme belo e triste.
CurtirCurtir