Texto escrito por José de Souza Castro:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se assinar o acordo com a União Europeia, como se apresenta no momento, ficará na história como coveiro do desenvolvimento do Brasil. O alerta foi feito por Stefan Salej em seu blog, no dia 24 de julho, num artigo intitulado “Do Neocolonialismo Europeu e o Acordo do Mercosul/UE“.
Segundo ele, “o que está na mesa e foi negociado pelos liberais do Paulo Guedes no governo Bolsonaro cria um desequilíbrio econômico entre o futuro desenvolvimento, não teoricamente dos dois blocos, mas do aumento da renda e melhoria social das populações dos dois blocos”.
Resumindo uma longa história, que mostra que os europeus cuidam bem de si próprios, isto é o que diz este cientista político que, quando industrial, presidiu a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) por seis anos, até 2002:
“A Europa vai crescer mais às custas do aumento da nossa dependência tecnológica, de serviço e industrial. Os europeus, que já são os maiores investidores no Mercosul, e especificamente no Brasil, são também os maiores receptores de dividendos e beneficiários do acesso protegido ao mercado brasileiro. E os maiores beneficiários de um sistema jabuticaba de concessões públicas”.

Salej nasceu em 1943 na Eslovênia, quando o país europeu ainda fazia parte do bloco comunista soviético, e emigrou com a família para o Brasil em 1960. Por 37 anos esteve à frente da Tecnowatt, empresa que fundou em Belo Horizonte com um sócio, até vender sua participação para um grupo espanhol em 2003. A Tecnowatt era líder no Brasil em seu segmento. Conto a trajetória desse empresário e sindicalista no livro O enigma Salej, disponível na biblioteca deste blog.
Por um tempo ele voltou a morar na Europa, acompanhando a diplomata Débora Vainer Barenboin, sua mulher, que trabalhava na Embaixada do Brasil em Viena. Quando um amigo dele presidiu a Eslovênia e também o Conselho da União Europeia (EU), Salej foi convidado para ser o embaixador especial da Eslovênia para a América Latina e Caribe, em 2007 e 2008, época em que presidiu o Colat (Grupo dos Países da América Latina). Então, o governo Lula tentava firmar uma verdadeira parceria com a UE.
O que se vê agora é um remendo das propostas feitas nos últimos anos e poderá prejudicar o desenvolvimento do Brasil, na opinião de Salej. Ele se apoia num estudo do IPEA que mostra que o PIB brasileiro praticamente não vai crescer em consequência desse acordo que se acha na mesa de negociações, e que a desindustrialização será brutal. Escreveu Salej:
“A abertura do mercado não será igual, pela simples razão que, se não melhorarmos o estágio tecnológico de nossas indústrias e reduzirmos o custo Brasil, teremos pouco a exportar para a EU a não ser produtos agrícolas que têm mais limitações e restrições do que incentivos. Tente exportar café industrializado para a Europa para desbancar a Alemanha como maior exportador de café industrializado, para ver o que acontece. Ou como vai exportar máquinas de uma indústria estrangulada tecnologicamente? Aliás, para quanto da indústria sequer temos o controle acionário e tecnológico no Brasil?”

Espero que o governo Lula estude bem essas e outras questões feitas por um observador atento como Salej, antes de firmar um novo acordo com a União Europeia.
Acredito que Lula não se deixará influenciar pelos nossos laços culturais. Pensando como esse esloveno que adotou o Brasil como sua segunda pátria, tais laços não devem ser a base para o acordo, pois seria o mesmo que nos dizer “que devemos ser gratos aos europeus que eliminaram os índios para saquear o continente e continuar pagando o dízimo”.
Para finalizar, outro parágrafo do artigo de Salej que deveria ser levado em conta pelos negociadores brasileiros em Viena:
“Ou achamos uma proposta de desenvolvimento tanto que possível igualitária, e de ganhos futuros recíprocos, ou então o que foi negociado até agora será uma vitória de Pirro, levando o país a uma situação pior do que a que temos hoje”.
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