‘Crescer não é brincadeira’: os aprendizados do fim da infância

Vale a pena assistir: Crescer Não é Brincadeira (Za duzy na bajki)
2022 | 1h46 de duração | nota 8

Coloquei no Google Tradutor esse título original do filme, em polonês, e veio: “Grande demais para contos de fadas“.

Com isso, fiquei satisfeita com a tradução que deram para o nome em português. Coerente com a original.

O filme conta a história de Waldek, um garoto que tem, se não me engano, 11 anos.

Está, portanto, vivendo aquele momento fronteiriço da vida, em que a gente ainda é criança, mas também começa a entrar na adolescência, vislumbrando todos os desafios da vida adulta nesse processo de crescimento.

Coloquei o filme para ver com meu filho Luiz, de 7 anos, em nosso cineminha em casa, que fazemos quase toda noite de domingo. Mas acho que a história mexeu mais comigo do que com ele (embora ele também tenha gostado).

Não se trata, afinal, de um filme “para crianças”. Seu tema é universal. É sobre a vida, que nem sempre é engraçada, divertida ou alegre.

Waldek, o protagonista, até então vivia em uma bolha da mãe super protetora, Teresa. Sua “prioridade” eram os jogos de videogame. Comia o que queria, não se exercitava, não se interessava ainda por meninas. Não ia à escola sozinho, não brincava na rua sozinho, sua vida se resumia a ir à aula e jogar.

E, sim, também participar de competições de videogame, com apoio da mãe, que, no fundo, só queria, como todas as mães, acertar. Vê-lo feliz.

Mas, já no começo do filme, esta mãe tem de deixar o filho com uma tia meio maluquete, que, embora coloque muita disciplina nele, obrigando o garoto a se exercitar e também ajudar com a organização da casa, também dá liberdades a ele que nunca teve. Deixa que se arrisque, como nunca pôde.

Se, no início, ele acha a tia e suas novas obrigações insuportáveis, aos poucos vamos vendo como ele vai se transformando com elas.

Ele cresce. Ele fura a bolha.

Nesta semana de aniversário, estou mais reflexiva que o normal, e filmes como este fazem a gente pensar bastante sobre como criamos os filhos e sobre como é importante dar a eles asas para saberem explorar seu próprio potencial.

Sobre como, por mais que queiramos vê-los sempre felizes, é importante deixá-los sofrer com as frustrações e tristezas e injustiças da vida também. Porque elas são inevitáveis.

O melhor amigo que trai a confiança, as palavras duras que não queríamos ouvir, a primeira decepção amorosa, e o medo da morte, da doença e da morte, este que nos persegue até os últimos dias de vida.

A infância é preservada de tudo isso. Ou deveria ser. É bom que a infância seja o momento dos contos de fadas que aparecem no título original deste filme polonês. Das pessoas bondosas, como Papai Noel, que distribuem presentes só para nos verem felizes.

É uma fase tão curta, é importante que ela seja doce, porque são as memórias da infância que vão nos servir de porto-seguro sempre que precisarmos de um escape.

Mas, aos 11 anos, quando pisamos na adolescência, é importante que a bolha se fure. Talvez não de uma vez só, mas é bom que garotos como Waldek saibam que eles são capazes, que podem fazer sozinhos, que sabem se virar. Que a mãe talvez não esteja por perto para sempre, para protegê-los. E saibam também que existem outras prioridades na vida do que apenas o videogame da infância.

Porque crescer, definitivamente, não é brincadeira.

Assista ao trailer do filme ‘Crescer não é Brincadeira’:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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