‘Os Banshees de Inisherin’: como não romper uma amizade

Os atores Colin Farrell e Brendan Gleeson interpretam os ex-amigos, personagens principais do filme 'Os Banshees de Inisherin'.
Os atores Colin Farrell e Brendan Gleeson interpretam os ex-amigos, personagens principais do filme 'Os Banshees de Inisherin'.

Vale ver no cinema: OS BANSHEES DE INISHERIN (The Banshees of Inisherin)
2022 | 1h54 de duração | nota 7

Antes que leiam este post, peço licença para me desculpar, porque desta vez, ao contrário do que sempre faço nas resenhas de filmes, não consegui deixar de cometer alguns spoilers.

Portanto, se você não suporta spoiler de jeito nenhum (eu te entendo, também detesto), sugiro que deixe para ler este post somente depois de ver o filme.

 


Este “Os Banshees de Inisherin” me manteve concentrada, mergulhada na história, como só os bons filmes fazem.

E olha que é uma história relativamente prosaica, com poucos personagens e menos ainda acontecimentos.

O cenário, quase estático, é da ilha fictícia de Inisherin, na Irlanda, onde vivem algumas dezenas de moradores. O período, os anos 1920, durante a guerra civil irlandesa (que mal é lembrada naquele povoado).

O único entretenimento disponível para as vidas rudimentares desses habitantes é ir ao bar, diariamente, sempre à mesma hora, e ir à igreja aos domingos. E, claro, observar as vidas uns dos outros e fofocar sobre elas.

Os personagens principais são o inocente Pádraic (Colin Farrell) e sua irmã inteligente e culta, Siobhán (Kerry Condon); o aparvalhado Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial asqueroso, e Colm Doherty (Brendan Gleeson), o mais inusitado de todos.

O enredo do filme gira em torno da amizade entre Pádraic e Colm. Eles sempre foram melhores amigos, mas, logo na primeira cena, vemos que tem algo errado entre os dois. Colm parece querer expulsar Pádraic de sua vida, arrancá-lo como se fosse uma erva daninha em sua horta. Puf!

Mas o amigo se recusa, não entende, sofre. Me fez pensar até no mantra do Pequeno Príncipe: “Tu és eternamente responsável por aquele que cativas”. Ora, Colm cativou Pádraic, mas parece não dar a mínima para isso.

Colin Farrell, que interpreta Pádraic, resumiu esse plot como sendo “a desintegração da alegria”. Esse primeiro gesto de inimizade – ou mesmo de absoluto descaso ou indiferença – vai gerando consequências ruins, em efeito cascata.

Os atores Colin Farrell e Brendan Gleeson interpretam os ex-amigos, personagens principais do filme 'Os Banshees de Inisherin'.

O lado insano do filme

O que me fez tirar esses três pontos do filme foi a minha absoluta incompreensão diante desse personagem de Colm, e de tudo o que ele faz no filme. Saí da sala do cinema me sentindo totalmente desesperançada. É como se o filme “desintegrasse” também a nossa alegria, como disse Farrell.

Nem sei de onde tiraram que o filme é uma comédia dramática. Só vislumbrei o drama.

O rompimento de uma relação, seja ela qual for, deve ter uma causa. Inclusive em nome do respeito por toda a amizade ou amor vividos. O que levaria um ser humano a romper com alguém, de súbito, sem nenhuma razão? E a insistir nesse rompimento mesmo diante de toda a desgraça que seu gesto vai desencadeando? Nenhuma explicação que ele dá me parece fazer qualquer sentido.

Tentei enxergar o filme como uma alegoria, não consegui. Uma fábula, talvez, mas qual é a moral da história? Fiquei frustrada. Vi que “banshees” são figuras místicas da tradição irlandesa, fadas que previam a morte das pessoas. Talvez na tradição gaélica essa abordagem do roteiro faça sentido, mas, para mim, esta brasileira cuja fé na humanidade já está pelos fiapos, não deu para entender o comportamento de Colm como algo além da própria insanidade.

Enfim, é isso, não tenho outra explicação. As interpretações dos atores estão maravilhosas – os quatro principais estão concorrendo ao Oscar, e estão todos merecidamente no páreo –, a direção do já premiado Martin McDonagh também tem boas chances, a edição é muito bem feita, mas tenho ressalvas para os prêmios de melhor roteiro e melhor filme do ano, pelas razões completamente subjetivas que expus neste texto.

Os atores Colin Farrell e Brendan Gleeson interpretam os ex-amigos, personagens principais do filme 'Os Banshees de Inisherin'.

É como escrevi no meu Instagram, logo após sair da sessão de cinema:

“Não gosto de religiões
Tenho pavor de seitas
Não idolatro deuses,
nem empresas.

Não gosto de remédios,
Tampouco uso outras drogas,
Até o álcool estou tendo que diminuir.

Não me sinto à vontade com terapeutas,
Horóscopo, acho picaretagem,

Minha família não pratica afetos.

Como encarar a vida adulta sem todos esses subterfúgios?

Sempre pensei: tenho os livros, e as músicas, e os filmes. Mas aí vejo um como este de hoje, “Os Banshees de Inisherin”, e nada faz mais sentido.”

Definitivamente, é a “a desintegração da alegria”.

Os Banshees de Inisherin foi indicado a 9 Oscars em 2023 (não venceu nenhum):

  1. Melhor filme do ano
  2. Melhor direção (Martin McDonagh)
  3. Melhor roteiro original
  4. Melhor ator principal (Colin Farrell)
  5. Melhor ator coadjuvante (Brendan Gleeson)
  6. Melhor ator coadjuvante (Barry Keoghan)
  7. Melhor atriz coadjuvante (Kerry Condon)
  8. Melhor edição
  9. Melhor trilha sonora

Assista ao trailer do filme “Os Banshees de Inisherin”:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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