‘O Tigre Branco’: um filme muito fiel ao livro

Cena de "O Tigre Branco".

Vale a pena ver na Netflix: O TIGRE BRANCO (The White Tiger)
Nota 7

Cena de “O Tigre Branco”.

 

Quando li “O Tigre Branco”, em abril deste ano, escrevi aqui no blog que a narrativa “cínica, desbocada, fluida, sincera” era o ponto alto do livro de Aravind Adiga, um indiano nascido em berço de ouro que não poupou críticas a sua terra natal.

Ao adaptar o livro para a linguagem do cinema, é impossível transportar essa mesma narrativa. Mas uma coisa é certa: o roteiro adaptado por Ramin Bahrani, que foi até indicado ao Oscar, conseguiu ser bastante fiel ao original. Se a narrativa era diferente por uma questão de plataforma, ainda assim conseguimos ter na versão de tela o mesmo ritmo rápido, o mesmo cinismo e até algumas aspas copiadas literalmente.

Passou um intervalo de mais de quatro meses entre eu ter lido o livro e visto o filme, e ainda assim deu para perceber que o principal foi captado. Consegui relembrar passagens inteiras e até trechos idênticos do livro.

O mérito é tanto do roteirista quanto do próprio autor, que já tinha feito um livro forte em imagens, com jeito cinematográfico. E o ator escolhido para interpretar o protagonista Balram, Adarsh Gourav, também foi feliz. Até o sorriso dele é um misto do servilismo com a revolta, uma mescla entre gentileza e ódio, de que trata o filme (e o livro). Como eu escrevi lá atrás, a Índia é um caldeirão prestes a entornar…

Capa do filme na Netflix

Não deixa de ser possível fazer um paralelo com o nosso Brasil. O tipo de servilismo é diferente, mas a escravidão moderna também é forte por aqui. A desigualdade, que grita lá na Índia, grita por aqui também, com semáforos cada vez mais lotados de pedintes, num crescendo que tem a ver com a pandemia, mas também com a política econômica cruel de Bolsonaro e seu Paulo Guedes. A violência e a corrupção como meios de subir de vida são parte da nossa cultura também.

Mas este não é um filme de metáforas. Nem o livro era, apesar do título metafórico. Pelo contrário: são narrativas bem cruas, sem subterfúgios e sem romantização, de uma Índia atolada em miséria. Que o livro descreve bem, mas o filme mostra. E aí tem um humor sarcástico para tentar amenizar, mas no fundo é tudo um grande drama mesmo, um soco na cara da gente.

É tudo bem indiano, inclusive com todos os atores originários daquele país. Mas a gente se identifica. A desigualdade e o capitalismo selvagem nos são familiares. O anti-herói se encontra em cada esquina. É a fábula sem moral. É o fim justificando os meios. Mas também é os meios justificando os meios…

Durma-se com um mundo desses!

 

Assista ao trailer do filme:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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