Empregados repudiam presença do juiz Sérgio Moro em evento na sede da Petrobras
Texto escrito por José de Souza Castro:
A Petrobrás realiza nesta sexta-feira, em sua sede, palestra do juiz Sérgio Moro, em virtude do Dia Internacional de Combate à Corrupção. Na véspera, um manifesto dos petroleiros, com uma centena de assinaturas, foi divulgado em repúdio ao convite feito ao juiz da Lava Jato e visando evidenciar que ele não conta com aprovação plena de toda a Petrobrás.
Também nesta quinta-feira foi divulgado amplamente pela imprensa que a Petrobrás recebeu R$ 716 milhões em razão do trabalho da Lava-Jato. Para quem ganha pouco, parece um dinheirão. Não para os que assinam o manifesto, seja lá quanto recebem de salário na Petrobrás.
“Com a justificativa de recuperar o dinheiro roubado dos cofres públicos e punir poderosos, a operação avança gerando um rastro de destruição econômica que não é compensada por seus supostos benefícios”, argumenta o documento que, eu suspeito, será amplamente ignorado pela imprensa.
As cinco famílias que praticamente controlam a imprensa no Brasil não gostam de coisas como estas ditas pelos empregados da Petrobrás:
“Esta ‘parceria’ entre judiciário e mídia criou uma narrativa que vem justificando a destruição do país, da própria Petrobrás, e entrega as nossas riquezas ao capital estrangeiro. Não estamos afirmando que a Operação Lava-Jato é a única responsável por todos os males que atualmente recaem sobre o Brasil, mas é o principal fator que viabilizou a ascensão ao poder central da quadrilha de Michel Temer, trazendo consigo inúmeros retrocessos ou acelerando aqueles iniciados pelo PT.”
O manifesto lança dúvida também sobre o valor monetário recuperado para a Petrobrás pela Operação Lava-Jato. É controverso, diz: “Reportam-se as cifras de 1 bilhão, 4 bilhões e até 10 bilhões, as quais seriam provenientes de pagamento de multas, acordos de leniência, delações premiadas e bens bloqueados”.
Lembra estudo feito em 2015 que estimou impacto de R$ 140 bilhões no PIB brasileiro, representando uma perda de cerca de 2,5%, como um “custo” da Lava Jato. “Para se ter ideia, em 2014, quando esta Operação teve início, o PIB era de US$ 2,456 trilhões, terminando 2016 em US$ 1,796 trilhões por vários fatores, inclusive pela paralisia trazida pelo pretenso combate a corrupção. Logo, as perdas foram muito mais significativas que os ganhos, gerando um processo de desindustrialização no país com retorno a uma economia voltada ao setor primário”, afirmam os signatários do manifesto.
Citam também estudo do Dieese, segundo o qual a estimativa de perda, em razão da Lava Jato, foi de mais de um milhão de empregos, fragilizando a Petrobrás e as empresas da cadeia produtiva do óleo e gás, num momento de sérias dificuldades para essa indústria no mundo.
Além disso, prossegue o manifesto, “a fragilização das empresas de construção pesada e o ajuste fiscal reduziram o volume e o ritmo de investimentos públicos em infraestrutura; só as obras paralisadas somam R$90 bilhões que foram jogados fora. Portanto, o valor de R$ 38,1 bilhões que a Força-Tarefa espera recuperar no total não chega nem perto do prejuízo causado à indústria, à economia brasileira e à elevação da taxa de desemprego”.
Quem se interessou pode ler a íntegra do manifesto aqui, incluindo os nomes dos subordinados de Pedro Parente que tiveram a ousadia de contestar o poderoso chefão, sobre o qual já tive o desprazer de escrever algumas vezes neste blog.
Já escrevi tanto sobre a Petrobrás que pareço militante da campanha “O Petróleo é nosso”, aquela do governo Vargas. Na época, eu tinha uns 7 anos, vivia na roça e me preocupava em aprender a matar passarinhos com o estilingue. Matar passarinho tornou-se politicamente incorreto. Ir matando aos poucos nossa maior empresa estatal e dando, aos jorros, nosso pré-sal aos gringos, não.
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Cristina Moreno de Castro Ver tudo
Mineira de Beagá, jornalista, blogueira, poeta, blueseira, atleticana, otimista, aprendendo a ser mãe. Redes: www.facebook.com/blogdakikacastro, twitter.com/kikacastro www.goodreads.com/kikacastro. Mais blog: http://www.otempo.com.br/blogs/19.180341 e http://www.brasilpost.com.br/cristina-moreno-de-castro
De um texto do advogado Samuel Gomes, assessor do senador Roberto Requião, publicado aqui: https://www.conversaafiada.com.br/economia/mp-do-mishell-perdoa-r-54-bilhoes-das-shells :
• O Brasil inteiro já sabe que a MP 795, a MP do Mi-Shell, gera perdas de arrecadação para o erário da ordem R$ 1 trilhão até 2040, destrói a nossa indústria naval, debilita de morte a indústria de bens e equipamentos, retira dinheiro da Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social) e destrói um milhão de empregos de brasileiros em favor da criação de empregos nos países centrais do capitalismo, permitindo que eles enfrentem suas crises aprofundando a nossa. Tudo isso para atender aos interesses e exigências das petroleiras internacionais, aquelas poderosas empresas que promovem guerras de rapina e destroem países mundo afora para roubar o seu petróleo.
• Mesmo sabendo de tudo isso, no dia 6 de dezembro de 2017 a Câmara Federal aprovou a MP 795, a MP do Mi-Shell. No dia da vergonha e da humilhação da nacional, 208 deputados entreguistas e traidores derrotaram 194 deputados que votaram contra com a bandeira nacional à frente dos olhos.
• Eis que senão quando, no dia de hoje, às vésperas da votação da MP do Mi-Shell pelo Senado, vem a público um estudo da Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal (Unafisco) mostrando que, além da doação de R$ 1 trilhão em renúncia fiscal em favor das empresas petrolíferas internacionais, a maldita lei do Mi-Shell Temer promoverá o perdão de R$ 54 bilhões de impostos que a Receita Federal está cobrando das multinacionais do petróleo por remessa ilegal de “lucros” ao exterior. Remessa ilegal de lucros é o nome técnico para o velho golpe que as multinacionais aplicam nos países onde se instalam de superfaturar compras nos seus países para mandar dinheiro para lá ao invés de investir aqui. Esse é um assunto sério e perigoso. Não esqueçamos que o presidente João Goulart foi apeado do poder em 1964 também por haver liderado, com a bancada de esquerda e nacionalista, a aprovação da Lei da Remessa de Lucros, que havia sido enviada ao Congresso ainda no governo Vargas (Lei 4.131/1962).
• Não é possível que a Receita Federal cobre impostos dos brasileiros e não apenas seja impedida de cobrar impostos da ordem de 1 trilhão de empresas que vem aqui explorar o nosso petróleo como também tenha que perdoar 54 bilhões de impostos que elas sonegaram criminosamente aos cofres públicos mediante contratos- fantasma para remessa ilegal de “lucros”.
Os deputados que votaram a favor da MP do Mi-Shell e que agora dizem que não sabiam do perdão de R$ 54 bilhões de impostos devidos por remessas ilegais de lucro ao exterior pelas multinacionais do petróleo vão fazer hara kiri coletivo na Praça dos Três Poderes? E os senadores querem saber já ou preferem “arrependimento” posterior?
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