Um cantinho de boca levantado diz tudo

Para pegar na locadora: AMORES INVERSOS (Hateship Loveship)

Nota 8

amoresinversos

Imagine uma capiau, no sentido mais inerente da palavra, que desde a adolescência trabalha como doméstica (cuidadora de idosos, faxineira). Tímida, recatada, silenciosa, monossilábica, ela pouco saiu de casa, conheceu poucas pessoas. Sua vida se resumia à incansável lida dentro de casa.

Ela vai parar em uma casa com os conflitos familiares de praxe. E sua vida provavelmente seguiria da mesma forma pacata de antes, não fosse o fato de duas adolescentes — a neta do dono da casa e sua amiga — tramarem uma história que a faz se apaixonar pelo pai da menina, sem que ele saiba.

Esse é o ponto de partida do filme “Amores Inversos“. Mas você não vai conseguir adivinhar o ponto de chegada, e muito menos o que vai acontecer até lá. O mais legal do filme é seu roteiro imprevisível, com o tempo ora correndo devagar demais, ora correndo vários meses, com uma paradeza e uma angústia intercaladas como poucos contadores de história sabem fazer.

“Que situação!”, eu me pegava pensando, vez por outra. “E agora?” “O que eu faria se fosse comigo?” O filme nos faz pensar, mas é, ao mesmo tempo, uma história de amor — embora totalmente diferente das histórias de amor que costumamos ver no cinema.

E os atores são excepcionais. Guy Pearce (“Amnésia”) dispensa apresentações, mas o destaque fica por conta da protagonista, Johanna, interpretada por Kristen Wiig. Ela quase não fala e, de tão contida, pouco extrava seus sentimentos e expressões, mas basta um cantinho de boca levemente levantado para mostrar a satisfação da personagem — e isso é algo que poucos atores conseguem fazer.

Pra melhorar ainda mais, a trilha é ótima, cheia de country, e preenche vários momentos importantes do filme.


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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

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