Jornalismo digital no Brasil completa 30 anos: veja cenários e ideias em debate

Jornalista Humberto Trajano apresenta trabalho no seminário do GJOL sobre os 30 anos de jornalismo digital no Brasil. Foto: arquivo pessoal.
Jornalista Humberto Trajano apresenta trabalho no seminário do GJOL sobre os 30 anos de jornalismo digital no Brasil. Foto: arquivo pessoal.

Participei do Seminário GJOL sobre os 30 anos de jornalismo digital no país com estudo sobre o ICL Notícias; veja 7 momentos marcantes do evento

O jornalismo digital está fazendo 30 anos no Brasil, na Espanha e em Portugal em 2025. Os mesmos 30 anos que a internet comercial completa no Brasil neste ano.

Eu ainda era um adolescente quando os primeiros jornais começaram a aparecer na web lá em 1995. Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Estado de Minas foram os pioneiros.

Dez anos depois, em 2005, eu estava para me formar e já havia decidido que queria fazer o meu TCC e trabalhar com jornalismo na internet. Na faculdade era ofertada uma única cadeira sobre o tema. Então, conversei com a professora e ela começou a me orientar.

Era tudo muito novo, e 99% dos colegas ainda sonhavam em trabalhar com impresso, rádio ou televisão. A professora Lorena Tárcia me indicou alguns textos, entre eles, trabalhos de uma turma da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que fazia parte do Grupo GJol. Eram as principais e as pioneiras referências acadêmicas de jornalismo digital no Brasil.

Eu me formei com meu TCC sobre usabilidade em portais jornalísticos, em 2007. Em 2008, já estava trabalhando na área.

Quase 20 anos depois, sigo neste caminho profissional e acadêmico. E, na última semana, tive a honra de ser um dos participantes do Seminário Gjol – 30 anos de Jornalismo Digital, na mesma UFBA.

Apresentei o trabalho: “Credibilidade e Certificação no jornalismo do ICL Notícias: uma análise crítica e criativa da série ‘Bets: o jogo sujo que ninguém comenta“.

Conheci muitas outras pesquisas e estudos na área do jornalismo digital e também pessoas legais e inteligentes que estão nesta área há muito tempo ou chegando agora. Foram três dias de atividades intensas. Todos os detalhes sobre o seminário podem ser acessados no portal do GJol.

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A seguir, destaco minha experiência no evento em 7 pontos principais.

1) Como construir um portal de notícias sem fins de lucro, mas sustentável?

No primeiro dia, participei de um minicurso – Jornalismo de impacto sociocultural: como construir uma organização sem fins de lucro (mas sustentável) –, ministrado pela equipe do portal Nonada Jornalismo, do Rio Grande do Sul. A organização cultural apresentou um plano de negócios voltado a sustentabilidade, principalmente, por meio de Leis de Incentivo e Fundos.

Palestra no Seminário GJOL – 30 anos de Jornalismo Digital, que ocorreu em maio, na UFBA. Foto: Beto Trajano / blog da kikacastro
Palestra no Seminário GJOL – 30 anos de Jornalismo Digital, que ocorreu em maio, na UFBA. Foto: Beto Trajano / blog da kikacastro

2) Como fazer reportagens com base em mapas e dados geoespaciais? 

Em paralelo rolavam outros cinco, com temáticas muito interessantes. Me chamou muito a atenção o curso Criação de mapas jornalísticos baseados em dados geoespaciais, do Antônio Laranjeira, com quem tive a oportunidade de conversar ao longo do evento e que me passou várias dicas. Espero conseguir acessar o conteúdo completo do curso.

3) Professor João Canavilhas traça panorama do jornalismo atual

A palestra de abertura foi com o professor português João Canavilhas, que trouxe um panorama geral do jornalismo atual. Ele destacou que um dos principais desafios para a atualidade é o de manter a relevância social. Para Canavilhas, o jornalista precisa sempre buscar fazer um trabalho perfeito, de ouvir todos os lados, de descrever a situação e contextualizar o fato.

O modelo de negócios é um outro grande desafio. O professor defende um modelo 360°, cada vez mais diverso, e não somente focado em publicidade. Ele citou uma nova política pública em Portugal em que o governo oferece um ano de assinatura de um jornal digital para cada cidadão português que completa 18 anos. A pessoa que escolhe o jornal que vai assinar. Esta medida fomenta o consumo jornalístico, informa o cidadão e ajuda o veículo.

Canavilhas ainda destacou alguns desafios para a formação de jornalistas na academia. Entre eles, a formação de profissionais multitarefas e multiplataformas, o incentivo à autonomia e à criatividade e o letramento midiático. A palestra na íntegra está disponível no YouTube do Gjol. O educador reforçou que o conhecimento só faz sentido quando é compartilhado, então, compartilhemos:

4) Tendências para o jornalismo digital

No segundo dia, pela manhã, acompanhei a palestra “Para onde estamos indo? Tendências para o Jornalismo Nativo Digital”, que debateu os rumos da profissão, os produtos, os veículos, as políticas públicas, a crise no jornalismo, os modelos de negócio experimentais, e contou com representantes da academia e do mercado. A palestra também pode ser acessada no YouTube:

5) Análise do ICL Notícias a partir de sua série sobre as bets

Durante a tarde, apresentei meu trabalho em um grupo com outros quatro estudos, todos muito ricos e relevantes, que fomentaram discussões e ultrapassaram o tempo previsto.

Meu estudo analisa a série jornalística “Bets: O jogo sujo que ninguém comenta“, do ICL Notícias, a partir da abordagem metodológica de Becker e Waltz (2023), para avaliar credibilidade e confiabilidade em matérias audiovisuais.

Como principal resultado, os dados levantados nesta pesquisa mostram que o ICL ganhou confiabilidade, certificação, espaço social e audiência expressiva, que trabalha de forma efetiva no ecossistema das plataformas, mas com pontos para melhorar, especialmente voltados ao conteúdo e à estética dos produtos.

6) Outros temas sobre jornalismo digital que foram discutidos no seminário

Além do meu trabalho, falamos sobre jornalismo em tablet, os desafios profissionais na mídia, a situação atual nos veículos, o empreendedorismo na profissão e as tendências nas plataformas. Em paralelo, outros quatro grupos também falaram sobre uma diversidade de assuntos.

Veja abaixo os demais títulos apresentados no meu grupo:

  • 25 anos de história do jornalismo sobre tablets: notas de um futuro que nunca aconteceu – Talyta Singer
  • Desafios do jornalismo no cenário digital: a convergência midiática entre o g1 Bahia e o telejornalismo da TV Bahia – Priscila Nascimento Ladeia de Almeida e Maria Fernanda Nunes Rebouças dos Santos
  • Jornalismo empreendedor no Brasil: novos modos de fazer e o impacto no interesse público – Raquel de Queiroz Almeida
  • Comunicação a um Tok: o TikTok como ferramenta jornalística – Stephanie Ayliane Almeida de Sá

-> Veja todos os trabalhos apresentados no seminário

As conversas em nosso grupo se prolongaram após o término das apresentações, em uma confraternização no Rio Vermelho, onde tive a oportunidade de compartilhar histórias da vida profissional especialmente com o professor Washington Souza Filho e a pesquisadora Raquel Almeida.

Vários participantes estavam presentes e foi um momento de eu conhecer as pessoas. Uma dica para quem participa de eventos, tanto acadêmicos quanto profissionais: se o pessoal te convidar para sair, vá, faz parte do processo.

7) Governo federal vai pulverizar dinheiro de publicidade para veículos menores

No terceiro dia, a palestra de encerramento contou com a participação da chefe da Assessoria Especial da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Nina Santos, que trouxe informações relevantes.

A principal delas é que o governo vai publicar uma portaria, em breve, que vai mudar o formato de cadastro no Midiacad, descentralizando o recurso de publicidade, hoje muito concentrado na mídia tradicional, e possibilitando a inclusão de diversos veículos na fatia do bolo de publicidade pública.

Falou também sobre integridade das informações e as expectativas de aprovação do PL da Inteligência Artificial. A palestra também pode ser acessada na íntegra:

O evento terminou com um festival de acarajé e abará, comemos, confraternizamos e conversamos. Fui embora, com sentimentos nostálgicos, com boas perspectivas e ótimas lembranças. E já na espera de uma próxima ida à Bahia.

Pelourinho, Salvador, Bahia. Foto: Beto Trajano / blog da kikacastro
Pelourinho, Salvador, Bahia. Foto: Beto Trajano / blog da kikacastro

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Por Humberto Trajano

Jornalista e gestor de Comunicação com passagens pelo Governo de Minas, Prefeitura de Belo Horizonte e Rede Globo. Especialista em jornalismo digital multimídia e em processos criativos pela PUC-MG e mestrando em Comunicação Social na UFOP. Mineiro de Belo Horizonte.

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