‘Em Agosto Nos Vemos’, de Gabriel García Márquez: um tributo

A pintura de David de las Heras, que ilustra a capa do livro póstumo de Gabriel García Márquez, "Em Agosto nos Vemos".
A pintura de David de las Heras, que ilustra a capa do livro póstumo de Gabriel García Márquez, "Em Agosto nos Vemos".

Começo este post dizendo que já fazia muito tempo que eu não lia nada do Gabo, o Gabriel García Márquez.

Comecei a conhecê-lo, de cara, com o melhor de todos os livros, “Cem Anos de Solidão“, há exatamente vinte anos, em 2004, quando eu ainda estava na faculdade. Gostei tanto que não conseguia parar de ler, levava o livro comigo para todo canto, e lia até na fila para entrar na sala de cinema. Classifiquei, no meu caderninho de anotações, como “excelente!” – com ponto de exclamação e tudo.

No ano seguinte, li “O Amor nos Tempos do Cólera” e, no ano seguinte a este, “Memória de minhas putas tristes“. Estes dois eu classifiquei, na época, com um contido “bom”. Como o blog ainda não existia, e minha memória é tenebrosa, não lembro muito sobre minhas impressões.

Muito depois, já em 2013, li “Eu não vim fazer um discurso“, que virou post aqui no blog e achei “muito bom”.

E foi só. Ou seja, já fazia mais de uma década que eu não lia nada do Gabo quando ganhei de presente de aniversário este “Em Agosto Nos Vemos“, livro lançado neste ano pela Record, exatos dez anos depois que o autor morreu.

Logo no prefácio, os filhos de Gabo, Rodrigo e Gonzalo García Barcha, compartilham o veredicto do pai sobre a história: “Este livro não presta. Tem que ser destruído”. Teimaram, e decidiram que a obra merecia ser publicada. E assim foi.

Com esse julgamento pairando sobre a minha cabeça, fui começar minha leitura. E ela foi fluindo com facilidade, como em todas as vezes que eu tinha lido Gabo até então.

Fiquei conhecendo Ana Magdalena Bach, uma mulher de 46 anos, que estava casada havia 27 anos com o mesmo homem, seu primeiro namorado. E descobri que ela cumpria um ritual anual de ir a uma ilha prestar homenagens a sua mãe, que ali estava enterrada.

Logo no primeiro capítulo, a história dá uma guinada, com Ana resolvendo dormir “pela primeira vez na vida com um homem que não era o seu”.

Esse acontecimento, que provoca uma grande mudança em Ana, muda também seu ritual anual, dando a ele contornos de fuga, dando a ela a desculpa perfeita para se comportar “como uma pessoa diferente por uma noite a cada ano”, como já entrega a contracapa do livro.

E a história é basicamente esta. A história de uma mulher casada, mas solitária, traída e com súbita ânsia de trair, que arranja uma escapatória para a própria vida, reduzida a uma noite por ano.

Uma protagonista que encontrava um amante diferente a cada visita a esta misteriosa ilha.

Certamente não foi o melhor livro de Gabo que já li, dos cinco – o classifiquei como “bom” –, mas é uma leitura fácil, e bem longe de ser um livro que “não presta” e precisava ser destruído, como julgava seu autor.

Melhor ainda foi chegar às páginas finais, assinadas pelo editor Cristóbal Pera, que compartilha conosco sua vivência ao lado de Márquez, e o processo de escrita e depois de resgate dessa história, para que pudesse chegar a nossas mãos.

Ao fim e ao cabo, este livro é mais que um livro: é um tributo. Uma homenagem póstuma a um escritor imortal.

 

Capa do livro 'Em Agosto nos Vemos', de Gabriel García Márquez.

“Em Agosto nos Vemos”
Gabriel García Márquez
ed. Record
132 páginas
Capa dura: R$ 47,90 na Amazon (preço consultado na data do post; sujeito a alterações)

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, escritora, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1, TV Globo, O Tempo etc), blogueira há mais de 20 anos, amante dos livros, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Autora dos livros A Vaga é Sua (Publifolha, 2010) e (Con)vivências (edição de autor, 2025). Antirracista e antifascista.

4 comments

  1. Além dos livros citados, gostei muito de “Ninguém escreve ao coronel”, lançado em 1961. Todos os militares que sonham governar numa ditadura deveriam ler e pensar muito sobre esse livro de Gabriel Garcia Márquez. Eu li depois do golpe de 1964 e fiquei torcendo para que o destino deles fosse o mesmo do coronel refugiado e esquecido numa cidade pequena de seu país. Ainda sonho o mesmo para os que tentaram no Brasil o golpe inspirados em 1964. Para mim, nem precisam ser presos para viver às nossas custas no cárcere se fazendo de vítima. Basta o esquecimento.

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  2. Comprei esse livro outro dia. Acho interessante o fato de ele ter escrito esse livro enquanto lutava contra a demência… Ainda não li, mas definitivamente está na minha lista.

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