‘Back to Black’: Amy Winehouse a partir de suas composições

Cena do filme 'Back to Black', sobre a vida de Amy Winehouse.
Cena do filme 'Back to Black', sobre a vida de Amy Winehouse.

Vale ver no cinema: Back to Black
2024 | 2h02 de duração | Classificação: 16 anos | nota 8

Tenho uma quedinha por filmes biográficos de grandes cantores, confesso. Basta ver as notas 10 que lasquei para “Elvis” e “Bohemian Rhapsody“. Saí das sessões desses dois filmes em êxtase.

O mesmo não aconteceu com “Back to Black“, sobre a vida de Amy Winehouse. Mas tampouco detestei o filme, com parece ter acontecido com 10 a cada 10 críticos de cinema. TODAS as resenhas que li sobre o filme, sem exceção, foram detonando a direção de Sam Taylor-Johnson ou o roteiro de Matt Greenhalgh.

Alguns ainda se arriscaram a criticar a atuação de Marisa Abela, embora seja mais consensual que ela é o ponto mais alto do filme. Para mim, Marisa não só encarnou o estilo visceral de Amy e se esforçou para se parecer fisicamente com ela (inclusive perdendo vários quilos para o papel), como também brilhou por conseguir cantar como Amy.

Na esquerda, Amy Winehouse. Na direita, Marisa Abela, que fez a cantora no filme Back to Black.
Na esquerda, Amy Winehouse. Na direita, Marisa Abela, que fez a cantora no filme Back to Black.

Dizem que ela praticou várias horas por dia, ao longo de meses, para chegar a esse resultado tão incrível que vimos na tela. Ela canta, de verdade, com sua própria voz, canções como “What Is It About Men”, “Fuck Me Pumps”, “Valerie”, “(There Is) No Greater Love”, “Me & Mr. Jones”, “Love Is a Losing Game”, “Tears Dry on Their Own” e “Rehab”.

Me desculpem aí, mas posso treinar por trinta anos e JAMAIS chegarei ao mesmo resultado. Como não valorizar isso, minha gente?

As principais críticas que li para o filme foram pela escolha da diretora de focar mais na história de amor entre Amy e Blake do que em sua criatividade artística que a levou a vencer seis Grammy Awards, sendo cinco em uma única edição.

Mas, para mim, essa escolha foi acertada. Primeiro, porque Blake foi, sim, uma peça extremamente importante da vida de Amy, para o bem e para o mal. Foi inspirada no amor por ele que ela compôs boa parte dos sucessos do álbum Back to Black (incluindo a que dá nome ao álbum). Foi também muito graças à influência dele que ela se afundou nas drogas mais pesadas e em outras confusões, tão detalhadamente cobertas pela imprensa sensacionalista.

Esta também foi a opinião do melhor amigo de Amy, Tyler James, que detestou a cinebiografia, mas elogiou justamente a forma como o relacionamento de Amy e Blake foi retratado, ao dizer em entrevista que ficou feliz em ver como o filme mostrou que ela “realmente amava” Blake Fielder-Civil e ele também a amava: “Gostei de Blake e estou satisfeito por ele não ter sido considerado um vilão absoluto, porque não foi.

O filme também mostra a relação próxima que ela tinha com o pai (que foi retratado com muita complacência, dizem) e com a amada avó Cynthia Winehouse (em quem ela se inspirou para compor os looks de pin-up girl), a forma como se impunha para as gravadoras, seu jeito libertário de viver, sua melancolia mesclada a raiva, que transparece tão bem em sua voz, os significados de algumas de suas tatuagens, seu desdém pela fama e dinheiro, a forma como foi perseguida pelos paparazzi, dentre várias outras coisas.

Amy e a avó Cynthia em cena do filme 'Back to Black'.
Amy e a avó Cynthia em cena do filme ‘Back to Black’.

“Ah, mas não retratou isso”. “Ah, mas a Amy era diferente”. “Ah, mas simplificou demais a história dela”. Sério, gente, vocês queriam mesmo que fosse TUDO contemplado em duas horas de filme? Ou queriam mais um desses filmes com quatro horas de duração que estão na moda? Ah, não, queriam um novo documentário, igualzinho ao que venceu o Oscar em 2016, é isso?

A verdade é que os roteiros precisam fazer escolhas, como eu já disse. Só tirei dois pontinhos da minha nota porque, ao final, não me senti extasiada, como aconteceu depois de ver outras cinebiografias. Talvez porque algumas coisas ficaram mal explicadas no roteiro. A forma como Amy salta do status de cantora de pub para superstar, por exemplo, foi muito brusca.

Li que a diretora quis contar o filme pela voz de Amy, aproveitando as músicas dela para explicar as fases de sua vida, já que as letras eram muito autobiográficas. Ela tambem usou diários e outros registros que Amy deixou, para isso. A estratégia não funcionou tão bem para quem assiste, deixando aquelas brechas incômodas, mas a intenção foi boa.

De toda forma, funcionou bem demais como trilha sonora. Que delícia é passar duas horas na companhia das músicas de Amy Winehouse (e ainda de outros nomes, como Lauryn Hill, Billie Holiday, Shangri-Las, Tony Bennett, Willie Nelson, Sarah Vaughan, Thelonious Monk…).

Marisa Abela é Amy Winehouse no filme Back to Black.
Marisa Abela é Amy Winehouse no filme Back to Black.

Saí do cinema doida para ouvir mais um pouco de Amy no som do carro, e talvez, assim, entender um pouco melhor essa mulher tão complexa, que dificilmente seria resumida em duas horas de filme. E triste em pensar que um talento tão raro e uma personalidade tão forte, que poderia ter ido ainda tão longe, acabou em frangalhos com apenas 27 aninhos.

Algumas pessoas, realmente, passam como fogos de artifício pela vida. Amy foi uma delas. E esse filme retrata bem, à sua maneira, essas subidas aos céus e descidas aos infernos pelas quais a londrina passou tantas vezes, e tão intensamente. A partir das próprias composições que ela fez – de sua voz.

Assista ao trailer do filme ‘Back to Black’:

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Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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