Lula ao ‘The Guardian’: Vamos torcer para que Bolsonaro não destrua o Brasil

Texto escrito por José de Souza Castro:

 

O jornalista britânico Sam Cowie, radicado em São Paulo, publicou hoje no “The Guardian” a primeira entrevista exclusiva de Lula à imprensa estrangeira desde que saiu da prisão. Ela foi traduzida pelo UOL e pelo Instituto Lula e pode ser lida, em resumo, AQUI e, na íntegra, AQUI. O jornal britânico destaca que Bolsonaro está atrasando o relógio do Brasil e que a missão do ex-líder sindical agora é “lutar pela democracia”.

O site da “Folha de S.Paulo”, por sua vez, destaca a seguinte frase de Lula: “Vamos torcer para que Bolsonaro não destrua o Brasil”. É uma torcida que temos feito aqui há nove meses, com desânimo maior do que o dos torcedores de Atlético e Cruzeiro nas disputas deste ano.

“Sou torcedor do Corinthians”, diz Lula a Sam Cowie, que também publica entrevistas e reportagens na BBC e no Al Jazeera. “Mas não posso lutar com um fã do Palmeiras. Eu tenho que aprender a viver com ele. (…) As pessoas precisam aceitar e respeitar as diferenças umas das outras”.

Acho que isso é o que mais está fazendo falta ao Brasil hoje. “The Guardian” publicou a seguinte legenda sob a foto que ilustra a reportagem: “‘I regret that Brazil is becoming a country where spreading hate is becoming part of people’s daily lives’, Lula said”. Em tradução livre: “Lamento que o Brasil esteja se transformando num país onde o ódio se espalha e se torna parte da vida cotidiana das pessoas.

Em poucas palavras, um dos principais jornais londrinos captou a situação atual dos brasileiros.

E por que Lula diz que sua missão, ao sair da prisão, é lutar pela democracia? Ele mesmo responde que é porque o presidente em exercício representa uma ameaça a ela: “Bolsonaro já deixou claro o que ele quer para o Brasil: ele quer destruir todas as conquistas democráticas e sociais das últimas décadas”.

Ou seja, Lula não precisa só lutar pela democracia. Precisa, sobretudo, lutar contra Bolsonaro. Como ele vai fazer isso, não ficou bem claro. Criticar a política externa e a admiração de Bolsonaro ao ditador chileno Augusto Pinochet e ao líder da Hungria, Viktor Orbán, ou a submissão do Brasil a Trump, não me parece suficiente para motivar a votar no PT o eleitor que não quer nem Lula nem Bolsonaro – a maioria agora.

Compreendo que num jornal britânico ele não tenha querido entrar em temas mais espinhosos, como a venda a preço de banana de nossas principais estatais e do petróleo do pré-sal. E me pergunto: será que isso motivaria o eleitor indeciso?

Aliás, embora Lula tenha dito que “o PT está se preparando para retornar e governar”, ele parece descartar a possibilidade de ser o candidato a combater os atuais governantes. Alegou, na entrevista: “Em 2022, terei 77 anos. A igreja católica – com 2.000 anos de experiência – aposenta seus bispos aos 75 anos.” Sim, mas essa igreja se preocupa, há dois milênios, em preparar novos bispos. E o PT?

Paro por aqui, para não atrapalhar, com mais spoiler, os que querem ler a íntegra da reportagem, que se encontra AQUI no original.

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Por José de Souza Castro

Jornalista mineiro, desde 1972, com passagem – como repórter, redator, editor, chefe de reportagem ou chefe de redação – pelo Jornal do Brasil (16 anos), Estado de Minas (1), O Globo (2), Rádio Alvorada (8) e Hoje em Dia (1). É autor de vários livros e coautor do Blog da Kikacastro, ao lado da filha.

2 comentários

  1. Não vi o discurso de Lula no Congresso Nacional do PT, mas Kotscho leu e gostou muito. Parece que o que Lula deixou de dizer na entrevista ao The Guardian, ele disse no discurso. Trecho do Balaio do Kotscho, um dos blogs classificados pela Cris como favoritos aqui:

    “Li o discurso inteiro e posso garantir a vocês, com conhecimento de causa: esse discurso de estadista vai passar para a história como o mais contundente e lúcido já feito por Lula desde que surgiu na cena política brasileira como líder sindical, há mais de 40 anos.

    Em pouco mais de uma hora, Lula fez não só um perfeito diagnóstico da tragédia que estamos vivendo, desde o aborto do bolsonarismo, como também apontou caminhos para o partido e o país saírem desse pesadelo.

    Foi o primeiro discurso pensado e lido que Lula fez depois de sair da prisão, dando todos os sinais de para onde quer ir e como pretende fazer uma oposição dura ao governo de turno.

    Sem unir as forças democráticas para extirpar esse mal, não temos futuro. Só ele pode fazer isso.”

    Artigo completo aqui; https://www.balaiodokotscho.com.br/2019/11/23/lula-faz-discurso-historico-em-oposicao-ao-fascismo-e-devolve-a-esperanca/

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